WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou nesta terça-feira, 15, acabar com a isenção fiscal da Universidade de Harvard após a instituição rejeitar exigências do governo. Nesta segunda, a Casa Branca já havia anunciado um corte de US$ 2 bilhões (R$ 12,8 bilhões) no orçamento da instituição pelo mesmo motivo.
Segundo autoridades de Harvard, as exigências provocavam mudanças que instituíam restrições severas na universidade, incluindo à liberdade de expressão.
De acordo com uma carta do governo enviada no dia 11, a universidade teria que reduzir o poder de alunos e professores sobre assuntos acadêmicos; denunciar “imediatamente” estudantes estrangeiros que cometerem violações de conduta; e contratar uma equipe externa para garantir que os departamentos acadêmicos tenham “diversidade de pontos de vista”.

O pedido faz parte da campanha de Trump contra as universidades americanas desde o início do mandato, em janeiro. Ele justifica a ação para “acabar com as práticas woke” (termo associado pejorativamente aos defensores de políticas de diversidade nos EUA) e “tolerância de protestos anti-Israel”. Harvard, a universidade mais antiga e rica dos EUA, foi a primeira a se negar a atender às exigências.
Após a instituição não recuar na decisão após o congelamento, Trump decidiu aumentar as ameaças. “Talvez Harvard devesse perder seu status de isenção fiscal e ser taxada como uma entidade política se continuar promovendo a ‘doença’ inspirada em política, ideologia e terrorismo? Lembre-se, o status de isenção fiscal depende totalmente de agir no INTERESSE PÚBLICO!”, escreveu o presidente nesta terça na Truth Social, sua rede social.
Harvard está em uma posição única para suportar os cortes, com um fundo patrimonial que totaliza mais de US$ 50 bilhões e um orçamento que chega a superar o PIB de mais de 100 países. A universidade recebe cerca de US$ 9 bilhões (R$ 52,8 bilhões) por ano em financiamento federal, com US$ 7 bilhões (cerca de R$ 41 bilhões) destinados aos 11 hospitais afiliados à universidade.
Segundo o presidente do Conselho Americano de Educação, Ted Mitchell, a recusa foi importante para definir o futuro das disputas entre o governo e as universidades. “Se Harvard não tivesse tomado essa posição, teria sido quase impossível para outras instituições fazer o mesmo”, disse.
Leia mais
Outras universidades com orçamentos menores, como a Universidade de Columbia, chegaram a um acordo com o governo após ser pressionada a fazer mudanças nas políticas e programas. Entre as concessões promovidas em Columbia, está, por exemplo, a instalação de nova supervisão no Departamento de Estudos do Oriente Médio, Sul da Ásia e África.
O reitor de Harvard, Alan Garber, publicou uma carta nesta segunda na qual se recusou a fazer concessões semelhantes. “Nem Harvard nem qualquer outra universidade privada pode se deixar dominar pelo governo federal”, escreveu.
Steven Pinker, psicólogo de Harvard e presidente do Conselho de Liberdade Acadêmica de Harvard, disse na segunda-feira que era “verdadeiramente orwelliano” (em referência a 1984, livro de George Orwell) e contraditório que o governo impusesse a diversidade de pontos de vista na universidade. Ele disse que isso também levaria a absurdos.
“Este governo forçará o departamento de economia a contratar marxistas, ou o departamento de psicologia a contratar junguianos, ou, por falar nisso, a faculdade de medicina a contratar homeopatas ou curandeiros nativos americanos?”, disse. /NYT