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DeSantis anuncia candidatura ao lado de Elon Musk e se torna maior ameaça a Donald Trump

Governador da Flórida planejou transmissão online ao lado do CEO do Twitter, mas plataforma sobrecarregou; evento é visto como fiasco por rivais e imprensa americana

Foto do author Carolina Marins
Por Carolina Marins
Atualização:

WASHINGTON - O governador da Flórida, Ron DeSantis, oficializou nesta quarta-feira, 24, sua entrada na corrida pela presidência dos Estados Unidos em 2024 pelo Partido Republicano. O pré-candidato de 44 anos fez um anúncio nesta quarta-feira, 24, à noite ao lado do CEO do Twitter, Elon Musk. Ele se estabelece como o maior rival interno que o ex-presidente Donald Trump já enfrentou desde 2016.

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O anúncio da candidatura estava marcado para ser feito através do Space, no Twitter, às 19h do horário de Brasília, mas atrasou 30 minutos porque os servidores da plataforma ficaram sobrecarregados após 550 mil perfis se conectarem. Foi uma maneira inédita de apresentar a candidatura, mas considerada um desastre por rivais e pela imprensa americana. “Isso foi uma loucura, desculpem”, disse Musk ao tentar reiniciar o evento, com apenas 113 mil perfis online.

Após o reinício, a equipe de DeSantis apresentou um vídeo oficial de anúncio de campanha e ele discursou aos ouvintes. O discurso repetiu slogans da campanha de reeleição ao governo da Flórida no ano passado, fez um contraste de idade com o presidente Joe Biden e com Donald Trump e atacou indiretamente o ex-presidente republicano.

Captura de tela do vídeo de apresentação de candidatura de Ron DeSantis, exibido nesta quarta-feira, 24, no Twitter. Evento contou com problemas da plataforma Foto: Reprodução/Twitter Ron DeSantis/via AFP

O evento foi mediado por David Sacks, um empresário da tecnologia que tem a confiança de Musk e apoia DeSantis. Depois do discurso, os três começaram uma conversa que teve o Twitter como tema inicial mais do que a campanha presidencial, confirmando o diagnóstico de analistas que esperavam que o evento servisse de marketing para Musk, o CEO da plataforma que agora apoia o republicano.

“A preocupação do Musk é tornar o Twitter uma plataforma relevante no meio jornalístico. Isso para ele é um golpe de marketing bastante grande. Não me parece que o Musk tenha necessariamente uma preferência por um ou por outro candidato, mas do ponto de vista do Musk, sua preocupação não é necessariamente política”, analisou Carlos Gustavo Poggio, professor-associado no Berea College, dos Estados Unidos.

Rivais fazem piadas com problemas

Os apoiadores de DeSantis tentaram transformar os problemas durante o anúncio em vantagem para o republicano, alegando que a popularidade dele “quebrou a internet”. Por outro lado, serviram de objeto de piada para os apoiadores de Trump. “DeSaster”, disse um deles. O comitê de campanha do ex-presidente também zombou do anúncio, postando no Twitter uma captura de tela que mostra a mensagem de erro no Space, que muitos usuários visualizaram.

O ex-presidente republicano postou dois vídeos na sua rede social, a Truth Social, zombando de DeSantis. O comitê do Partido Democrata também aproveitou os problemas do evento para realizar críticas. “No verdadeiro estilo Ron DeSantis, o lançamento presidencial literalmente não estava pronto para o horário nobre”, disse Ammar Moussa, um porta-voz democrata.

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Oficialização da candidatura

DeSantis enviou seus papeis para a Comissão Eleitoral Federal horas antes do anúncio com transmissão ao vivo no Twitter junto com Musk.

A entrada de DeSantis, um defensor de causas conservadoras que durante anos atacou a esquerda americana, chega em um momento crucial para o Partido Republicano. Seus eleitores devem escolher entre se alinhar mais uma vez com Trump - que perdeu em 2020 e continua a se enfurecer sobre uma falsa alegação de eleição roubada - ou se unir em torno de um novo adversário para enfrentar o presidente Joe Biden.

Ron DeSantis, governador da Flórida, ao lado do então presidente Donald Trump em 2018 Foto: Evan Vucci/AP

Sua candidatura ocorre em meio ao crescimento de Trump na preferência do eleitorado republicano. Segundo pesquisa publicada nesta quarta pela CNN americana, Trump é a primeira escolha de 53% dos republicanos, enquanto DeSantis aparece com 26%. Porém, há muitos eleitores que se mostram dispostos a migrar de um para o outro. Em torno de 80% diziam considerar ou Trump ou DeSantis, e os demais se distribuem entre a ex-embaixadora da ONU Nikki Haley, o senador da Carolina do Sul Tim Scott e o ex-vice-presidente Mike Pence.

“DeSantis é hoje o principal rival de Trump no Partido Republicano”, afirma Carlos Gustavo Poggio. “O que vem acontecendo é que Trump ampliou sua vantagem sobre os demais candidatos. Houve um momento, principalmente após as eleições de meio de mandato no ano passado, que o DeSantis até chegou a encostar. Mas o Trump lançou sua campanha mais cedo e hoje tem uma vantagem grande”.

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Apesar disso, DeSantis mantém uma série de pontos fortes: uma montanha de dinheiro, uma operação de campanha robusta e uma série de vitórias políticas conservadoras na Flórida após uma reeleição esmagadora nas eleições de meio de mandato do ano passado.

