PUBLICIDADE

Elon Musk quer retomar controle da Tesla para investir em IA: ‘O suficiente para ser influente’

Pedido ocorre após bilionário vender participação na montadora para financiar aquisição bilionária do Twitter, em 2022

Foto do author Guilherme Guerra
Por Guilherme Guerra , Edwin Chan e Linda Lew

O bilionário Elon Musk quer aumentar seu controle sobre a Tesla, dois anos após de ter vendido parte significativa de sua participação na montadora para financiar a aquisição do Twitter por US$ 44 bilhões. Do contrário, o empresário ameaçou ir para outra companhia desenvolver produtos de inteligência artificial (IA) e robótica, tidos como o futuro da empresa de carros elétricos.

PUBLICIDADE

Em várias publicações no X na última segunda-feira, 15, Musk escreveu que, a menos que retome cerca de 25% do controle de voto na Tesla, o bilionário deve criar produtos fora da montadora, na qual é presidente executivo.

“Não me sinto à vontade para fazer com que a Tesla se torne líder em IA e robótica sem ter cerca de 25% do controle de votos (do conselho)”, escreveu no X ontem. “O suficiente para ser influente, mas não tanto que eu não possa ser derrubado (por outros membros)”.

Atualmente, o empresário é o maior acionista da companhia e detém 13% do controle da montadora, fundada por ele em 2003 nos Estados Unidos e responsável por alavancar a sua fortuna e torná-lo o homem mais rico do mundo, com patrimônio avaliado em mais de US$ 200 bilhões em 2023.

Em 2022, Elon Musk decidiu dezenas de bilhões de dólares em ações da Tesla para financiar sua compra da rede social Twitter, cuja aquisição foi finalizada em outubro desse mesmo ano por US$ 44 bilhões. Ainda que bancos e outros nomes tenham entrado na transação, o empresário foi quem deu a maior parte no negócio.

Musk, de 52 anos, elogiou o conselho da Tesla em outras postagens e disse que os diretores estavam esperando por uma decisão do Tribunal de Chancelaria de Delaware antes de preparar outro plano de compensação. A juíza Kathaleen St. J. McCormick (que também presidiu a tentativa malfadada de Musk de sair do acordo com o Twitter) vai decidir um caso apresentado por um acionista da Tesla que alega que o conselho da montadora não exerceu independência de Musk ao elaborar seu prêmio de desempenho de US$ 55 bilhões em 2018.

“Isso se trata principalmente de garantir a quantidade certa de influência de voto na Tesla”, escreveu Musk em uma de suas postagens no X.

Publicidade

Empresário Elon Musk é fundador e presidente executivo da Tesla, montadora de veículos elétricos Foto: Chris J. Ratcliffe/ Bloomberg

Momento difícil para a Tesla

Musk está pressionando o conselho da Tesla em um momento difícil.

A montadora teve seu pior início de ano como empresa de capital aberto, perdendo US$ 94 bilhões em valor de mercado com a desaceleração do crescimento e a redução das margens de lucro.

Recentemente, Elon Musk também teve que responder a uma reportagem do jornal americano Wall Street Journal sobre seu uso de drogas e as preocupações que isso suscitou entre os executivos e diretores de suas empresas, inclusive da Tesla.

As ações da Tesla caíram até 2,7% antes do início do pregão regular desta terça-feira. Com US$ 695,8 bilhões, a capitalização de mercado da empresa aumentou mais de 11 vezes desde que o conselho anunciou o prêmio de remuneração de Musk em janeiro de 2018. Por outro lado, sua avaliação havia atingido um pico de mais de US$ 1,2 trilhão antes de ser fechado o acordo com o Twitter.

PUBLICIDADE

A combinação de prêmios que a Tesla concedeu a Musk em 2009, 2012 e 2018, e a destruição de valor causada pela aquisição do Twitter, resultaram em um marco duvidoso há pouco mais de um ano. Musk se tornou a primeira pessoa a torrar US$ 200 bilhões do seu patrimônio líquido.

Sua fortuna se recuperou no ano passado, pois as ações da Tesla dobraram e a avaliação da Space X, de turismo espacial, disparou. Musk recuperou sua posição no topo do Bloomberg Billionaires Index e agora tem um patrimônio estimado em US$ 206,1 bilhões, cerca de 15% a mais do que o segundo colocado, Jeff Bezos (fundador da Amazon).

Tesla revelou robôs humanoides Optimus, em desenvolvimento interno na montadora Foto: Tesla

Líder em ‘IA do mundo real’

A afirmação de Musk de que “não está se sentindo à vontade para fazer com que a Tesla se torne líder em IA e robótica” vem na sequência de repetidas declarações ao longo dos anos de que a empresa era líder nessas áreas.

Publicidade

A Tesla comercializa produtos que chama de Autopilot e Full Self-Driving (ambos são recursos de suporte ao motorista dos automóveis) e vem desenvolvendo um robô humanoide chamado Optimus.

O CEO também disse aos analistas, em julho passado, que esperava que a Tesla gastasse mais de US$ 1 bilhão no próximo ano no Projeto Dojo, um esforço para tornar a empresa uma participante da supercomputação para fins que incluem o desenvolvimento da capacidade de condução autônoma.

Não vejo comportamento ou escolha de linguagem de Elon Musk beneficiando nenhuma de suas empresas agora

Daniel Kollar, chefe da prática automotiva e de mobilidade da consultoria Intralink

No Dia da IA inaugural da Tesla em agosto de 2021, Musk disse que queria demonstrar que a empresa é mais do que apenas uma montadora e, sem dúvida, a líder em IA no mundo real.

Em julho do ano passado, Musk anunciou a formação da xAI, uma startup que tem como objetivo rivalizar com a OpenAI, apoiada pela Microsoft, e com a Deepmind, do Google. Uma semana depois, um analista perguntou a ele, durante uma chamada de resultados da Tesla, se a nova empresa de IA se sobreporia, competiria ou aumentaria o valor dos esforços de IA da montadora. Ele disse a última opção.

“O que é a Tesla? Uma empresa de automóveis, energia ou IA”, disse Daniel Kollar, chefe da prática automotiva e de mobilidade da consultoria Intralink. “Se não for uma empresa de IA, não vejo problema em criar uma nova empresa.”

“Dito isso”, acrescentou Kollar, “não vejo seu comportamento ou escolha de linguagem beneficiando nenhuma de suas empresas agora.” / COM BLOOMBERG

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.