O resultado da eleição presidencial de 2020 foi o que se definiu mais vagarosamente desde 2000. As restrições anticovid, a mudança massiva para a votação antecipada, o alto comparecimento e as margens apertadas em Estados indefinidos ocasionaram quatro dias se ansiedade durante a contagem dos votos, unhas roídas e atualizações incessantes nas páginas do Twitter até que Joe Biden fosse enfim declarado presidente-eleito.
Neste ano, dada a grande votação antecipada, a expectativa de muitos é que a contagem dos votos seja novamente demorada. Autoridades insistem que a apuração será mais rápida. E apesar da disputa ser apertada — a seis dias da eleição o modelo de previsão de resultados da Economist projeta um empate — há uma boa chance tanto de Donald Trump quanto de Kamala Harris alcançar uma vitória decisiva, em razão dos erros normais das pesquisas. Os resultados poderão ser conhecidos poucas horas depois do encerramento da votação — como ocorreu em sete das dez eleições mais recentes.
Os primeiros Estados a concluir a votação serão os da Costa Leste. Seis Estados, incluindo o importante Estado indefinido da Geórgia, encerrarão a votação às 19h da Zona de Tempo Oriental (21h em Brasília). Às 20h, outros 19 Estados terão se juntado, e uma torrente de informações será publicada. Recomendamos cautela aos leitores: pouca substância será revelada nesse estágio da noite, a não ser que o resultado seja alguma lavada.
Pesquisas de boca de urna serão publicadas nos Estados que já tiverem completado a apuração. Ao contrário das sondagens desse tipo em muitos países, os dados não incluirão estimativas sobre a fatia do eleitorado conquistada pelos candidatos. Em vez disso, incluirão informações sobre a composição do eleitorado, suas visões políticas e os principais assuntos que lhe interessa — nada disso revelando quem ganhou.

Em alguns Estados que algum dos candidatos for o preferido, o resultado da eleição será definido quase imediatamente. A não ser que haja uma grande reviravolta ou alguma tendência marcante, essas definições poderão não dizer muito sobre o resultado geral da votação. Um dos primeiros Estados a se definir em 2020 foi Vermont, no qual Harris deverá vencer de forma avassaladora. A ausência de alguma definição pode dizer mais: o resultado em Virgínia não ser anunciado logo após o encerramento da votação poderá indicar que a noite de Trump está sendo boa. O inverso é verdadeiro em Ohio.
As primeiras totalizações de votos apurados também não deverão revelar muita coisa. Em muitos Estados, nos quais a apuração em grandes condados urbanos que costumam votar nos democratas é lenta, os resultados preliminares parecerão tender mais aos republicanos do que na contagem final. Em 2020, os votos pelo correio foram os mais demorados de apurar, o que intensificou esse efeito em alguns Estados (inclinados para os democratas). Daí decorre o fenômeno da “mudança democrata”: uma apuração com os republicanos inicialmente à frente mas acabando derrotados pelos votos dos democratas, alimentando falsas alegações de fraude eleitoral.
Então quais serão os primeiros indicadores sólidos na noite da eleição? Uma métrica a se observar é a mudança entre os resultados nos condados em 2020 e 2024 (essa informação será publicada nas páginas com os resultados de cada Estado em economist.com). Ao comparar condados que completaram suas apurações, poderemos mensurar a mudança no apoio para cada candidato.
Eleições nos EUA
Por exemplo, em um Estado importante como a Pensilvânia — com 67 condados — os resultados preliminares poderão vir de um conjunto de condados em que Biden venceu por 10 pontos porcentuais de vantagem em 2020. Suponhamos que esses condados mostrem Harris vencendo por 5 pontos. Se essa mudança se replicasse em todo o Estado, Trump estaria a caminho de ganhar na Pensilvânia como um todo por 4 pontos (Biden venceu por lá por 1 ponto em 2020).