O governador, que ganhou destaque nacional por lidar com a pandemia de coronavírus com aversão a restrições, argumenta que seu Estado pode ser um modelo para reformular os Estados Unidos em um formato totalmente conservador, especialmente em questões sociais.

Capacidade de vencer Biden

Ele agora enfrenta a tarefa de derrubar um ex-presidente cuja beligerância e base leal de apoio desencorajaram a maioria dos principais republicanos - incluindo o próprio DeSantis - de fazer ataques frontais contra ele. Trump, que tem uma lista crescente de problemas legais, vê DeSantis como uma ameaça política e tem vociferado contra ele por meses.

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Antes mesmo da oficialização, Trump já havia ironizado sua candidatura. “Ele precisa desesperadamente de um transplante de personalidade e, pelo que sei, eles ainda não estão disponíveis clinicamente. Uma pessoa desleal!”, escreveu Trump em suas redes sociais.

DeSantis abraçou o estilo combativo de Trump e muitas de suas políticas, mas se apresenta como uma versão mais jovem e elegível do ex-presidente. “O risco que DeSantis impõe ao Trump, e ele deve bater muito nessa tecla, é a questão da sua capacidade de ser eleito”, explica Poggio. “Se ele conseguir convencer o público republicano disso, ele consegue uma vantagem importante”. Nesse sentido, o histórico de Trump perdendo a eleição de 2020 contra Biden pode não ajudá-lo, mesmo com a popularidade do atual presidente em baixa.

“Aquele Republicano que eventualmente goste mais do Trump vai se preocupar com as eleições gerais. Se perceber que DeSantis tem uma vantagem muito grande nas eleições gerais, ele pode migrar. Foi o que aconteceu na primária Democrata de 2020, em que o Biden foi selecionado não porque ele era necessariamente o preferido, mas porque se percebeu que ele seria o candidato com maiores chances de vencer Trump”, completa.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, ao lado de sua esposa Casey e sua filha após vencer a reeleição em 2022 Foto: Rebecca Blackwell/AP

Seu desafio será evitar que a primária republicana repita a de 2016, em que Trump dominou o debate e tornou a disputa sobre um homem só. Além disso, algumas declarações e erros de cálculo de campanha prejudicaram aa imagem de DeSantis, enquanto Trump cresce em popularidade após seus escândalos judiciais - que mobilizou sua base de apoio. Um caso emblemático foi quando o governador declarou que defender a Ucrânia da invasão russa não era um interesse vital dos Estados Unidos.

“É notório que o Trump, em razão de já ter sido presidente, tem um suporte do establishment político dentro do partido que certamente dá muitas vantagens a ele”, explica Christopher Mendonça, professor de Relações Internacionais do Ibmec-BH. “E sobretudo, Trump tem muito dinheiro próprio e de investidores que já pretendem financiar a sua campanha para o próximo ano. Então, DeSantis vai ter muita dificuldade em virar o jogo, mas não significa que Trump não deva se preocupar”.

Nesse sentido, um importante grupo político que apoia a corrida presidencial de DeSantis está preparando um esforço de milhões de dólares para atrair eleitores. Com as doações prometidas, é provável que DeSantis comece a corrida com mais dinheiro de um grupo externo que qualquer candidato republicano nas primárias na história do partido.

Anúncio ao lado de Musk

Na terça-feira, jornais americanos adiantaram que DeSantis faria seu lançamento hoje ao lado de Elon Musk em um evento ao vivo no Spaces do Twitter.

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Sua entrada na corrida primária republicana contra Trump já era aguardada, mas a decisão de fazê-lo com Musk adicionou um elemento surpreendente e deu a DeSantis a possibilidade de acesso a um grande público online. Ao escolher o Twitter para lançar sua candidatura, DeSantis tira uma página que ajudou a transformar Trump de um empresário-celebridade da TV em uma estrela política.

Musk também desponta como uma das pessoas mais populares entre os republicanos - e americanos em geral - segundo pesquisas. “O Twitter dá acesso a muitas pessoas e é um fórum de debates que tem um alcance muito grande, sobretudo nos EUA”, explica Mendonça. “Estar ao lado do dono do Twitter vai garantir que a voz do governador chegue a muito mais lugares”.

No entanto, segundo Carlos Gustavo Poggio, a decisão de aparecer ao lado de Musk tende a beneficiar mais o CEO do Twitter do que o próprio DeSantis, ao menos por enquanto. “A preocupação do Musk é tornar o Twitter uma plataforma relevante no meio jornalístico. Isso para ele é um golpe de marketing bastante grande. Não me parece que o Musk tenha necessariamente uma preferência por um ou por outro candidato, mas do ponto de vista do Musk, sua preocupação não é necessariamente política”.

O Twitter procurou maneiras de trazer mais pessoas para a plataforma nas últimas semanas, inclusive atraindo comentaristas políticos de direita e empresas de mídia para criar conteúdo exclusivo. O conservador Tucker Carlson, que saiu da Fox News, anunciou este mês que levará seu popular programa para o Twitter.

Musk diz que votou no presidente Biden nas eleições de 2020, mas desde então o criticou e sugeriu que ele está velho demais para concorrer novamente em 2024. Quando perguntado sobre Biden em uma entrevista na CNBC na semana passada, Musk, que se autodenomina um moderado, disse que só queria “um ser humano normal” para liderar o país./COLABOROU LUIZ HENRIQUE GOMES, COM NYT e AP

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