Estreia de Uber e Airbnb na Bolsa em 2019 põe economia compartilhada à prova

Entre as startups mais valiosas do momento, as empresas que revolucionaram o transporte e a hotelaria terão de garantir que podem lucrar e inovar, mesmo diante da cobrança por resultados; rival do Uber nos EUA, Lyft também vai abrir capital

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Foto do author Bruno Romani
Por Mariana Lima e Bruno Romani
Atualização:
Dara Khosrowshahi, presidente executivo do Uber, tirou empresa do caos e quer levá-la à Bolsa Foto: Anastasiia Sapon/NYT

Uma década após chegarem ao mercado e se tornarem queridinhas do Vale do Silício, Uber, Airbnb e Lyft se preparam para fazer suas estreias na Bolsa de Valores em 2019. Mais do que uma operação para captação de recursos e retorno para os investidores iniciais, o movimento é visto por analistas como uma prova de fogo para a economia compartilhada, paradigma que fez essas empresas revolucionarem os mercados de transporte e de hotelaria. 

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Ao propor negócios que prescindiam de ativos “pesados” – como uma frota de carros ou inúmeros quartos –, essas empresas transformaram indústrias tradicionais e alcançaram valores de mercado na casa de dezenas de bilhões (veja box ao lado). Porém, ao chegarem à Bolsa, terão de provar que são mais do que uma aposta de longo prazo, demonstrando lucros a cada trimestre e dando retorno aos acionistas. 

Quem deve abrir a temporada de ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês), no primeiro trimestre, é o Lyft, maior competidor do Uber nos EUA. Há uma razão para a pressa: por ser menor que o rival, o Lyft precisa abrir capital primeiro para chamar a atenção de investidores. O Uber deve chegar logo depois, até o fim de março. 

Comandado por Dara Khosrowshahi, que assumiu o posto de presidente executivo com a missão de levá-lo à bolsa, o Uber já enviou os primeiros formulários para a Securities and Exchange Commission (SEC), autoridade regulatória americana que fiscaliza companhias de capital aberto. O Airbnb, por sua vez, ainda não tem uma data prevista, mas analistas creem que o IPO deve ocorrer no segundo semestre de 2019. 

Tarefas. Lucrar ainda é uma palavra rara no vocabulário dessas empresas. Fundado em agosto de 2008, o Airbnb, por exemplo, só deu lucro pela primeira vez no segundo semestre de 2016. No ano passado, registrou ganhos de apenas US$ 100 milhões – mesmo já sendo avaliado em US$ 31 bilhões. 

Os números do Uber são ainda mais gritantes: apesar de ser a startup americana mais bem avaliada, em torno de US$ 72,5 bilhões, só passou a ver suas contas no azul no início deste ano, quando se desfez de operações no Sudeste Asiático.

Outra tarefa para essas empresas será provar que são capazes de se manter dentro da lei, obedecendo regulações locais ao redor do mundo. Nem sempre foi assim: tanto Uber como Airbnb se tornaram conhecidos por se expandir primeiro, conquistando os usuários, e depois usarem o sucesso como ferramenta de pressão sobre as autoridades para adequação regulatória. Agora, precisarão ser mais transparentes. 

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Designer, Brian Chesky fundou o Airbnb em 2008 Foto: NYT

“Para a sociedade, o IPO das ‘compartilhadas’ será um ganho enorme”, afirma Victor Vicente, coordenador de comunicação do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS). “Quando governos tiverem acesso aos dados, será possível entender melhor como as empresas da economia compartilhada funcionam. De quebra, poderão fazer projetos de regulação que não afetem a inovação.”

Novas frentes. Há dúvidas ainda se, diante da pressão por resultados, as três empresas conseguirão seguir inovando e criando novas frentes de negócios. No caso do Uber, há apostas no ramo de carros autônomos e em outros modais de transporte, como bicicletas e patinetes elétricos. Já o Airbnb tem buscado se tornar uma solução completa de turismo, oferecendo não só a hospedagem, mas também passeios. 

“Na hora de investir, o mercado vai levar em consideração como as empresas estão se posicionando para expandir para novos mercados”, diz Paulo Furquim de Azevedo, professor de regulação do Insper. “Ampliar negócios normalmente é visto como um defeito, por conta dos gastos, mas aqui é uma virtude.” 

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A chegada das três empresas à Bolsa também se justifica pela necessidade de capital para realizar tais expansões, em um momento em que os primeiros investidores de risco e os funcionários que já receberam ações das startups também buscam realizar seus ganhos. 

No caso de Uber e Airbnb, que juntos já receberam quase US$ 30 bilhões em aportes, é ainda mais necessário diversificar as fontes de obtenção de capital. “A abertura de capital atrai um novo tipo de investidor à empresa, antes restrita aos capitalistas de risco”, diz Alberto Luiz Albertin, professor da FGV. As apostas são altas: em um relatório prospectando o IPO do Uber, o banco Goldman Sachs estimou que a empresa pode valer US$ 120 bilhões em sua estreia na Bolsa. /COLABOROU GIOVANNA WOLF

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