Ucrânia rejeita ultimato para rendição de Mariupol e Rússia amplia ataques à cidade sitiada

Kremlin tenta reivindicar primeira vitória estratégica desde a invasão, com seu avanço tendo patinado na maior parte do país e com a guerra na Ucrânia perto de um ‘impasse’

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Por Redação
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As Forças Armadas russas deram um ultimato para que os militares ucranianos se rendessem na cidade de Mariupol no domingo, mas a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Irina Vereshchuk, disse que o país não irá aceitar a demanda russa pela rendição das forças do país na cidade portuária.

Disparando foguetes e bombas por terra, ar e, pela primeira vez, de navios de guerra no Mar de Azov, as forças russas ampliaram seu bombardeio da cidade ucraniana sitiada de Mariupol neste domingo, 20, e deram um ultimato para que os militares ucranianos se rendessem.

Segundo o general russo Mikhail Mizintsev, a Ucrânia teria até as 5h da manhã de hoje para responder à oferta, que incluía também a formação de corredores humanitários para permitir a saída de civis para fora da cidade.

Em resposta, Irina Vereshchuk, a vice-primeira-ministra, disse que o país não irá aceitar a demanda russa. “Não pode haver nenhuma rendição, deposição de armas. Já informamos o lado russo sobre isso”, disse.

O prefeito de Mariupol, Piotr Andryushchenko, também rejeitou a oferta logo após ser feita. Em um post no Facebook, ele afirmou não precisar esperar até o prazo dado para responder.

Moradores de Mariupol caminham entre destroços e escombros de prédios atingidos por intensos bombardeios da Rússia  Foto: Reuters

Cidade estratégica

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A Rússia tenta reivindicar sua primeira vitória estratégica desde a invasão, mesmo com seu avanço tendo patinado na maior parte do país. Mariupol tem uma importância estratégica no mapa.

Se a cidade cair, isso criaria um corredor terrestre controlado pela Rússia entre a Península da Crimeia e as regiões de Luhansk e Donetsk, no Leste, controladas por separatistas apoiados pela Rússia.

De acordo com as autoridades ucranianas, forças russas bombardearam uma escola de arte na cidade onde cerca de 400 moradores se abrigavam.

A Rússia tem culpado o Batalhão Azov, formado por extremistas de direita ucranianos e hoje parte da Guarda Nacional do país, por ataques a civis na cidade. Neste domingo, 20, afirmou que eles são responsáveis pela “catástrofe humanitária” em Mariupol.

Morador de Mariupol passa por tanque do Exército russo que cerca a cidade portuária  Foto: Alexander Ermochenko / Reuters

Na quarta semana do ataque russo ao país, a cidade costeira tornou-se um símbolo da frustração russa pelo fato de sua mão de obra e armamento superiores não terem forçado a capitulação rápida do país. E passou a simbolizar a brutalidade da Rússia, com suas forças mirando cada vez mais em alvos civis com mísseis de longo alcance para quebrar a resistência militar ucraniana.

A cidade está sem comida, água, eletricidade ou gás desde os primeiros dias após a invasão de 24 de fevereiro. Mas sua situação se deteriorou, com relatos de batalhas de rua e forças russas conquistando com sucesso três bairros.

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Avanço empacado

Sem conseguir avançar suas tropas na última semana e conseguir atingir nenhum dos objetivos iniciais, com pesadas baixas de mil homens por semana e perdas de equipamentos, como tanques, a Rússia pode estar levando a guerra contra a Ucrânia para um “impasse”.

Segundo analistas, as próximas duas semanas podem ser decisivas para determinar o resultado da guerra. A menos que a Rússia melhore muito rápido suas linhas de suprimentos e consiga estimular o moral das tropas já debilitadas, seus objetivos podem se tornar impossíveis de alcançar, disseram eles.

“Não acho que as forças ucranianas possam expulsar as forças russas da Ucrânia, mas também não acho que as forças russas possam tirar muito mais da Ucrânia”, disse Rob Lee, ex-fuzileiro naval dos EUA que agora é membro sênior do Instituto de Pesquisa em Política Externa.

O presidente ucraniano Volodmir Zelenski fala sobre o conflito para parlamentares israelenses  Foto: AFP

Uma avaliação do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) foi mais longe. “As forças ucranianas derrotaram a campanha russa inicial desta guerra”, afirmou. O conflito, disse a entidade, agora chegou a “um impasse”. “A guerra russa de conquista na Ucrânia está agora entrando em uma fase crítica; uma corrida para alcançar o ponto culminante da capacidade ofensiva da Rússia e da capacidade defensiva da Ucrânia”, escreveram o tenente-general aposentado Ben Hodges e Julian Lindley-French, que preside o centro estratégico Alphen Group, na Holanda.

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Eles afirmaram que os Estados Unidos e seus aliados devem, cada vez mais, fornecer suprimentos militares à Ucrânia, para que as forças ucranianas possam aproveitar essa “janela de oportunidade” e obter concessões na mesa de negociações. “Acredito que a Rússia não tem tempo, mão de obra ou munição para sustentar o que está fazendo agora”, disse Hodges, do Centro de Análise de Políticas Europeias, com sede em Washington. / NYT, W.POST, AP, AFP e REUTERS