Trump ameaça retirar isenção fiscal de Harvard e aumenta crise com universidades de elite

Casa Branca já havia anunciado corte de US$ 2 bilhões (R$ 12,8 bilhões) no orçamento da instituição; reitor de Havard diz que governo quer instituir restrições severas

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Por Redação
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WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou nesta terça-feira, 15, acabar com a isenção fiscal da Universidade de Harvard após a instituição rejeitar exigências do governo. Nesta segunda, a Casa Branca já havia anunciado um corte de US$ 2 bilhões (R$ 12,8 bilhões) no orçamento da instituição pelo mesmo motivo.

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Segundo autoridades de Harvard, as exigências provocavam mudanças que instituíam restrições severas na universidade, incluindo à liberdade de expressão.

De acordo com uma carta do governo enviada no dia 11, a universidade teria que reduzir o poder de alunos e professores sobre assuntos acadêmicos; denunciar “imediatamente” estudantes estrangeiros que cometerem violações de conduta; e contratar uma equipe externa para garantir que os departamentos acadêmicos tenham “diversidade de pontos de vista”.

Imagem de 2017 mostra um dos prédios da Universidade de Harvard em Cambridge, Massachusetts. Universidade se tornou alvo de críticas do presidente Donald Trump  Foto: Charles Krupa/AP

O pedido faz parte da campanha de Trump contra as universidades americanas desde o início do mandato, em janeiro. Ele justifica a ação para “acabar com as práticas woke” (termo associado pejorativamente aos defensores de políticas de diversidade nos EUA) e “tolerância de protestos anti-Israel”. Harvard, a universidade mais antiga e rica dos EUA, foi a primeira a se negar a atender às exigências.

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Após a instituição não recuar na decisão após o congelamento, Trump decidiu aumentar as ameaças. “Talvez Harvard devesse perder seu status de isenção fiscal e ser taxada como uma entidade política se continuar promovendo a ‘doença’ inspirada em política, ideologia e terrorismo? Lembre-se, o status de isenção fiscal depende totalmente de agir no INTERESSE PÚBLICO!”, escreveu o presidente nesta terça na Truth Social, sua rede social.

Harvard está em uma posição única para suportar os cortes, com um fundo patrimonial que totaliza mais de US$ 50 bilhões e um orçamento que chega a superar o PIB de mais de 100 países. A universidade recebe cerca de US$ 9 bilhões (R$ 52,8 bilhões) por ano em financiamento federal, com US$ 7 bilhões (cerca de R$ 41 bilhões) destinados aos 11 hospitais afiliados à universidade.

Segundo o presidente do Conselho Americano de Educação, Ted Mitchell, a recusa foi importante para definir o futuro das disputas entre o governo e as universidades. “Se Harvard não tivesse tomado essa posição, teria sido quase impossível para outras instituições fazer o mesmo”, disse.

Outras universidades com orçamentos menores, como a Universidade de Columbia, chegaram a um acordo com o governo após ser pressionada a fazer mudanças nas políticas e programas. Entre as concessões promovidas em Columbia, está, por exemplo, a instalação de nova supervisão no Departamento de Estudos do Oriente Médio, Sul da Ásia e África.

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O reitor de Harvard, Alan Garber, publicou uma carta nesta segunda na qual se recusou a fazer concessões semelhantes. “Nem Harvard nem qualquer outra universidade privada pode se deixar dominar pelo governo federal”, escreveu.

Steven Pinker, psicólogo de Harvard e presidente do Conselho de Liberdade Acadêmica de Harvard, disse na segunda-feira que era “verdadeiramente orwelliano” (em referência a 1984, livro de George Orwell) e contraditório que o governo impusesse a diversidade de pontos de vista na universidade. Ele disse que isso também levaria a absurdos.

“Este governo forçará o departamento de economia a contratar marxistas, ou o departamento de psicologia a contratar junguianos, ou, por falar nisso, a faculdade de medicina a contratar homeopatas ou curandeiros nativos americanos?”, disse. /NYT

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