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Queda de natalidade na Alemanha causa alerta

Os índices de nascimentos estão em seu nível mais baixo, indicando que as políticas adotadas pelo governo para apoiar as famílias não estão animando os alemães

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Por Kate Connolly
Atualização:

THE GUARDIANA taxa de natalidade na Alemanha despencou para seu nível mais baixo já registrado, ficando abaixo do número de nascidos no fim da guerra quando muitos cidadãos estavam subnutridos e a pobreza grassava. Os números divulgados pelo Escritório Federal de Estatísticas suscitaram temores de que a Alemanha não esteja fazendo o suficiente para apoiar as famílias.No ano passado, nasceram 651 mil bebês na Alemanha, 30 mil a menos que no ano anterior. Com apenas 8,1 crianças nascendo de cada 1 mil cidadãos (ante 9,3 em 2000), e com 10 em cada 1 mil cidadãos morrendo a cada ano, a Alemanha está longe de aproximar-se de uma taxa de reposição que manteria a população estável."A Alemanha está encolhendo", dizia a manchete do jornal Tagesspiegel, quando as estatísticas foram divulgadas na semana passada, provocando reações de alarme.Fora o pico mínimo na taxa de nascimentos de 2007, depois da introdução de um sistema de benefícios para mães e pais, o número de nascimentos vem caindo mais ou menos constantemente desde os anos 70.Numa escala europeia, a Alemanha tem o índice de natalidade mais baixo, e numa escala global, a situação é ainda pior. De 27 países com populações acima de 40 milhões, a Alemanha ocupa o penúltimo lugar em termos de crianças com menos de 15 anos como porcentagem da população total.O Japão é o último, com 13%, seguido pela Alemanha com 13,6% e a Itália com 14%. Com 45%, a Etiópia tem a porção mais alta de população jovem. Há muito que os políticos vêm sendo obrigados a melhorar a taxa de natalidade ou enfrentar o problema de a Alemanha ficar com trabalhadores e contribuintes insuficientes para sustentar uma população que, como boa parte da Europa, está envelhecendo mais rapidamente que em qualquer outro momento da história.As estatísticas desapontaram muitos observadores que achavam que a política do governo de apoiar as famílias, que inclui mais de 150 bilhões por ano injetados em benefícios familiares, pagamentos para creches e compensação de salários de pais, teria tido um efeito positivo no índice de natalidade.A ministra de assuntos da Família, Kerstin Schroder, disse que a razão para o não aumento dos índices foi a queda do número de mulheres em idade de procriar. Mas ela também admitiu que ter filhos "requeria muita coragem" e num período da mais profunda crise econômica desde a guerra muitos alemães "estavam assustados e angustiados por seus empregos, e por isso decidam não ter filhos". Ela sugeriu também que "algumas mulheres simplesmente não conseguem encontrar o marido certo". Erros. Mas, para alguns especialistas, a Alemanha ignorou o problema por muito tempo, adotando erroneamente o adágio do chanceler do pós-guerra Konrad Adenauer, que disse: "As pessoas sempre terão filhos, aconteça o que acontecer." Segundo Katya Tichomirowa, especialista em política familiar, França e Escandinávia, que têm índices de natalidade mais altos, contradisseram a ideia de que uma taxa baixa era natural em países industrializados. Ela preferiu atribuir a culpa a um erro de ver as duas partes de um casal como iguais."Em nenhum outro lugar da Europa o sistema tributário produziu tanto em favor do modelo de família de um único pai provedor e uma mulher caseira como este... o Estado deveria estar apoiando o desenvolvimento de carreira de ambos os pais, permitindo que colaborem no atendimento à criança", ela escreveu no Berliner Zeitung.Mas a questão continua sendo particularmente sensível num país que transformou a procriação num ato de patriotismo durante a era nazista, na qual as autoridades insistiam que as mulheres deviam se concentrar nos filhos, na cozinha e na igreja - e davam medalhas com base no número de filhos que geravam."Ainda há muitos homens que apoiam esse ideal, que certamente afasta as mulheres", disse Silke Schmidt, uma acadêmica de 39 anos que mora em Berlim. Mas ela admitiu que há uma lamentável carência de meios de assistência para as famílias terem filhos num mundo moderno: "As escolas com frequência terminam tão cedo que é impossível conseguir um emprego em tempo parcial e as creches são precárias."Mas o fenômeno da Rabenmutter não é particularmente útil, tampouco: "mães corvos" é o termo depreciativo para mulheres que combinam trabalho e família.Os temores sobre os problemas demográficos da Alemanha só se aprofundaram após as recentes advertências de que grandes cortes orçamentários serão iminentes para equilibrar o orçamento.Roland Koch, premiê do Estado de Hesse e membro do governo de Angela Merkel, está liderando apelos conservadores por um corte nos benefícios familiares, o que, segundo especialistas, eliminaria a possibilidade de aumentar a taxa de natalidade. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIKÉ CORRESPONDENTE

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