PUBLICIDADE

Os Estados Unidos e seus aliados estão entrando em um período de incerteza nuclear

E isso significa que o ato de equilíbrio está ficando mais difícil

Por The Economist

Dissuasão é fácil ou difícil? Essa pergunta simples figura no centro da estratégia nuclear há quase 80 anos. Para Bernard Brodie, um teorista precoce, a bomba atômica criou um equilíbrio estável de terror. O número preciso e a variedade das armas era menos importante que o fato de elas existirem. Seus colegas Herman Kahn e Albert Wohlstetter discordavam. O equilíbrio era “precário”, retrucaram eles, e exigia uma atenção cuidadosa e contínua a métricas como o dano relativo que cada lado sofreria em uma troca de fogo nuclear e portanto em função do tamanho relativo e da qualidade dos respectivos arsenais.

PUBLICIDADE

Esse debate está voltando à tona nos Estados Unidos. Um número crescente de pensadores influentes acredita que a dissuasão está ficando mais difícil e poderia ficar precária. A rivalidade entre grandes potências cresceu, o que torna mais possível uma intensificação da competição nuclear. Acordos de controle de armas se esgarçaram. Em meio a crescentes tensões que ajudaram a trazer atenção renovada ao impacto mundialmente transformador das armas nucleares, o espectro de Donald Trump espreita. Seu retorno à presidência poderia ocasionar uma perturbação nas alianças americanas que faz aliados na Ásia e na Europa repensar suas próprias opções atômicas.

Qualquer candidato que vencer a eleição de novembro comandará um complexo nuclear em meio a uma renovação prevista para ocorrer ao longo de 30 anos e orçada em US$ 1,5 trilhão. A reforma envolve projetos variados, como projetar uma nova ogiva e um novo míssil de cruzeiro, fabricar novos fossos de plutônio (os núcleos físseis dentro das ogivas) e construir novos submarinos, bombardeiros e mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs).

Imagem de abril de 2024 mostra ex-presidente Donald Trump durante um discurso em Wisconsin. Retorno do republicano à presidência pode ocasionar uma perturbação nas alianças americanas para repensar suas próprias opções atômicas Foto: Alex Wroblewski/AFP

Esses programas desfrutam de apoio bipartidário, mas foram finalizados na década de 2010, durante uma era geopolítica diferente. Uma mudança ocorreu com a invasão da Rússia à Ucrânia e o uso que Vladimir Putin faz de ameaças nucleares para dissuadir o envolvimento ocidental no conflito. Outra mudança foi o crescimento do arsenal da China, de pouco menos que 300 ogivas em 2019 para 500 atualmente e até mil previstas para o fim desta década, de acordo com o Pentágono. Como resultado, os EUA se preocupam cada vez mais a respeito da possibilidade de enfrentar dois grandes rivais atômicos ao mesmo tempo.

Estrategistas nucleares contemplam hoje problemas que teriam parecido irrelevantes e fantasmagóricos uma década atrás. “Quanto valor estratégico existe para os EUA em ter capacidade de realizar um contra-ataque nuclear contra uma segunda potência nuclear depois de realizar e sofrer um grande ataque nuclear da primeira?”, pergunta um artigo recente do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, um dos laboratórios envolvidos na modernização atômica. Se, digamos, os EUA fossem travar uma guerra nuclear com a China, a Rússia poderia “cruzar (…) o limite nuclear para impingir um golpe decisivo para derrotar um inimigo odiado e ganhar uma posição de domínio”?

Céticos argumentam que esses desafios foram exagerados. O arsenal dos EUA continua dez vezes maior que o da China. E a guerra na Ucrânia não oferece argumento genuíno para mais bombas atômicas. “O equilíbrio nuclear estratégico não parece desempenhar um papel crucial nessa crise”, aponta o historiador nuclear Francis Gavin, da Universidade Johns Hopkins. “É notável quão pouca discussão houve sobre o estado, a prontidão e o tamanho das forças das duas maiores potências.” O que poderia sugerir que os EUA não teriam maiores problemas mesmo se Rússia e China se unissem para superá-los em número.

