BOGOTÁ - O ministro da Fazenda da Colômbia, Alberto Carrasquilla, renunciou nesta segunda-feira, 3, um dia depois de o presidente Iván Duque pedir a retirada do polêmico projeto de lei de reforma tributária apresentando ao Congresso. A apresentação do projeto desencadeou uma série de violentos protestos nas ruas que deixaram ao menos 19 mortos.
"Minha continuidade no governo dificultaria a construção rápida e eficiente dos consensos necessários" para levar adiante outro projeto de reforma", afirmou Carrasquilla, em sua carta de renúncia a Duque.
A violência que se seguiu a cinco dias de protestos maciços contra a polêmica reforma tributária na Colômbia deixou também ao menos 800 feridos, enquanto as mobilizações continuavam nesta segunda-feira.
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/EFPRFJEQCZLSPKEO6AFKZZZ3UM.jpg?quality=80&auth=72caea7db74173cb89e02d38f5897ec27d04934d360ab11bb96f3941ae384a57&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/EFPRFJEQCZLSPKEO6AFKZZZ3UM.jpg?quality=80&auth=72caea7db74173cb89e02d38f5897ec27d04934d360ab11bb96f3941ae384a57&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/EFPRFJEQCZLSPKEO6AFKZZZ3UM.jpg?quality=80&auth=72caea7db74173cb89e02d38f5897ec27d04934d360ab11bb96f3941ae384a57&width=1200 1322w)
Segundo balanço da Defensoria do Povo (ombudsman), 18 civis e 1 policial morreram nas manifestações que começaram no dia 28 de abril em todo o país. Mais cedo, o balanço era de 17 mortos. Já o ministério da Defesa contabilizou 846 feridos, dos quais 306 civis.
O ministro da Defesa, Diego Molano, garantiu que os atos de violência foram "premeditados, organizados e financiados por grupos dissidentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia)" que se afastaram do acordo de paz assinado em 2016, e pelo ELN (Exército de Libertação Nacional), a última guerrilha reconhecida na Colômbia.
As autoridades prenderam 431 pessoas durante as dispersões e o governo ordenou o envio de militares para as cidades mais afetadas. ONGs e a oposição acusam a polícia de atirar em civis.
Pressionado pelas manifestações nas ruas, o presidente Duque ordenou no domingo a retirada da proposta que era debatida com ceticismo no Congresso, onde um amplo setor a rejeitava por punir a classe média e ser inadequada em meio à crise desencadeada pela pandemia de coronavírus.
O presidente propôs a elaboração de um novo projeto que descarta os principais pontos de discórdia: o aumento do ICMS sobre serviços e mercadorias e a ampliação da base de contribuintes com imposto de renda.
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/IIYEOLJRD5JQVEFC4M4OXM2JQQ.jpg?quality=80&auth=f519d229676ce2793548bf149c62427421428f052a756ee7f118882e5a27e3d1&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/IIYEOLJRD5JQVEFC4M4OXM2JQQ.jpg?quality=80&auth=f519d229676ce2793548bf149c62427421428f052a756ee7f118882e5a27e3d1&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/IIYEOLJRD5JQVEFC4M4OXM2JQQ.jpg?quality=80&auth=f519d229676ce2793548bf149c62427421428f052a756ee7f118882e5a27e3d1&width=1200 1322w)
Manifestações continuam
Embora em menor quantidade, nesta segunda-feira os manifestantes protestaram nas ruas de Bogotá, Medellín (noroeste), Cali (sudoeste) e Barranquilla (norte).
Os organizadores convocaram uma nova marcha para quarta-feira, apesar de já estarem em vigor nas principais capitais medidas que limitam a mobilidade para conter a terceira onda da pandemia.
O governo apresentou a reforma tributária ao Congresso em 15 de abril como uma medida para financiar os gastos públicos na quarta maior economia da América Latina.
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/5YULBEVRARKBLHRRJDEFBQCDZQ.jpg?quality=80&auth=b9ea429964a15d61456010e77cf18a62c333205390986cd48b8c607d50e4f98c&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/5YULBEVRARKBLHRRJDEFBQCDZQ.jpg?quality=80&auth=b9ea429964a15d61456010e77cf18a62c333205390986cd48b8c607d50e4f98c&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/5YULBEVRARKBLHRRJDEFBQCDZQ.jpg?quality=80&auth=b9ea429964a15d61456010e77cf18a62c333205390986cd48b8c607d50e4f98c&width=1200 1322w)
As críticas vieram tanto da oposição política quanto de seus aliados, e o descontentamento logo se espalhou pelas ruas.
