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É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Nova presidente do Peru tem a ambivalência a seu favor; leia a coluna de Lourival Sant’Anna

Descrença dos peruanos na política levou Pedro Castillo ao poder, diante da frustração com os antecessores

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Atualização:

Pedro Castillo chegou à presidência do Peru prometendo justiça social. Acabou preso na quarta-feira, depois de tentar um golpe de Estado. Isso vale um estudo de caso.

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Todos os quatro presidentes peruanos desde 2001 e a líder da oposição, Keiko Fujimori, foram condenados à prisão por receber propina da Odebrecht, no âmbito da Lava Jato. Além disso, o Peru foi um dos países mais castigados pela pandemia, com 218 mil mortes numa população de 34 milhões.

Foi nesse contexto que os peruanos elegeram Castillo, líder sindical dos professores rurais, que ficou conhecido numa greve em 2018. A falta de experiência política foi vista como qualidade, diante da frustração com os políticos.

Dina Boluarte na sede do Palácio do Governo em Lima  Foto: Presidência do Peru via Reuters

O novo Congresso ficou dividido entre governo, oposição e um centro disposto a negociar com os dois lados. A inexperiência e talvez indisposição de Castillo para negociar, no entanto, pesaram.

O Peru tem um sistema misto de presidencialismo e parlamentarismo, no qual o Parlamento unicameral de 130 cadeiras pode destituir o presidente com 87 votos, e o presidente pode dissolver o Congresso e convocar novas eleições depois de dois votos consecutivos de desconfiança contra seu governo.

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Daí a instabilidade crônica, agravada pela inabilidade de Pedro Castillo. Ele trocou de ministros 57 vezes. Por outro lado, seu governo também parece ter mergulhado em outro problema endêmico: a corrupção. Até sua cunhada, Yenifer Paredes, foi condenada a 30 meses de prisão.

Castillo dissolveu o Parlamento com base na interpretação de que sua recusa em examinar uma moção de confiança no governo caracterizava um segundo voto de desconfiança. Mesmo que isso fosse verdadeiro, ele não poderia ter convocado Assembleia Constituinte, dissolvido também o Judiciário e declarado estado de exceção.

Forças Armadas

Tudo isso configurou um autogolpe. Ironicamente, Castillo foi levado para o presídio de segurança máxima que abriga apenas mais um preso: Alberto Fujimori, o inventor do autogolpe, em 1992. A diferença entre ambos é que Castillo não teve apoio das Forças Armadas.

As chances de sua vice, Dina Boluarte, não ter o mesmo destino de seus antecessores dependem de sua capacidade de negociar com o Congresso. O consultor Rodolfo Rojas me disse que ela deveria nomear ministros de direita para as áreas econômicas e de esquerda para as sociais.

Boluarte defendeu a luta armada durante a campanha, mas depois da eleição acumulou o cargo de ministra do Desenvolvimento Social, suavizou seu discurso e passou a criticar as posições do Peru Livre, o partido dela e do presidente, e acabou expulsa. Talvez a ambivalência possa ajudá-la agora.

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Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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