Quem é Jack Smith, promotor que indiciou Trump duas vezes

Responsável por investigações sobre documentos secretos e tentativa de reverter resultado das eleições de 2020 deixou o anonimato na corte de Haia e entrou na mira do ex-presidente

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON - O conselheiro especial Jack Smith era pouco conhecido nos Estados Unidos até assumir duas investigações históricas, que têm como alvo uma das figuras mais populares - e polêmicas - do país, o ex-presidente Donald Trump. Em poucos meses, o promotor saiu do anonimato para se tornar um dos alvos preferenciais do líder republicano e seus fiéis apoiadores.

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Com quase três décadas de experiência, Jack Smith supervisionou as investigações sobre os documentos secretos encontrados na mansão do ex-presidente em Mar-a-Lago e os esforços de Trump para reverter o resultado das eleições em 2020. Ambas conduzidas pelo Departamento de Justiça.

Ele foi nomeado em novembro depois que o líder republicano entrou oficialmente em campanha para disputa presidencial do ano que vem. O procurador-geral Merrick Garland entendeu que era necessário garantir uma camada a mais de independência nas investigações diante da possibilidade de Trump enfrentar o atual presidente Joe Biden novamente em 2024.

Conselheiro especial Jack Smith fala com a imprensa sobre indiciamento de Donald Trump por tentativa de reverter resultado das eleições de 2020. Foto: AP Photo/J. Scott Applewhite

Na época, ele justificou que a nomeação de um conselheiro especial era “do interesse público” em razão das “circunstâncias extraordinárias” e declarou que Smith era a “escolha certa”.

Sem as proteções que o cargo de presidente garantiu a Trump em casos anteriores, as investigações conduzidas por Smith no Departamento de Justiça avançaram com a velocidade que lhe é característica e impressiona os colegas ao mesmo tempo em que rende críticas. Em menos de oito meses, o ex-presidente virou réu duas vezes.

Em junho foi indiciado por manter documentos sigilosos da Casa Branca em sua mansão na Flórida depois de deixar a presidência. Só nesse caso, pesam mais de 30 acusações contra Donald Trump.

Nesta terça-feira, o líder republicano voltou a ser acusado pela tentativa de reverter o resultado das eleições de 2020. O indiciamento de 45 páginas, resultado da investigação conduzida por Jake Smith, aponta quatro crimes que podem ter sido cometidos pelo ex-presidente.

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As acusações foram sustentadas por Smith de maneira contundente. O conselheiro especial disse a repórteres que a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro foi um “ataque sem precedentes à sede da democracia americana”.

Ainda nas palavras do promotor, a insurreição foi alimentada por “mentiras do réu, destinadas a obstruir uma função fundamental do governo dos EUA” - a certificação do resultado da eleição no caso.

Apoiadores do ex-presidente Donald Trump invadiram o Capitólio e tentaram impedir que a vitória de Joe Biden fosse confirmada pelo Congresso americano, 06 de janeiro de 2021. Foto: AP Photo/Jose Luis Magana

Além dos indiciamentos embasados nas investigações de Smith, o republicano ainda é acusado de fraudar registros financeiros para esconder um suposto pagamento ilegal a atriz pornô Stormy Daniels. Há também as investigações que avançam em paralelo. Apesar dos problemas com a justiça, no entanto, se mantém como principal figura do partido Republicano e aparece como líder isolado nas pesquisas de intenção de voto para as prévias.

O ex-presidente, que costuma negar irregularidades e se voltar contra os acusadores, já chamou Jack Smith de “enlouquecido” e afirma que o promotor estaria à frente de uma “caça às bruxas política”.

Smith chegou a ser ameaçado por apoiadores de Trump e teve a segurança reforçada. Na terça, detalhou o mais recente indiciamento do republicano cercado por três guarda-costas.

Antes de entrar na mira do trumpismo, o promotor se manteve praticamente anônimo por três décadas. Graduado pela faculdade de Direito de Harvard, começou a carreira na década de 1990 no Ministério Público de Manhattan.

Nascido em Nova York, ele atuou por quase dez anos na cidade, onde ganhou a reputação de servidor dedicado atuando em casos de violência urbana, terrorismo e corrupção.

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Entre o trabalho na megalópole e a ascensão a cargos mais altos no Departamento de Justiça dos Estados Unidos, teve duas passagens pelo Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda.

Na segunda, em 2018, investigou crimes de guerra do Kosovo na batalha sangrenta dos Balcãs pela independência da antiga Iugoslávia, na década de 1990. O comitê especial tinha a difícil tarefa de levantar evidências de supostos crimes passados que implicariam políticos no poder e sob for pressão internacional.

Como promotor em Haia, atravessou os planos de Donald Trump quando o republicano ainda ocupava a Casa Branca. O então presidente atuava para melhorar a relação entre Kosovo e a Sérvia, que nunca reconheceu a independência do país.

Com o objetivo de impulsionar a imagem de negociador antes da disputa presidencial de 2020, Trump convocou os líderes dos países Balcãs para fechar o que seria um “acordo histórico”.

O então presidente do Kosovo Hashim Thaci estava a caminho do encontro em Washington quando ficou sabendo que seria indiciado por crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional. Então, cancelou a viagem, voltou para casa e renunciou meses depois.

As acusações contra o ex-guerrilheiro que virou presidente foram apresentadas por Jake Smith mais rápido que o de costume para os padrões da corte. A lista dos crimes de guerra, que ele nega, inclui quase 100 assassinatos e tortura de centenas de vítimas.

A acusação do ex-presidente do Kosov é um exemplo que evidencia as características do promotor. Smith é reconhecido entre os pares pela agilidade mesmo diante de processos espinhosos. Em entrevista ao The New York Times que voltou a ser citada agora pela imprensa americana ele disse: “se eu fosse o tipo de pessoa que pode ser intimidada… eu encontraria outra linha de trabalho”,

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O promotor se preparava para o julgamento, marcado para este ano, quando se licenciou do posto na corte de Haia para investigar Donald Trump./ The New York Times e W. Post

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