Embora os dias de protesto tenham passado pacificamente, eles foram seguidos por vários distúrbios e confrontos com as forças públicas. Houve atos de vandalismo em 69 estações de transporte, 36 caixas eletrônicos, 94 bancos, 14 pedágios e 313 estabelecimentos comerciais.
Violência policial
O diretor para as Américas da ONG Human Rights Watch, José Miguel Vivanco, confirmou a morte de uma pessoa nas mãos de um policial em Cali, uma das cidades mais afetadas pelos distúrbios.
De acordo com a ONG Temblores, 940 casos de abusos policiais ocorreram nos últimos dias e são investigadas "as mortes de oito manifestantes supostamente agredidos por policiais".
Em setembro de 2020, 13 jovens morreram em manifestações contra a violência policial na Colômbia. Outros 75 sofreram ferimentos por balas, supostamente disparadas por soldados.
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/OCDTEH54IJO5NM4L6OEDQJA2SU.jpg?quality=80&auth=4238f766374a6a623f75267c221a6f807d6d940acd9a9a69c7b4ffe3da647dcc&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/OCDTEH54IJO5NM4L6OEDQJA2SU.jpg?quality=80&auth=4238f766374a6a623f75267c221a6f807d6d940acd9a9a69c7b4ffe3da647dcc&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/OCDTEH54IJO5NM4L6OEDQJA2SU.jpg?quality=80&auth=4238f766374a6a623f75267c221a6f807d6d940acd9a9a69c7b4ffe3da647dcc&width=1200 1322w)
Naquela época, a multidão protestava contra o assassinato de Javier Ordóñez (43 anos) pelas mãos de um uniformizado que o sujeitou a um castigo brutal. O governo atribui os atuais distúrbios a "organizações criminosas (que) tentaram se camuflar nos protestos".
Embora o acordo de paz tenha reduzido significativamente a violência, um conflito de seis décadas persiste na Colômbia que envolve dissidentes das Farc, rebeldes do ELN e gangues de tráfico de drogas de origem paramilitar.
Contra Duque
O projeto de reforma tributária de Duque visava arrecadar cerca de US$ 6,3 bilhões entre 2022 e 2031, para resgatar a economia.
Em seu pior desempenho em meio século, o Produto Interno Bruto (PIB) do país despencou 6,8% em 2020 e o desemprego subiu para 16,8% em março. Quase metade dos 50 milhões de habitantes está no setor informal e a pobreza atinge 42,5% da população.
A iniciativa gerou inquietação contra o governo. Desde 2019 o chamado Comitê Nacional de Desemprego tem convocado inúmeras mobilizações para pedir a Duque uma mudança de rumo. “As pessoas nas ruas estão exigindo muito mais do que a retirada da reforma tributária”, disseram os líderes da manifestação em um comunicado.
![](https://www.estadao.com.br/resizer/v2/FOJA6O2X75I35LKV4DGTFXY4WM.jpg?quality=80&auth=e27222baeb4694a14879f250d478c28ebf058bca8fe24ef33bdb92ff9d5841a0&width=380 768w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/FOJA6O2X75I35LKV4DGTFXY4WM.jpg?quality=80&auth=e27222baeb4694a14879f250d478c28ebf058bca8fe24ef33bdb92ff9d5841a0&width=768 1024w, https://www.estadao.com.br/resizer/v2/FOJA6O2X75I35LKV4DGTFXY4WM.jpg?quality=80&auth=e27222baeb4694a14879f250d478c28ebf058bca8fe24ef33bdb92ff9d5841a0&width=1200 1322w)
Com índices de aprovação em vermelho (33%), Duque reclama do "vandalismo" que irrompeu nas ruas e dos protestos em meio a um pico mortal da pandemia.
A Colômbia é o terceiro país da América Latina com o maior número de infecções por covid-19 (2,8 milhões), atrás do Brasil e da Argentina. Em termos de mortes (74.700), só é superado na região pelo Brasil e pelo México. Em proporção à sua população, é o quarto com mais mortes e o sexto com o maior número de infectados no continente./AFP e EFE