Mas céticos nucleares estão com um pé atrás. Em outubro, uma comissão bipartidária do Congresso americano, que incluiu autoridades que atuaram nos governos Obama e Trump, alertou que “o dimensionamento e a composição da força nuclear devem corresponder à possibilidade de uma agressão combinada de Rússia e China”. Os EUA precisam ser capazes de “dissuadir simultaneamente ambos os países”. Em suma, a comissão pediu um arsenal maior e mais diversificado.

Publicidade

Esse apetite já influencia as políticas americanas. O governo Trump iniciou o desenvolvimento de um novo míssil de cruzeiro armado com ogiva atômica lançado de submarinos conhecido pelo acrônimo SLCM-N, argumentando que o armamento fornecerá opções nucleares mais flexíveis. O governo Biden buscou cancelar o projeto, argumentando que era caro e desnecessário. O Congresso descartou essas objeções e definiu o SLCM-N como “programa de registro” — a lista de projetos estabelecidos, como o novo ICBM — no ano passado. Em março, o Senado aprovou um gasto de mais US$ 130 milhões no programa. Nada mal para uma bomba atômica indesejada.

Vocês não percebem…

Para defensores de uma posição nuclear mais muscular, isso é só o começo. Em um relatório recente, Robert Peters e Ryan Tully, da Heritage Foundation, um instituto de análise pró-Trump, elenca um cardápio de opções. Os EUA, argumentam eles, deveriam acelerar a produção de fossos de plutônio. Os ICBMs existentes, que carregam apenas uma ogiva, deveriam ser modificados para carregar mais. Sua substituição, os mísseis Sentinel, não deveriam ficar apenas dentro de silos, mas ser projetados para circular por estradas — algo que representaria uma enorme (e dispendiosa) mudança na postura nuclear americana. O especialista veterano em políticas nucleares dos EUA Frank Miller argumenta que o país precisa de aproximadamente 3,5 mil armas instaladas, em comparação com as 1.670 que possui hoje segundo as restrições do tratado Novo Start, que limita o número total de mísseis, bombardeiros e ogivas nucleares instalados por EUA e Rússia.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Se Joe Biden for reeleito, a maioria dessas ideias certamente definhará. Mesmo sob Trump haverá obstáculos para uma onda nuclear. “Quatro anos é muito pouco tempo na arena da modernização nuclear”, afirma a ex-diplomata Rose Gottemoeller, que serviu como mais graduada autoridade de controle de armas nos EUA. Ela afirma que Trump teria dificuldades para reabrir o programa de registro sem agravar estouros de custos e atrasos. O Pentágono também resistiria em cortar fundos para as forças militares convencionais expandirem capacidades nucleares.

Ainda assim, Trump teria um campo de manobra considerável em outros aspectos. Os EUA não têm capacidade de produzir novas ogivas em grandes números, mas possuem cerca de 1,9 mil armas nucleares em reserva. O país dobraria aproximadamente seu arsenal instalado inserindo essas ogivas em mísseis novos e outros sistemas de disparo. A Rússia poderia aumentar 57% acrescentando pouco menos de mil. Atualmente isso é restringido pelo Novo Start. No ano passado, a Rússia se retirou do regime de inspeções do tratado, sinalizando que o pacto está com os dias contados. A comissão bipartidária está pedindo que a Força Aérea e a Marinha pratiquem carregamento de ogivas daqui até 2026, quando o tratado expira. Se o pacto realmente cair, ambos os países poderão se empenhar nisso para valer.

Membros da comissão da Câmara dos EUA participam de entrevista coletiva, em imagem de fevereiro de 2024. Desenvolvimento de nova arma da Rússia foi exposta em reunião da Câmara Foto: Jim Lo Scalzo / EFE

Outra opção, apoiada privadamente por alguns assessores de Trump, seria retomar testes com explosões nucleares. EUA, Rússia e China não realizam testes atômicos desde os anos 90, dependendo, em vez disso, de modelos computacionais. Trump, em seu primeiro mandato, acusou China e Rússia de realizarem secretamente testes de “baixa potência” e considerou uma mudança de política. Nos anos recentes, têm surgido sinais de tunelamentos, novas instalações e aumento de movimento em campos de testes nos EUA, na Rússia e na China. Isso provavelmente reflete que os países se protegem contra potenciais mudanças dos outros.

