WASHINGTON - Os países ricos estão a caminho de ter mais de um bilhão de doses de vacinas contra a covid-19 a mais do que precisam, deixando as nações mais pobres lutando para obter sobras de suprimentos enquanto o mundo busca conter a pandemia de coronavírus.
Em uma análise das ofertas atuais de fornecimento de vacinas feita pela ONG ONE Campaign, instituição global que batalha pela eliminação da pobreza extrema e pela prevenção de doenças, países ricos como os Estados Unidos e Reino Unido deveriam compartilhar as doses em excesso para “sobrecarregar” uma resposta totalmente global à pandemia.
O relatório do grupo afirma que não fazer isso corresponde a negar a bilhões de pessoas a proteção essencial contra o vírus causador da covid-19 e pode, provavelmente, prolongar a pandemia.
O relatório analisou especificamente os contratos com os cinco principais fabricantes de vacinas contra a covid-19: Pfizer-BioNTech, Moderna, Oxford-AstraZeneca, Johnson & Johnson e Novavax.
O relatório mostra que, até agora, os EUA, a União Europeia, o Reino Unido, a Austrália, o Canadá e o Japão garantiram mais de 3 bilhões de doses - mais de um bilhão a mais do que os 2,06 bilhões necessários para dar duas doses a suas populações inteiras.
“Este enorme excesso é a personificação do nacionalismo da vacina”, disse Jenny Ottenhoff, diretora sênior de política da ONE Campaign. “Os países ricos, compreensivelmente, limitaram suas apostas em vacinas no início da pandemia, mas com essas apostas dando frutos, uma correção maciça de curso é necessária se quisermos proteger bilhões de pessoas em todo o mundo”, acrescentou.
A análise descobriu que, junto com outros suprimentos de vacinas contra a covid-19 adquiridos pelo plano global de compartilhamento de vacinas Covax e em acordos bilaterais, as doses excedentes dos países ricos ajudariam em muito a proteger as pessoas vulneráveis nos países mais pobres. Isso reduziria significativamente o risco de mortes por covid-19, disse, além de limitar as chances de novas variantes de vírus emergirem e acelerar o fim da pandemia.
O Covax tem como objetivo fornecer vacinas anticovid a 20% da população em cerca de 200 países e territórios participantes este ano. Inclui, sobretudo, um mecanismo de financiamento que permite que "92 economias de rendas baixa e média" tenham acesso a milhões de doses de vacinas.
Embora muitos países já tenham lançado - com sucesso variável - campanhas de vacinação em massa, cresce a preocupação com os países em franca desvantagem, principalmente no continente africano.
Ajuda
Ddurante a reunião do G-7 nesta sexta-feira, realizada por videoconferência – a primeira com a participação do presidente americano, Joe Biden –, os líderes globais se comprometeram a retomar ao multilateralismo, ignorado pelo governo de Donald Trump, e disseram que vão compartilhar vacinas com os países mais pobres.
O G-7 anunciou que duplicará seu apoio coletivo ao imunizante contra a covid com ajuda de até US$ 7,5 bilhões (R$ 40,5 bilhões), principalmente por meio do programa Covax, da ONU, dirigido pela OMS, organização à qual os EUA acabaram de retornar depois de Trump ter anunciado a saída no ano passado.
Biden se comprometeu a distribuir US$ 4 bilhões (R$ 21,6 bilhões) em financiamento dos Estados Unidos para o programa Covax, ao qual Trump rejeitou dar apoio. Além dos EUA, a União Europeia (UE) duplicou sua contribuição para US$ 1,2 bilhão (R$ 6,48 bilhões).
A Alemanha, por sua vez, anunciou que dará mais US$ 1,8 bilhão (R$ 9,7 bilhões) à luta mundial contra a pandemia. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também anunciou um aporte de US$ 120 milhões (R$ 648 milhões) para apoiar a campanha de vacinação contra a covid-19 na África. Esta contribuição adicional será financiada pelo orçamento da UE.
Doações
No entanto, os líderes globais, sob pressão de suas campanhas de vacinação, não quiseram dizer exatamente a quantidade de vacinas que eles estão dispostos a compartilhar com o mundo em desenvolvimento, ou quando.
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse após a reunião virtual do G-7 que a distribuição equânime de vacinas é “uma questão elementar de justiça”. Mas ela acrescentou: “Nenhum compromisso de vacinação na Alemanha estará em perigo”.
O presidente francês, Emmanuel Macron, repetiu hoje que seria “insustentável” que os países pobres sejam negligenciados e sugeriu que os países desenvolvidos da Europa e os EUA enviem até 5% de seus suprimentos atuais de vacina contra a covid-19 para os países mais pobres o mais rápido possível. / REUTERS, AP e AFP
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