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Venezuela renegocia dívida de US$ 3 bilhões com a Rússia e ganha fôlego

Compromisso com compra de armas feito em 2011 não está relacionado com vencimentos que devem ser pagos até o fim do ano

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CARACAS  - A Venezuela, declarada em default parcial sobre sua dívida, obteve nesta quarta-feira (15) um impulso financeiro da Rússia, um dos seus principais credores.  uma delegação liderada pelo ministro das Finanças da Venezuela, Simon Zerpa, assinou nesta manhã em Moscou um acordo que reestrutura um crédito russo de quase US$ 3 bilhões concedido em 2011 para comprar armamento russo.

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+The Economist: O calote da Venezuela é apenas uma questão de tempo

Os termos do acordo devem ser divulgados em uma coletiva de imprensa do ministro venezuelano no final do dia. Seu colega russo, Anton Silouanov, havia dito em outubro que um possível acordo deveria consistir em adiar uma grande parte dos reembolsos. Além dessa operação, Moscou "não recebeu nenhum pedido" de Caracas para uma assistência adicional, de acordo com o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou que o default 'nunca chegará ao país' Foto: Miraflores Palace/Handout via REUTERS

O adiamento do pagamento dessa dívida está longe de responder à extensão das dificuldades financeiras de Caracas, que busca reestruturar uma dívida total estimada em cerca de US$ 150 bilhões. Somente à Rússia, sua dívida consiste principalmente em vários vencimentos entre as empresas, em relativa opacidade, incluindo US$ 6 bilhões pagos antecipadamente pela companhia petrolífera semi-pública Rosneft para a companhia venezuelana PDVSA.

Para a China, seu principal credor, os especialistas estimam em dezenas de bilhões de dólares os montantes envolvidos. Mas, segundo Pequim, "o governo e o povo venezuelanos têm a capacidade de administrar adequadamente seus próprios assuntos, incluindo o problema da dívida", declarou Geng Shuang, porta-voz do ministério das Relações Exteriores chinês.

+Venezuela e seu default parcial em quatro perguntas

O acordo assinado nesta quarta-feira em Moscou permite "ganhar tempo, porque neste momento a questão da dívida venezuelana não pode mais ser resolvida de forma alguma", explicou à AFP Anton Tabakh, economista chefe da agência de classificação financeira RAEX.

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Uma após a outra, na segunda e terça-feira, as agências de classificação financeira S&P Global Ratings e Fitch decidiram colocar a Venezuela em default parcial, observando que seu governo não quitou, após o período de carência de 30 dias, vencimentos de sua dívida externa.

As duas agências adotaram decisão similar em relação ao grupo petrolífero público PDVSA, criticado por atrasar em até uma semana o pagamento de duas parcelas somando dois bilhões de dólares.

"Somos bons pagadores, apesar do que dizem as agências de rating, o departamento do Tesouro (americano), a União Europeia e Donald Trump", defendeu-se na terça-feira o ministro da Comunicação, Jorge Rodriguez.

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"Não estamos nem aí, pagaremos de comum acordo com os titulares dos bônus da dívida", acrescentou, esperançoso quanto às negociações com os credores sobre a reestruturação da dívida.

A Associação Internacional de Produtos Derivados (ISDA), reunida em Nova York, decidiu não resolver a questão de um calote de 1,161 bilhão da PDVSA, "para obter informações claras sobre o cronograma de pagamentos efetuados".Este comitê especializado composto por 15 empresas financeiras se reunirá novamente na quinta-feira (16) em Nova York.

Temido há semanas, o anúncio de default parcial do país poderia preceder um default geral, ou seja, uma incapacidade total de pagar suas dívidas. 

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Para evitar esse resultado, o presidente Nicolás Maduro convocou na segunda-feira em Caracas os credores internacionais do país, a fim de renegociar os termos dos empréstimos. A reunião, que durou apenas 25 minutos, terminou sem acordo.

Com reservas internacionais de US$ 9,681 bilhões de dólares, a Venezuela deve quitar até o fim do ano cerca de us$ 1,47 bilhão. E, para 2018, tem obrigações de mais de US$ 8 bilhões.

S&P e Fitch também estão preocupadas com as sanções do governo dos Estados Unidos, que proíbem que seus cidadãos e bancos aceitem qualquer acordo das autoridades venezuelanas, o que deve complicar e prolongar as discussões com os credores. Segundo Caracas, 70% deles são norte-americanos (Estados Unidos e Canadá).

O país, que já foi o mais rico da América Latina, corre o risco de ser cortado dos mercados financeiros, assim como a PDVSA, e enfrentar ações judiciais e o bloqueio de ativos e subsidiárias no exterior. / AFP