Nenhum desses desfechos é inevitável. Trump “pode muito bem buscar controles de armas com Rússia e China para mostrar que é negociador”, sugere Jeffrey Lewis, do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais, em Monterey, apontando para as teatrais reuniões do ex-presidente com o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, em 2018 e 2019. “A grande dúvida”, afirma Lewis (que também é autor de um romance arrepiante sobre um conflito nuclear com a Coreia do Norte), “é se Trump daria uma patada no Partido Republicano em relação a defesa contra mísseis”.

Publicidade

China e Rússia operam sistemas nacionais de defesa contra mísseis limitados. Os países argumentam há muito que os esforços mais ambiciosos dos EUA, que se expandiram após George W. Bush retirar Washington de um tratado de 1972 com os soviéticos, minam a dissuasão permitindo que os EUA realizem um primeiro ataque e então bloqueiem qualquer retaliação. Isso provavelmente encorajou Rússia e China a construir arsenais maiores e, no caso de Moscou, mais diversificados.

Os EUA, de qualquer maneira, continuaram a pressionar. Em troca de limitar o desenvolvimento de defesa contra mísseis, Washington poderia talvez pedir à Rússia que inclua seu grande arsenal de armas nucleares táticas ou “não estratégicas” como parte de algum futuro acordo de controle de armas e exigir que a China também assine. Mas em janeiro Trump endossou publicamente defesas contra mísseis, invocando o sucesso (completamente não relacionado) do sistema israelense Domo de Ferro. E colocá-las na mesa de negociação causaria tensão interna em um governo futuro, alerta Lewis: “Isso implica duas partes da autoimagem de Trump: sua visão de si mesmo como um negociador impecável e seu entusiasmo por armas de alta tecnologia”.

…o que estou tentando dizer?

Trump adotar a agenda dos falcões reverberaria em Moscou e Pequim. A Rússia provavelmente já está se preparando para o fim do Novo Start, afirma Kristin Ven Bruusgaard, da Escola Norueguesa de Inteligência, e usaria qualquer novo plano ou armas dos EUA numa “algazarra propagandística”. Mas a Rússia tem suas próprias restrições financeiras e materiais. A guerra na Ucrânia poderá custar a Moscou US$ 132 bilhões até o fim deste ano, estima a Rand Corporation, um instituto de análise americano. Não faltam ogivas aos russos. Mas novos sistemas de disparo estão atrasados estouram orçamentos. “Em termos de capacidade”, afirma a professora Ven Bruusgaard, “minha impressão é que os russos estão correndo o mais rápido que conseguem”.

A China tem mais folga fiscal, mas uma escassez de plutônio poderia restringir seu arsenal na próxima década. E a pressa para construir armamentos também poderia fazer Pequim “ter de economizar”, sugere o especialista Tong Zhao, do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, outro instituto de análise, aludindo para relatos de portas de silos com defeito e mísseis cheios de água. O fortalecimento chinês também foi iniciado antes da economia do país começar a diminuir de ritmo, no ano passado. “A atual expansão nuclear da China pode estar pressionando seus limites”, conclui Zhao. A consequência disso tudo é que qualquer corrida armamentista tenderá a ser devagar quase parando, em vez de veloz e furiosa.

Para os aliados dos EUA, o cálculo é bem diferente. Membros europeus da Otan e vários países asiáticos, incluindo Japão e e Coreia do Sul, estão protegidos pelas armas nucleares dos EUA sob uma “dissuasão estendida”. Muitos ficariam felizes se Trump construísse mais armas nucleares ou armas mais modernas. O SLCM-N, por exemplo, tem muitos apoiadores na Europa e na Ásia porque alguns aliados acreditam que o armamento ajudaria os EUA a responder a um uso nuclear russo ou chinês de baixo nível na mesma intensidade, sem ter de apelar para armas estratégicas como os ICBMs, que disparariam uma troca de fogo nuclear maior e portanto perdem credibilidade como ferramenta de dissuasão sob circunstâncias desse tipo.

