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Saiba mais sobre os fundamentalistas religiosos americanos estabelecidos no norte do México

Família LeBarón pertence a um grupo de colonos que se mudaram para o México no início do século 20, procurando, na época, praticar a poligamia, proibida pela igreja americana

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Por Redação
Atualização:

As comunidades religiosas fundamentalistas dos EUA têm uma longa história no norte do México, que remonta a colonos que praticavam a poligamia. O assassinato brutal de nove membros de uma família dessa comunidade na segunda-feira, 4, chamou a atenção para essa história. 

A família LeBarón, alguns dos quais foram alvejados no ataque de segunda-feira, vive na turbulenta região da fronteira há décadas. Ela pertence a um grupo de colonos que se mudaram para o México no início do século 20, procurando, na época, praticar a poligamia, o que era proibido nos EUA pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Hoje, a poligamia desapareceu amplamente da comunidade.

Um supermercado pertencente a uma família LeBaron em Chihuahua Foto: Adriana Zehbrauskas/The New York Times

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Por muito tempo não afiliadas à igreja principal, as comunidades mórmons fundamentalistas no norte do México tiveram origem no fim da década de 1880, quando várias famílias se mudaram para os Estados de Chihuahua e Sonora. Entre os mórmons que migraram, estava Miles Park Romney, bisavô do senador Mitt Romney, republicano de Utah e candidato presidencial em 2012.

As comunidades religiosas da época de Joseph Smith, o fundador da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, costumam se definir como mórmon. A igreja principal abandonou essa denominação, em parte, por causa de conotações negativas em torno da poligamia.

Depois que os Estados Unidos criminalizaram a poligamia em 1882, o líder da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias da época, John Taylor, incentivou alguns membros a se estabelecerem no norte do México como uma maneira de escapar da acusação federal.

"Elas eram vistos como colônias de refúgio", disse W. Paul Reeve, professor de estudos mórmons na Universidade de Utah. O governo mexicano, que desejava que as pessoas se estabelecessem na região da fronteira norte, ignorou a questão da poligamia, explicou o professor.

Comunidade da família LeBaron em Galeana, no México Foto: Luis Torres/EFE

Chamada de casamento plural pelos religiosos, a poligamia foi abandonada formalmente pela igreja em 1904, anunciando que quem a praticasse seria excomungado. Algumas famílias continuaram a prática e estabeleceram suas próprias igrejas fragmentadas ou comunidades religiosas.

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Embora alguns dos descendentes dessas famílias tenham voltado para os Estados Unidos durante a Revolução Mexicana, muitos permaneceram, prosperando como agricultores e pecuaristas. Até hoje, os descendentes falam inglês e espanhol, e alguns mantiveram a cidadania americana.

Alguns grupos pequenos e distintos de famílias mórmons fundamentalistas continuam praticando a poligamia, enquanto outros ligados às colônias originais não a praticam.

É difícil estimar o número de famílias na região norte do México que ainda praticam poligamia, mas ele é "muito pequeno", segundo o professor Reeve. Ele estimou que em Utah existem cerca de 30 mil pessoas que fazem parte de seitas mórmons fundamentalistas e poligâmicas.

Maior comunidade fora dos EUA

Separadamente, a igreja principal tem mais de 1 milhão de membros no México, sua maior população fora dos Estados Unidos.

A igreja, com sede em Utah, tem 16 milhões de adeptos em todo o mundo. Um porta-voz disse que a igreja estava "de coração partido" ao ouvir sobre a tragédia.

"Embora entenda que eles não são membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, nosso amor, orações e simpatias estão com eles e lamentamos e lembramos de seus entes queridos", disse Eric Hawkins, porta-voz.

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Os assentamentos no norte do México já foram atormentados pela violência no passado. Em 2009, homens armados na cidade de Colonia LeBarón mataram Benjamín LeBarón, um ativista anti-violência mórmon, além de seu cunhado, Luis Widmar. A cidade havia sido colonizada na década de 1940 por Alma Dayer LeBarón, um patriarca mórmon que foi excomungado por poligamia.

Um grupo dissidente da área liderado por um descendente poligâmico de LeBaron, Ervil LeBaron, executou assassinatos de oponentes no México e em partes dos Estados Unidos. Ervil morreu em uma prisão de Utah em 1981 aos 56 anos. /NYT

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