Quem é Guillermo Lasso, o presidente de direita que dissolveu o Congresso no Equador

Na campanha de 2021, Lasso prometeu usar sua experiência em finanças como prova de sua capacidade de salvar a economia equatoriana

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Por Redação
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Guillermo Lasso tentou três vezes se tornar presidente do Equador. Após derrotas em 2013 e em 2017, finalmente se elegeu em 2021, depois de uma repaginada no discurso e na aparência. Ele trocou os ternos por jeans, camisas coloridas e tênis e se aproveitou da crise do movimento de esquerda iniciado pelo ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) e da má gestão da pandemia no país para vencer a eleição. Nesta quarta-feira, 17, ele dissolveu a Assembleia Nacional e convocou novas eleições como forma de tentar escapar de um processo de impeachment contra si.

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Lasso, de 67 anos, demorou a entrar na política. Antes disso, era banqueiro, passado que seus detratores usam para acusá-lo da crise bancária que atingiu o país no final dos anos 1990. Nas campanhas em que foi derrotado, era comum seus rivais publicarem comerciais na imprensa associando Lasso ao ‘feriado bancário’ de março de 1999, na esteira da crise que acabou levando o Equador à dolarização da economia.

Em suas duas décadas na política, ganhou o título de líder do anticorreísmo por sua feroz oposição à chamada revolução cidadã, o movimento político do antecessor.

Lasso é católico com uma tendência conservadora e é o caçula de 11 irmãos. O presidente é casado com María de Lourdes Alcívar há 42 anos. Eles têm cinco filhos e sete netos.

Ecuadorean President Guillermo Lasso, left, leaves the National Assembly after addressing a session where opposition lawmakers seek to try him for embezzlement accusations in Quito, Ecuador, Tuesday, May 16, 2023. (AP Photo/Dolores Ochoa) Foto: AP / AP

Vida no mercado financeiro

Lasso começou a trabalhar no mercado financeiro desde muito cedo. Trabalhou por muitos anos no banco de Guayaquil, que chegou a comandar. Nos anos 90, foi ministro das Finanças no governo de Jamil Mauhad e depois retornou ao setor privado. Ele renunciou à presidência executiva do banco em 2012 para se dedicar totalmente à política. Em 2013, foi derrotado por Rafael Correa. Quatro anos depois, por Lenín Moreno.

Na campanha de 2021, Lasso prometeu usar sua experiência em finanças como prova de sua capacidade de salvar a economia equatoriana em dificuldades sem sair da dolarização ou apertar a corda com o FMI, que aprovou um empréstimo de US$ 6,5 bilhões em troca de um compromisso de austeridade.

Sua vitória deleitou investidores locais e estrangeiros, conforme indicado pela significativa queda do risco-Equador que se seguiu à eleição. O índice de risco no país continuou baixo desde então, graças a vários passos tranquilizadores do governo.

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Lasso nomeou um gabinete tecnocrata, próximo ao empresariado, facilitando um diálogo regular entre o governo e o setor privado. Ele apresentou um plano de governo concentrado em reduzir a intervenção do Estado, abrir várias indústrias e mercados para a competição e promover parcerias público-privadas.

Protesto contra Lasso no Equador no Dia Internacional da Mulher  Foto: REUTERS/Karen Toro

Crise na segurança pública

A economia deu sinais de reação após seu primeiro ano no cargo. Em 2022, a economia cresceu 3,2%, uma das taxas mais altas da região. O avanço, no entanto, não foi acompanhado de uma formalização da oferta de emprego - 60% dos equatorianos trabalham sem registro adequado.

Mas o sentimento antielite no Equador, exacerbado por uma elevação nos índices de desigualdade, não ajudaram Lasso. Seu passado como banqueiro e suas crenças econômicas liberais — seu plano de governo lançado recentemente cita de Ayn Rand a Milton Friedman— tampouco ajudaram a aumentar sua popularidade num país em que a esquerda correísta e o movimento indígena sempre foram muito fortes.

O aumento da criminalidade no país, principalmente em Guayaquil - porto usado por grupos criminosos para escoar cocaína para América do Norte - e a má gestão do serviço de saúde acabaram por enfraquecê-lo politicamente.

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Lasso decretou estados de emergência em mais de uma oportunidade para deter a violência. Ao longo do seu mandato houve diversos massacres em presídios, um deles com 282 mortos, que chocaram o país.

Mas nem mesmo os estados de emergência decretados nas províncias mais conflituosas serviram para reduzir a violência: houve explosões de carros-bomba —algo nunca antes visto no país— e denúncias de extorsão e ameaças a estabelecimentos comerciais em Esmeraldas, província fronteiriça com a Colômbia.

Também houve tiroteios no centro financeiro de Quito, a capital, onde os crimes violentos aumentaram 28% em relação ao ano passado. Os assassinos de aluguel também aumentaram assim como os assaltos que terminam em mortes violentas.

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São fatos inéditos em um país que se descrevia como uma ilha de paz por ter conseguido evitar a violência da guerrilha e de organizações paramilitares como as dos vizinhos Peru e Colômbia.

Problemas em várias frentes

Na questão da saúde, após um pico bem-sucedido no processo de vacinação, fica evidente a deterioração do atendimento hospitalar público: demissões de médicos que estavam à frente dos hospitais durante a pandemia e reclamações de pacientes por falta de remédios e insumos, que chegaram a causou a suspensão de cirurgias para crianças ou a falta de atendimento a pacientes com câncer.

Em meio a essas crises em diversas frentes, o presidente terminou o ano passado com uma aprovação de apenas 29%, segundo a consultoria Cedatos. Com o surgimento de denúncias de corrupção — ainda não comprovadas — a oposição decidiu se mobilizar para o impeachment. / AFPE W. POST

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