Mas um fortalecimento nuclear seria de pouco consolo para aliados se vier acompanhado de uma mudança dramática na natureza de suas alianças. Apesar de Trump ter dito recentemente que pretende manter os EUA na Otan (contanto que os parceiros de Washington paguem sua “parcela justa”), aliados europeus e asiáticos imaginam se os americanos realmente acudiriam em sua ajuda. Além disso, a aquisição de ICBMs por parte da Coreia do Norte torna cidades americanas vulneráveis de uma maneira até então inédita, enquanto o crescimento do arsenal chinês significa que os EUA sofreriam mais dano em qualquer troca de fogo nuclear do que no passado. Isso preocuparia até mesmo um presidente amigável aos aliados, quem dirá Trump.

Publicidade

Não conseguem sentir os temores…

A solução de Biden a esse problema tem sido dobrar a aposta em reafirmações de garantias. O presidente americano aprofundou as consultas com o Japão e a Coreia do Sul em relação a temas nucleares e, em julho de 2023, enviou um submarino armado com mísseis atômicos fazer uma escala pública em um porto na Coreia do Sul pela primeira vez desde os anos 80. Mesmo assim, o Japão tem bastante plutônio estocado e teria capacidade técnica suficiente para construir uma arma nuclear. A cobertura sul-coreana é muito mais gritante: a Coreia do Sul é o único país que desenvolveu mísseis balísticos lançados de submarinos, que podem servir de plataforma de disparo de qualquer ogiva futura.

Durante o primeiro mandato de Trump, o debate nuclear da Coreia do Sul se desenrolou sob a presidência de Moon Jae-in, um pacifista que acreditou na palavra da Coreia do Norte sobre desarmamento, aponta Jennifer Ahn, do Council on Foreign Relations, um instituto de análise em Nova York. O governo de Moon deu pouca atenção à ideia de trazer de volta as armas nucleares táticas americanas, retiradas em 1991, e também ao desenvolvimento de bombas atômicas domesticamente. Com seu sucessor, o “conservador e defensor da dissuasão” Yoon Suk-yeol, nota a especialista, a coisa é diferente.

“É possível que o problema piore e o nosso país introduza armas nucleares táticas ou as construa por conta própria”, polemizou Yoon em janeiro de 2023. “Não demoraria muito”, acrescentou ele, “dadas as nossas capacidades científicas e tecnológicas”. Yoon voltou atrás posteriormente, afirmando em fevereiro que o resultado seria sanções pesadas. Se Trump renovasse seu quixotesco esforço de firmar um acordo com Kim revertendo a política americana de “desnuclearização”, legitimando a Coreia do Norte enquanto potência nuclear, ou se Kim retomasse os testes atômicos — ele não realizou nenhum nos sete anos recentes — isso também poderia intensificar as ambições nucleares sul-coreanas.

O dilema europeu é diferente. Ao contrário da Ásia, a Europa conta com duas potências nucleares locais, Reino Unido e França. A dissuasão britânica está “designada” para a Otan, o que significa que está disponível para o comandante-supremo aliado na Europa, enquanto a França é mais ambígua, afirmando apenas que seus interesses vitais possuem “dimensão europeia”. No papel, o arsenal combinado dos dois países, de 500 ogivas, apesar de equivaler a um décimo do arsenal russo, é suficiente para aniquilar Moscou, São Petersburgo e outras cidades. Mas um olhar mais detalhado sobre o arsenal britânico é útil para entender por que é difícil substituir o guarda-chuva americano.

