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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Israel modera resposta contra o Irã, mas conflito segue sem solução

O Irã atingiu seu objetivo, de trocar a paciência pela deterrência estratégica. Israel também atingiu o seu, de retaliar sem perder a solidariedade americana e europeia

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Foto do author Lourival Sant'Anna

O ataque israelense ao Irã foi calibrado para não produzir escalada. Mas a continuidade do conflito na região foi reassegurada horas antes, com o veto americano à resolução no Conselho de Segurança da ONU que possibilitava o reconhecimento do Estado palestino.

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Três mísseis disparados por um avião israelense danificaram o sistema de radar da Base Aérea de Isfahan, que protege a instalação nuclear situada 100 km ao norte da cidade. O recado foi claro: com 1% dos 320 mísseis e drones lançados pelo Irã contra Israel no dia 13, os israelenses atingiram objetivo equivalente.

Os poucos projéteis iranianos que atravessaram o sistema antiaéreo israelense – 1% do total, segundo Israel -- danificaram a Base Aérea de Nevatim, de onde partiu o caça F-35 que bombardeou a embaixada iraniana em Damasco, no dia 1.°, matando comandantes da Guarda Revolucionária Islâmica.

Iranianos fazem passeata em apoio ao líder supremo do país, o aitolá Ali Khamenei, em Teerã, Irã  Foto: Abedin Taherkenareh/EFE

O Irã alegou que Israel atacou com drones, que causaram danos menores. Isso indica que o Irã não planeja escalar. O Irã atingiu seu objetivo, de trocar a paciência pela deterrência estratégica. Israel também atingiu o seu, de retaliar sem perder a solidariedade americana e europeia, como havia perdido depois dos ataques terroristas do Hamas, com o bombardeio indiscriminado à Faixa de Gaza.

O veto ao reconhecimento da Palestina foi parte do esforço americano de evitar escalada por parte de Israel. Dos 15 membros do Conselho, 12 votaram a favor, Reino Unido e Suíça se abstiveram e só os EUA votaram contra. Com isso, a proposta não pode ser submetida à Assembleia Geral da ONU, onde precisaria de dois terços dos votos, ou 129, para ser aprovada. Não haveria dificuldades: 139 dos 193 países membros já reconhecem o Estado palestino.

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“Os Estados Unidos continuam a apoiar fortemente uma solução de dois Estados”, justificou o vice-embaixador americano na ONU, Robert Wood. “Mas ela só virá da negociação direta entre as partes.”

A premissa de que o Estado Palestino seria resultado de negociações com Israel foi parte dos Acordos de Oslo, em 1993. Na época, Israel era governado pelo Partido Trabalhista, que aparentava desejar esse desfecho. O então primeiro-ministro Yitzhak Rabin foi morto em 1995 por ter firmado o acordo.

O assassino, Yigal Amir, um judeu de origem iemenita, que cumpre prisão perpétua, compartilha dos ideais de integrantes do atual governo, como os ministros das Finanças, Bezalel Smotrich, e da Segurança Pública, Itamar Ben-Gvir. Líderes dos colonos judeus na Cisjordânia, eles defendem a expulsão de todos os palestinos.

Um menino palestino observa um carro queimado na vila de Qusra, perto da cidade de Nablus, na Cisjordania  Foto: Majdi Mohammed/AP

Um ano depois do assassinato de Rabin, Binyamin Netanyahu se elegeu primeiro-ministro pela primeira vez, com a visão de que não é necessário trocar terra por paz – a premissa do acordo --, mas colocar a segurança acima da paz.

A desesperança dos palestinos cresceu e, com ele, grupos radicais e terroristas. Ao mesmo tempo, Israel seguia com a colonização dos territórios ocupados. Hoje, são 500 mil colonos judeus na Cisjordânia, 220 mil em Jerusalém Oriental e 20 mil nas Colinas do Golan, todos territórios ocupados por Israel desde 1967.  A Cisjordânia foi retalhada pelas colônias judaicas e o Estado Palestino, inviabilizado.

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Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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