Quando os primeiros Estados concluírem suas apurações, teremos mais pistas a respeito das maneiras que a eleição se desenrolou. A Flórida terminou a contagem antes da 0h da Zona de Tempo Oriental em 2020. Apesar da disputa no Estado não tender a ser competitiva (nossa previsão dá a Harris 5 chances em 100 de uma reversão), seus resultados ainda poderiam indicar quem estará em vantagem. Usando simulações do nosso modelo podemos ver como os resultados na Flórida se relacionam com as chances de Harris vencer nacionalmente. Se perder a Flórida por 7 pontos porcentuais, ela terá uma chance em duas de conquistar a presidência. Se perder no Estado por mais de 11 pontos, suas chances de ganhar a disputa baixam para menos de uma em cinco.
Essas duas métricas são imperfeitas. Os primeiros condados e Estados a completar sua apuração podem não ser representativos. Em 2020, a Flórida moveu-se 2 pontos na direção de Trump enquanto o país como um todo pendeu 2 pontos para Biden.
No nosso modelo de previsão, Harris terá 93% de chance de se tornar presidente se vencer na Pensilvânia, por exemplo, e Trump terá 95% de chance se vencer em Michigan.
O resultado final provavelmente dependerá dos sete Estados indefinidos. No nosso modelo de previsão, Harris terá 93% de chance de se tornar presidente se vencer na Pensilvânia, por exemplo, e Trump terá 95% de chance se vencer em Michigan. Entre os sete, a apuração poderá ser mais rápida na Geórgia e no Michigan. A Geórgia determinou que os resultados da votação antecipada (cerca de 70% do total dos votos no Estado) devem ser anunciados até as 20h da Zona de Tempo Oriental. O Michigan mudou a lei para permitir que os votos antecipados sejam apurados antes do dia da eleição, acelerando sua contagem em relação a 2020. A Carolina do Norte também é tradicionalmente rápida no processamento anterior à eleição dos votos antecipados, mas pode ter problemas em razão do furacão Helene.
Outros Estados podem ser mais lentos. A Pensilvânia, provavelmente o Estado mais determinante segundo nosso modelo de previsão, só começará a processar milhões de cédulas postais na manhã do dia da eleição. Arizona e Nevada, no Oeste, encerrarão a votação mais tarde e demorarão ainda mais para contar seus votos pelo correio, que são populares em ambos os Estados. Nevada aceita e conta votos que chegam depois do dia da eleição (mas que dificilmente seriam suficientes para mudar o resultado no Estado).
O momento da definição do resultado final dependerá de quão apertada a eleição estiver. Em 2000, quando a presidência foi definida por pouco mais de 500 votos, na Flórida, demorou semanas para o resultado ser determinado. Em 1984, quando Ronald Reagan ganhou de lavada, o resultado foi definido às 20h da Zona de Tempo Oriental, enquanto eleitores da Costa Oeste ainda depositavam seus votos. Uma vitória decisiva para qualquer dos candidatos reduziria as oportunidades de litígios falaciosos e negacionismo eleitoral — passatempos de Trump capazes de atrasar o anúncio do resultado final.
De olho no prêmio
O cenário mediano do nosso modelo de previsão coloca Harris ganhando o crucial 270.º voto no Colégio Eleitoral por menos de 0,5 ponto porcentual. Mas há também uma chance substancial de ocorrer um erro nas pesquisas numa escala capaz de dar a qualquer dos candidatos uma vitória confortável. Em 1 a cada 6 cenários do nosso modelo, a margem de vantagem no Estado é maior que 5 pontos — equiparando-se à da reeleição de Barack Obama, em 2012. Se for acontecer algo assim, nós provavelmente teremos uma indicação clara no início da noite (a eleição de 2012 foi definida antes da 0h da Zona de Tempo Oriental). Em 3 a cada 4 cenários projetados a margem de vitória no Estado é maior que a de Biden em 2020.
O risco da noite da eleição se tornar a semana ou o mês de eleição ainda é significativo. Se a definição da vitória depender de uns poucos milhares de votos no Wisconsin ou na Pensilvânia — a previsão central do nosso modelo — a coisa poderia tardar semanas em se resolver. Uma interferência na eleição poderia prolongar ainda mais a espera. Mas há também boa chance de o resultado ser conhecido antes do que muitos esperam. Observadores eleitorais, ajustem suas horas de sono em conformidade. /TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO