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Jennifer Grey, atriz de ‘Dirty Dancing’, mostra que assumiu controle da própria vida

Aos 62 anos, ela fala sobre carreira, seu ‘apocalipse do nariz’ e como experimentou a sua trajetória de altos e baixos

Por Elisabeth Egan
Atualização:

Jennifer Grey chegou para um café da manhã no Peninsula Hotel, em Beverly Hills, arrependida do estado de sua camisa e de seu cabelo (ambos estavam impecáveis). Antes mesmo que o garçom servisse o café, a estrela de Dirty Dancing – Ritmo Quente fez uma pergunta que poderia perfeitamente ser o subtítulo de seu livro de memórias Out of the Corner (Fora do canto, em tradução livre): “Por que acho que tudo tem de ser perfeito?”

A atriz Jennifer Grey fala de sua autobiografia 'Out of the Corner'.  Foto: Yudi Ela/The New York Times

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Alguns atores ficam tímidos na hora de escrever uma autobiografia, forçando os leitores a explorar memórias de infância anódinas e revelações não tão interessantes sobre a fama antes de “abrir o quimono” (termo usado por Grey) em relação aos assuntos pelos quais são mais conhecidos. Grey não é assim na vida real – ela é aberta, calorosa e está sempre pronta para se conectar – ou em seu livro, que começa com um prólogo de 17 páginas sobre seu nariz e as cirurgias plásticas que atrapalharam sua carreira e (quase) lhe roubaram a identidade.

Aos 62 anos, Grey está pronta para assumir o controle de uma narrativa que já é domínio público há tanto tempo que alcançou status mitológico. Ainda em 2007, o The New York Times se referiu à “síndrome de Jennifer Grey” – o fenômeno da cirurgia plástica extremamente agressiva –, como se todos fizessem parte da piada. Durante quanto tempo uma mulher deve pagar por uma decisão pessoal? Por que qualquer ser humano deve ser resumido a uma piada? Antes de nos aprofundarmos no significado do termo “schnozzageddon”, usado por Grey, que poderia ser traduzido como o “apocalipse do nariz”, vamos voltar um pouco para ajudar os leitores mais jovens que não se lembram do significado daquele evento.

Em 1986, Grey conseguiu um papel de destaque como “Baby” Houseman em Dirty Dancing – Ritmo Quente, filme sobre uma adolescente desajeitada que se apaixona por um professor de dança bonitão (interpretado por Patrick Swayze) durante as férias em um resort chamado Kellerman’s. Com um orçamento de US$ 6 milhões, o filme arrecadou US$ 214 milhões e, como o editor de cinema do Times escreveu no décimo aniversário do lançamento, “rapidamente se tornou um fenômeno que ninguém ligado a ele entendeu muito bem na época e que, na verdade, até hoje ninguém entende”.

A frase de Swayze, “Ninguém põe Baby no canto”, tornou-se um grito de guerra para os descontentes da Geração X – que, ao que parece, estavam tão sedentos por rumba, romance e nostalgia quanto qualquer outra geração. Aos 27 anos, tendo recebido US$ 50 mil por seu trabalho, Grey se tornou um nome conhecido em toda parte. “Depois de Dirty Dancing, eu me tornei a queridinha da América e todos acharam que isso faria com que todas as minhas esperanças e sonhos se tornassem realidade. Mas não foi bem assim. Por um lado, não parecia haver muitos papéis que se parecessem comigo. Meu ‘problema’ não era realmente um problema para mim, mas, como parecia ser para outras pessoas e parecia que não desapareceria tão cedo, acabou se tornando um problema meu. Era tão claro quanto o nariz no rosto.”

Seguindo o conselho de sua mãe e de três cirurgiões plásticos – um dos quais se lembrava de ter assistido a Dirty Dancing e se perguntado: “Por que aquela garota não faz uma plástica no nariz?” –, Grey acabou fazendo duas cirurgias para “afinar” sua probóscide. O segundo procedimento, que visava corrigir uma irregularidade causada pelo primeiro, foi mais agressivo do que ela imaginava. Seu novo nariz ficou “truncado e minúsculo”. Ela ficou irreconhecível para quem já a conhecia havia anos. Os fotógrafos que a tinham perseguido no mês anterior nem sequer pegavam a câmera quando ela passava pelo tapete vermelho.

Ela se lembra de uma funcionária de companhia aérea que, ao olhar para a sua carteira de motorista, disse: “Ah, Jennifer Grey, como a atriz.” Quando ela respondeu: “Na verdade, sou eu”, a funcionária retrucou: “Já assisti ao Dirty Dancing uma dúzia de vezes. Conheço a Jennifer Grey. E você não é ela.” “De um dia para o outro, perdi minha identidade e minha carreira”, escreve ela.

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Em 2010, depois de muitos anos trabalhando com dublagem, algumas participações em Friends, Grey’s Anatomy e no seriado de comédia It’s Like... You Know, que durou pouco tempo e no qual ela interpretou uma versão fictícia de si mesma, Grey apareceu no reality Dancing With the Stars e foi a vencedora. Foi quando a ideia de Out of the Corner começou a surgir.

Grey tinha escrito, de forma “desorganizada e incompatível”, vários diários entre os 14 e os 41 anos, de modo que havia muito material a ser trabalhado: “Comecei a olhar para os pontos altos e baixos e a maneira como me adaptei às mudanças dramáticas. Eu mesma escrevi cada palavra desse livro, o que sei que é incomum.”

Out of the Corner não aborda apenas arrependimento, sobrevivência ou reinvenção. É uma história de amadurecimento engraçada, desonesta e, muitas vezes, comovente. Há aventuras com Madonna, Johnny Depp e Tracy Pollan ao lado de relances de sua juventude selvagem (com cocaína, sexo e o Studio 54 – “Embora ninguém que seja legal o chamasse assim; era Studio ou 54″).

Há também revelações sobre seu tumultuado romance fora das telas com Matthew Broderick, durante as filmagens de Curtindo a Vida Adoidado, no qual ela interpretou a irmã mal-humorada do protagonista. Ela se lembra que ele disse, na véspera de seu teste para Dirty Dancing: “Não tem como você conseguir. Eles estão testando todo mundo para esse papel.” Pouco antes da estreia do filme, Broderick e Grey sofreram um acidente de carro na Irlanda que resultou em duas mortes. Ele dirigia um dos carros e sofreu ferimentos graves. Trinta anos depois, por ter batido a cabeça com força, ela precisou se submeter a uma cirurgia na coluna. Mas, em paralelo, as notícias sobre o acidente – e perguntas – a perseguiram na esteira de seu maior sucesso. Bryant Gumbel levantou a questão durante um segmento do Today Show que deveria ser sobre Dirty Dancing. “A tragédia mais traumática e a experiência mais impactante da minha vida ficaram espremidas como um sanduíche.” Grey ergueu as mãos e bateu uma contra a outra com força: “Elas estão inextricavelmente ligadas. Não consegui curtir o prazer daquele momento, aquela chegada surpresa. Não parecia ser a coisa que eu tinha aguardado durante toda a minha vida.”


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Grey espera que os leitores que se sentem vitimizados ou travados se inspirem em sua história: “Como a vitamina Flintstone: parece uma bala, mas tem algo bom lá dentro. Sou uma pessoa associada à frase ‘Ninguém põe Baby no canto’. Se eu morresse, é isso que escreveriam na minha lápide. No passado, parecia que eu havia sido posta de lado. Mas, assim que comecei a escrever, percebi que muitas coisas foram escolhidas por mim mesma. A verdade é que, quando eu tinha tanta coisa boa, eu não me sentia nem um pouco livre como me sinto hoje.”

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