Entra em vigor amanhã no Reino Unido a lei que obriga Boris Johnson a adiar o Brexit do último dia de outubro para o último de janeiro, se não aprovar um acordo de transição para a saída da União Europeia (UE) até o dia 19 de outubro (nem obtiver do Parlamento aval para o divórcio sem acordo). Ela afasta por enquanto o pior cenário, mas o espectro do Brexit sem acordo – “no deal” – continua a assombrar o Reino Unido, pelo menos até que as instituições britânicas deem um desfecho à novela.
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Os partidários mais aguerridos do Brexit argumentam que o divórcio sem acordo não seria catastrófico. Acusam os adversários de promover uma campanha de intimidação, o “Projeto Medo”. Um relatório do centro apartidário UK in a Changing Europe, divulgado na semana passada, revela, contudo, a irresponsabilidade de Boris ao empurrar o país rumo ao abismo do “no deal”.
“Nosso relatório deixa claro que a saída sem acordo trará consequências negativas significativas à economia britânica”, afirma Anand Menon, líder da equipe que produziu o documento. “Não marcará o fim do Brexit, apenas o início de novas negociações, bem mais difíceis que as testemunhadas até hoje.” Quem esperar do “no deal” um fim para a novela do Brexit ficará frustrado. “Seria só o começo.”
O relatório mostra que as principais consequências não se fariam sentir só no dia 1.º de novembro. Embora a imposição imediata de tarifas e controles alfandegários traga um choque, europeus e britânicos implementaram medidas para manter o fluxo de mercadorias. O sistema financeiro não entraria em colapso, nem haveria implosão das bolsas ou derretimento da libra.
Os problemas começariam depois. As medidas de mitigação, provisórias, não afastariam o risco de recessão, nem de ajustes prolongados. A previsão é a renda per capita cair até 9% em dez anos (ante até 5,5% com o acordo fechado por Theresa May). Novos acordos comerciais ao longo da próxima década teriam impacto ínfimo, inferior a 0,7 pontos porcentuais no PIB.
A melhor comparação para o “no deal” não é uma bomba nuclear, mas uma praga, cujo poder devastador se espalharia gradualmente por vários setores: segurança, saúde, indústrias automotiva e química, finanças, alfândegas e fronteiras, em especial a que separa Irlanda e Irlanda do Norte. A incerteza cercaria também a situação de europeus no Reino Unido e de britânicos na UE.
Polarização
Fanáticos manipulam redes sociais, diz estudo
Robôs e fanáticos distorcem o fluxo de informação nas redes sociais, revela um estudo publicado esta semana na revista Nature. Numa análise matemática de um jogo simulado entre 2.520 pessoas, divididas em dois partidos, pesquisadores americanos e britânicos verificaram que uns poucos fanáticos, estrategicamente situados na rede, podem induzir a vitória de um partido, mesmo quando ambos têm tamanhos iguais e quando todos os jogadores têm a mesma influência. Identificaram o mesmo fenômeno em debates online antes das eleições nos EUA, em parlamentos europeus e no Congresso americano.
Itália
O médico que reagiu a campanha antivacinas
Uma campanha mentirosa, sob as bênçãos do Movimento 5 Estrelas (M5S), reduziu o índice de vacinação contra sarampo na Itália a 85% em 2015. Em 2017, a doença atingiu mais de 5 mil italianos e matou 4. A vacina se tornou então obrigatória. A vacinação subiu para 87%, em 2016, para 92%, em 2017, e para 94%, em 2018. O médico Roberto Burioni, autor do best-seller Vacinas Não São Uma Opinião, acabou se tornando o rosto da guerra contra os negacionistas nas redes sociais. “Eu tentei mostrar como eles são burros, como o que eles falam é falso e sem sentido”, declarou Burioni.