Ministro ucraniano usa táticas digitais para combater a Rússia

Mykhailo Fedorov, jovem membro do gabinete de governo, transforma mídia social e criptomoeda em armas modernas

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Por Adam Satariano
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4 min de leitura

THE NEW YORK TIMES - Quando a guerra começou, em fevereiro, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, recorreu ao seu vice-premiê, Mykhailo Fedorov, para um papel fundamental. Fedorov, de 31 anos, o membro mais jovem do gabinete, assumiu o comando de uma linha de defesa alternativa contra os russos.

Imediatamente, ele começou uma campanha para obter apoio de multinacionais para isolar a Rússia da economia mundial e cortar o país da internet global, incluindo tudo, desde iPhones e Playstations a transferências da Western Union e do PayPal.

Mykhailo Fedorov transforma mídia social e criptomoeda em armas modernas. Foto: Valentyn Oqirenko/Reuters

Para isolar Moscou, Fedorov usou uma mistura de mídias sociais, criptomoedas e outras ferramentas digitais. No Twitter, ele pressionou Apple, Google, Netflix, Intel e PayPal a suspenderem os negócios na Rússia. O vice-premiê formou um grupo de hackers voluntários para causar estragos em sites e serviços online russos.

Seus assessores também criaram um fundo de criptomoedas que arrecadou mais de US$ 60 milhões para os militares ucranianos. O trabalho fez de Fedorov uma das armas mais visíveis de Zelenski, empregando tecnologia e finanças como armas de guerra modernas.

Isolamento

Agora, ele está criando um manual para conflitos militares que mostra como um país desarmado pode usar internet, criptomoedas, ativismo digital e postagens no Twitter para conter forças estrangeiras. Em sua primeira entrevista desde que a invasão começou, Fedorov disse que seu objetivo é criar um “bloqueio digital” e tornar a vida tão desagradável para os russos que eles comecem a questionar a guerra.

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Ele elogiou as empresas que se retiraram da Rússia, mas disse que Apple, Google e outras companhias podem ir mais longe e cortar completamente suas lojas de aplicativos no país. “Um bloqueio tecnológico e empresarial é um componente crucial para parar a agressão”, disse.

Falando por videoconferência de um local não revelado ao redor de Kiev, Fedorov descartou as críticas de que suas ações alienam a população das cidades, a mais propensa a se opor ao conflito. “Enquanto os russos ficarem em silêncio, serão cúmplices da agressão e do assassinato de nosso povo”, afirmou.

Debandada

O trabalho de Fedorov não é a única razão pela qual empresas multinacionais como Meta e McDonald’s se retiraram da Rússia, com o custo humano da guerra provocando horror e indignação. As sanções econômicas dos Estados Unidos e União Europeia também têm desempenhado um papel central no isolamento da Rússia.

Peter Singer, professor do Center on the Future of War, da Universidade Estadual do Arizona, nos EUA, disse que Fedorov foi “eficaz” ao pedir às empresas que repensassem suas conexões com a Rússia. “Nenhuma celebridade, muito menos país, foi mais eficaz do que a Ucrânia em chamar a responsabilidade das marcas corporativas e obrigá-las a agir moralmente”, disse. “Se existe a ‘cultura do cancelamento’, os ucranianos podem dizer que a aperfeiçoaram na guerra.”

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No entanto, muito mais poderia ser feito, segundo ele. Fedorov diz que Apple e Google deveriam abandonar suas lojas de aplicativos na Rússia, já que softwares feitos por empresas como a SAP estão sendo usados por muitas empresas russas. Enquanto isso, o Kremlin vai se isolando do mundo. Nesta semana, Twitter e Facebook foram bloqueados. Na sexta-feira, o acesso ao Instagram foi limitado e a Meta foi designada uma “organização extremista”.

Alguns grupos da sociedade civil na Rússia disseram que as táticas de Fedorov têm consequências não intencionais. “As sanções que interrompem o acesso do povo russo à informação apenas fortalecem o regime de Putin”, afirmou a Sociedade de Proteção à Internet, um grupo russo de defesa da liberdade na rede.

Fedorov diz que esta é a única maneira de fazer o povo russo entrar em ação. Ele elogiou o trabalho dos hackers que apoiam a Ucrânia e coordenam com Kiev ciberataques contra alvos da Rússia. “Depois que os mísseis de cruzeiro começaram a voar sobre a minha casa e as coisas começaram a explodir, decidimos que era hora de contra-atacar”, disse.

”O trabalho de Fedorov é um exemplo da atitude da Ucrânia contra um Exército muito maior”, disse Max Chernikov, engenheiro de software que apoia o grupo de voluntários conhecido como “Exército de TI da Ucrânia”. “Ele age como todo ucraniano, indo sempre além do seu limite.”

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