Supermercado da família de Messi sofre novo ataque e tem quase R$ 110 mil roubados

Cidade natal do campeão mundial vive uma escalada de violência com tiroteios a escolas e hospitais por grupos narcotraficantes; família de Messi já havia sido alvo no início do ano

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Foto do author Carolina Marins
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ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES - O supermercado dos sogros do campeão mundial argentino Lionel Messi sofreu um assalto milionário na manhã desta quarta-feira, 22, em Rosário, a cidade mais violenta da Argentina. Segundo a polícia, dois assaltantes dispararam contra um carro que transportava 8 milhões de pesos (R$ 109.680,00 no câmbio do Banco Central argentino) que haviam sido retirados do comércio.

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O supermercado Único pertence aos pais de Antonela Roccuzzo, esposa do atacante da seleção argentina e do Inter Miami. Em março, grupos narcotraficantes dispararam contra o comércio e deixaram uma bilhete para o jogador: “Estamos te esperando”. A cidade de Rosário tem vivido uma escalada na violência conforme grupos criminosos disputam o território e o comércio de droga local. Em abril, quando o Estadão visitou a cidade, ataques a tiros contra escolas e hospitais aterrorizavam os moradores.

De acordo com informações da polícia, duas pessoas em um carro seguiram o automóvel que levava o dinheiro retirado do comércio minutos antes. Lá dentro, outras duas pessoas carregavam duas bolsas com 4 milhões de pesos cada.

Fachada do supermercado Único, que pertence aos sogros de Lionel Messi, alvo de um ataque a tiros em março Foto: Carolina Marins/Estadão

“Saíram do supermercado e se dirigiram a um banco próximo. Em Lavalle, 1700, foram abordados por um carro branco, quebraram o vidro e levaram as bolsas com a grande quantia em dinheiro, aproximadamente 8 milhões de pesos, segundo as vítimas”, informou o chefe de polícia Diego Santamaría em um conferência de imprensa.

O valor de 8 milhões de pesos seriam, em aproximação, quase R$ 110 mil pelo câmbio oficial mantido pelo Banco Central argentino. Porém, como há dezenas de câmbios circulando no país, incluindo o dólar Blue cujo valor chega a ser o dobro do oficial, é possível que o montante roubado seja menor em reais.

De acordo com a imprensa argentina, a condutora do veículo era Agustina S, prima de Antonela Roccuzzo, que havia ficado em estado de choque após o episódio. A outra pessoa presente no veículo, um funcionária do supermercado, também precisou ser atendida em estado de choque. Em depoimento à imprensa de Rosário, a funcionária disse que os criminosos chegaram pedindo a quantia exata que elas carregavam.

Em 2 de março, dois homens em uma moto dispararam 14 tiros contra o supermercado e deixaram um recado para o jogador: “Messi, estamos te esperando. Javkin também é do tráfico, ele não vai te proteger”. Pablo Javkin é o prefeito de Rosário, cidade que fica na província de Santa Fé.

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Após o episódio, o governo de Alberto Fernández enviou as Forças Armadas para “urbanizar” a cidade, já que por lei o Exército não pode fazer o trabalho de polícia. Desde então, dois policiais faziam a proteção do supermercado Único todos os dias, apesar de o bairro não ser um dos mais violentos da região.

Ataques frequentes

A prática de gangues rivais de lançar ataques a tiros a mercados, restaurantes, escolas e hospitais para ‘marcar território’ ganhou força em Rosário. Em paralelo, cresceram os homicídios, a violência na periferia da cidade e denúncias de extorsões de comerciantes. Santa Fé, província com maior taxa de homicídios do país, se tornou espelho da violência urbana que tira o sono de muitos argentinos, e surgiu nessas eleições como um mau exemplo da segurança pública argentina.

A província onde se localiza Rosário, tem uma taxa de homicídios de 10,1 para cada 100 mil habitantes, contra 4,6 da média nacional. É a mais alta do país, embora ainda esteja distante da realidade de outros países latino-americanos como Honduras (acima de 60) e Brasil (acima de 20). A maioria dessas mortes, segundo relatórios do ministério de segurança regional, é resultado de disputas de grupos narcotraficantes.

O problema agora, segundo os moradores, é que essas disputas saíram dos pontos de comércio de drogas e tomaram as ruas. O objetivo dos ataques é tiros, segundo pesquisadores e autoridades locais, é justamente causar comoção e deixar recados para grupos rivais.

A ação, explica Marco Iazzetta, professor de Ciência Política e pesquisador de violência na Universidade Nacional de Rosário, é o modus operandi dos grupos criminosos que dominam a cidade há pelo menos dez anos. Ao disparar contra escolas e instituições de saúde, a notícia ganha repercussão nacional junto com as mensagens deixadas nos bilhetes, conseguindo assim fazer com que o recado chegue aos outros grupos.

Entrada da cidade de Rosário, no Departamento de Santa Fé, Argentina Foto: Carolina Marins/Estadão

Rosário é uma cidade de 1 milhão de habitantes que abriga um dos maiores portos da Argentina, com saída para o Rio Paraná. Por lá, acredita-se que escoam toneladas de cocaína com rumo ao Brasil, Paraguai e países europeus. Porém, somente o porto não explica a escalada recente de violência na cidade, defende Iazzetta, mas sim uma ausência de organização dos grupos criminosos.

“O fenômeno aqui em Rosário é o da fragmentação criminosa, ou seja, são grupos criminosos, alguns mais complexos que outros, mas nenhum com hegemonia sobre os demais e que podem impor condições ou regular normativas”, explica.

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O pesquisador faz um paralelo com grupos brasileiros, como o PCC, que são conhecidos pela organização, hierarquia e disciplina do crime. Em Rosário, ainda que exista uma prevalência do grupo narcotraficante Los Monos, não há organização dos grupos criminosos que acabam resultando em conflitos constantes e em áreas povoadas. “Os próprios Los Monos são muito fragmentados e aqui os grupos criminosos são formados fundamentalmente por clãs familiares”.

Apesar de ser historicamente conhecida por reunir os maiores números de violência da Argentina, a situação na cidade piorou de 2013 para cá, quando um criminoso conhecido como Pájaro Cantero, líder dos Los Monos, foi assassinado, e em resposta o líder de um grupo rival, Luis Medina, também foi morto. A partir deste momento se instalou uma disputa violenta pelo domínio de Rosário, que visa o comércio de drogas.

Mas para além da disputa por venda de drogas, o crime em Rosário é particularmente mais brutal que em outras cidades argentinas igualmente envolvidas no narcotráfico, observa o pesquisador. “Há dois níveis de narcotráfico em Rosário: o macrotráfico que visa escoar essa droga a outros países e é menos violento porque funciona como uma lógica empresarial, e há o microtráfico que é o comércio interno, é nesse que a violência é generalizada. Por isso só o porto não é explicação”. A isso, acrescenta Iazzetta, se soma uma polícia subordinada aos grupos.

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