Considerem um cenário no qual a Rússia usa uma arma nuclear tática contra um aliado europeu. Um problema, afirmam algumas autoridades, é que a dissuasão britânica está aplicada inteiramente nos mísseis Trident D5 a bordo de um único submarino. Disparar mesmo só um deles entregaria a posição da embarcação, afirma uma ex-autoridade britânica. Isso arriscaria a sobrevivência dos mísseis remanescentes, o que serve como dissuasão contra ataques subsequentes ao próprio Reino Unido. Uma opção seria manter dois submarinos em patrulha, mas isso requereria uma frota total de cinco em vez de quatro embarcações. Uma alternativa seria construir mísseis de cruzeiro lançados por aeronaves similares aos operados pela França. Qualquer opção seria dispendiosa e só renderia frutos muito depois de Trump sair de cena.

Essas discussões, na Ásia tanto quanto na Europa, deverão irromper independentemente de Trump derrotar ou não Biden em novembro — e mesmo se Trump mantiver as alianças intactas. O debate reflete preocupações a respeito de um ambiente de segurança em deterioração, no qual guerras de conquista voltam a ser imagináveis, armas nucleares ficam cada vez mais importantes para uma China mais forte e uma Rússia mais fraca e o sistema político dos EUA parece mais frágil do que nunca mesmo e suas Forças Armadas estão crescentemente sobrecarregadas.

Publicidade

Em fevereiro, o ministro de Relações Exteriores da Polônia, Radoslaw Sikorski, sugeriu que, se a Ucrânia não for capaz de repelir a Rússia, “os aliados buscarão outras maneiras de garantir sua segurança. Começarão a se proteger. Alguns deles colocarão foco na arma definitiva, iniciando uma nova corrida nuclear”. Sikorski insistiu rapidamente que estava falando de Japão ou Coreia do Sul e não sobre seu próprio país. Mas a Polônia, notou o chanceler no mesmo evento, “comeria grama para não se tornar colônia da Rússia novamente” — uma frase que para muitos evocou inequivocamente o comprometimento do Paquistão nos anos 70 em desenvolver a bomba atômica a qualquer custo, mesmo se tivesse que “comer grama”, conforme colocou o então primeiro-ministro paquistanês, Zulfikar Ali Bhutto.

…que sinto hoje?

Em última instância, a ansiedade em relação a Trump reflete um acerto de contas com a estranheza inerente das alianças nucleares dos EUA. Dissuasão é uma coisa intuitiva: não me ataque com bombas atômicas, porque se você fizer isso eu o atacarei de volta com bombas atômicas. A dissuasão estendida é perversa: se você atacar meu aliado com bombas atômicas, eu posso atacar você com bombas atômicas, expondo a mim mesmo a uma retaliação nuclear que de outra modo não teria me acometido. Ampliar um guarda-chuva nuclear para cobrir aliados implica portanto não apenas em construir um arsenal maior e mais variado do que de outro modo  seria necessário, mas também em aceitar, voluntariamente, uma vulnerabilidade extraordinária.

Isso já é estranho o suficiente. Mas chega a ser “bizarro” para os EUA que, graças à sua geografia, de outro modo não enfrentariam nenhuma ameaça à sua existência, afirma o professor Gavin. “Isso não está no DNA americano.” Mas, mesmo assim, os EUA assumiram esse fardo nos anos 50, expondo cidades à aniquilação, porque não queriam ver seus aliados desenvolvendo suas próprias bombas atômicas — um movimento que no caso da Alemanha Ocidental poderia ter provocado uma 3.ª Guerra Mundial, acrescenta ele. A dissuasão estendida e a política de não proliferação eram intimamente conectadas. A dúvida é se essa união poderá um dia se romper.

“De muitas maneiras”, considerou Trump meses antes de ser eleito presidente em 2016, “o mundo está mudando. Neste momento, Paquistão, Coreia do Norte, China, Rússia, Índia, EUA e muitos outros países têm bombas atômicas”. Talvez o Japão fosse “muito melhor” se tivesse armamentos nucleares, sugeriu ele. Como ocorre frequentemente com Trump, o problema é saber quando interpretá-lo de forma literal ou meramente com seriedade. “O nível de poder das armas nucleares é incrível”, disse ele numa entrevista, em dezembro. “Seja Israel ou países grandes, armas nucleares são o maior problema que temos.” / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.