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Nova York aposta em contraceptivos para frear população de ratos, estimada em cerca de três milhões

Projeto de lei sugere testar pastilhas de sal e gordura ‘mais gostosas que pizza’ para esterilizar roedores; contraceptivos seriam combinados ao armazenamento adequado do lixo

Por Emma G. Fitzsimmons (The New York Times)
Atualização:

THE NEW YORK TIMES - Por quase 60 anos, os líderes da cidade de Nova York entenderam que não poderiam simplesmente exterminar os ratos para resolver o problema de infestação da cidade. Os ratos são grandes reprodutores, com um casal tendo potencial de produzir até 15 mil descendentes em um ano. As autoridades da cidade tentaram repetidamente dar contraceptivos aos roedores, mas os ratos venceram.

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Apesar disso, haverá uma nova tentativa. Citando avanços no controle de natalidade de roedores e armazenamento de lixo, o Conselho Municipal apresentou um novo projeto de lei para demandar que o departamento de saúde da cidade implante em dois bairros pastilhas de sal que tornam ratos machos e fêmeas inférteis, como parte de um projeto piloto. Isso seria feito dentro do que são conhecidas como zonas de mitigação de ratos, que cobrem pelo menos 10 quarteirões da cidade.

O autor do projeto de lei, Shaun Abreu, integrante do conselho do norte de Manhattan, prevê que essa tentativa seria mais eficaz do que os esforços anteriores, particularmente quando combinado com o esforço mais amplo da cidade para combater os ratos, que envolve colocar lixo em contêineres e expandir a compostagem. “Acreditamos que precisamos adotar uma abordagem de choque e medo ao problema dos ratos, lançando tudo o que temos”, disse.

Há outro benefício potencial: os contraceptivos provavelmente não irão prejudicar a vida selvagem, como ocorreu com a adorada coruja Flaco, cuja morte foi atribuída em parte ao veneno para ratos. “As aves de rapina não deveriam ter que comer ratos que contêm rodenticida”, disse Abreu.

Abreu tem trabalhado com a cientista Loretta Mayer, criadora do ContraPest, um contraceptivo para ratos que mostrou resultados promissores quando usado no metrô. A isca contém compostos ativos que têm como alvo a função ovariana em fêmeas e levam à infertilidade em machos, interrompendo a produção de espermatozoides.

Loretta, que agora dirige uma organização sem fins lucrativos dedicada ao controle humanitário da população animal, disse em uma entrevista que as pastilhas são cheias de gordura e sal e são tão deliciosas que os ratos as preferiam em vez de ficar vasculhando o lixo. “É melhor que pizza”, afirmou. Ela disse que o maior desafio seria escalar para ter pastilhas suficientes para distribuir os contraceptivos de forma mais ampla. Segundo ela, o custo é baixo, cerca de US$ 5 por cerca de 450 gramas.

A grande questão é se a cidade pode finalmente acertar no controle de natalidade dos ratos. Em 1967, o governador Nelson Rockefeller anunciou um plano para dar contraceptivos aos ratos, dissolvendo uma forma de estrogênio usada em pílulas anticoncepcionais humanas em uma solução de óleo vegetal e mergulhando carne e grãos nela.

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A Autoridade de Transporte Metropolitano tentou resolver o problema uma década atrás colocando contraceptivos para ratos no metrô. O Bryant Park, um dos espaços públicos mais movimentados do mundo, tentou a mesma coisa sem sucesso no ano passado.

Rato próximo a lixo em uma estação de metrô de Nova York; população de ratos na cidade é estimada em três milhões.  Foto: Lucia Buricelli/The New York Times

Outras táticas foram usadas contra os ratos - veneno, armadilhas, gelo seco, afogamentos macabros, visar os chamados reservatórios de ratos e uma iniciativa de conscientização sobre ratos para envolver membros do público nos esforços de erradicação - no que às vezes pareceu a perseguição do Coiote contra o Papa-Léguas. De alguma forma, os ratos sempre vencem.

Embora seja difícil estimar com precisão quantos ratos existem em Nova York, uma empresa de controle de pragas afirma que eles podem chegar a 3 milhões.

Joseph J. Lhota, que serviu como o “czar dos ratos” da cidade sob a administração do ex-prefeito Rudy Giuliani, elogiou o novo projeto de lei. Ele chegou a dizer que eliminar os roedores era uma tarefa sisifiana - termo que remete a Sísifo, personagem da mitologia grega condenado a empurrar eternamente uma pedra morro acima, que sempre rolava de volta antes de alcançar o topo. Para Lhota, os contraceptivos devem fazer parte da solução. “Nós vamos erradicar os ratos? Eu não acho,” afirmou. “Mas você deve fazer tudo o que puder para reduzir o tamanho da população.”

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O prefeito Eric Adams fez do combate aos ratos uma de suas principais iniciativas. Ele nomeou sua própria czar dos ratos, Kathleen Corradi, e começou um plano ambicioso para mover o lixo de sacos fétidos nas ruas para contêineres ao estilo europeu.

Liz Garcia, uma porta-voz do prefeito, informou em um comunicado que seu gabinete revisaria a legislação. A administração “adotou uma abordagem de todo o governo” para combater os ratos, disse ela. “Continuaremos a trabalhar com todos os nossos parceiros no governo em estratégias de redução de ratos”, acrescentou.

Outras cidades tentaram contraceptivos para ratos, incluindo Boston, Massachusetts; Colombus, Ohio; e Hartford, Connecticut. Abreu disse que as tentativas anteriores na cidade de Nova York não tiveram sucesso porque as autoridades não foram persistentes o suficiente. Ou usaram isca líquida em vez de pastilhas, afirmou, e não a combinaram com o armazenamento adequado do lixo, o que dá aos ratos menos alternativas culinárias. Abreu tornou-se um evangelista da “revolução do lixo” do prefeito e seu distrito é onde está ocorrendo o teste da cidade para uso de contêineres de lixo.

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Alguns grupos de bem-estar animal apoiam o seu projeto de lei, argumentando que os contraceptivos são uma forma mais humana de lidar com os ratos e ajudarão outros animais em posições mais elevadas na cadeia alimentar.

A morte da coruja Flaco, que foi assunto em Nova York depois de escapar do Zoológico do Central Park, foi recebida com uma onda de tristeza. A morte ocorreu em fevereiro, um ano após a ave escapar. A coruja morreu depois de aparentemente atingir um prédio no Upper West Side, mas uma necropsia descobriu que Flaco tinha uma quantidade potencialmente fatal de veneno de rato e vírus de pombo em seu sistema.

“Honestamente, foi necessária a morte de Flaco para que as pessoas realmente prestassem atenção a esta questão e ao fato de que a sua trágica morte poderia ter sido evitada”, disse Kathy Nizzari, presidente da Lights Out Coalition, um grupo dedicado à proteção da vida selvagem. “Por que o governo está gastando milhões de dólares em veneno quando ele nem funciona?”

Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.

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