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Conectados o tempo todo, sem perceber o mundo ao redor

Viajar, antes, era se sentir longe de tudo

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Viajar, antes, era se sentir longe de tudo

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* Publicado no Link em 29/10/2012

Pela terceira vez nos últimos dois anos, fui ao Vale do Silício. Mais especificamente, a San Jose, onde fui cobrir a apresentação do iPad Mini. Foi uma viagem curta, de três dias, mas outra vez me peguei pensando como uma região, que é o berço de grande parte da inovação tecnológica do mundo, convive com uma cultura que, ao mesmo tempo, também valoriza um modo de vida mais contemplativo, menos preocupado com as dificuldades da rotina diária, e que busca ver o mundo de uma forma diferente.

Até o aeroporto de São Francisco parece refletir isso. Não há tantas redes de fast-food de megacorporações, mas lanchonetes menores, e hambúrguer não é a alimentação mais presente. A livraria do terminal em que peguei o voo de volta ao Brasil é de uma rede local, chamada Book Inc. É uma das melhores a que já fui. E perdi um bom tempo lá percorrendo os livros (de papel) nas prateleiras, nas quais os funcionários pregam pequenos bilhetes escritos à mão com suas próprias avaliações dos títulos. Ao lado, ainda há uma loja de comida (Napa Farms Market), repleta de produtos feitos na região: cervejas, vinhos, azeites, chocolates. Onde mais você encontra isso num aeroporto, se não no Vale do Silício? Desconheço.

Fiquei com essa ideia. E então que, no avião, lendo a edição mais recente da revista Atlantic (também em papel), vejo um artigo do jornalista Robert D. Kaplan, refletindo sobre como as viagens hoje já não são mais as mesmas exatamente por causa da tecnologia que não nos deixa nos desconectar. "A mídia nos diz como somos sortudos de viver na Era da Informação. Acredito que criamos um inferno na Terra para nós mesmos", escreve.

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Se antes ir a outro país significava se sentir longe de tudo e com todo o tempo livre para conhecer os lugares e as pessoas, hoje as distrações em forma de e-mails, mensagens de texto e telefonemas nos impedem de sentir como é estar em um lugar novo, diferente, inclusive dentro de aeroportos. "Viajar é como um bom e desafiante livro: exige presença", diz Kaplan. "E, como uma leitura séria, viajar se tornou um ato de resistência contra as distrações da era eletrônica."

Acho que ele está certo, e também reflete o que muitos de nós, que já cresceram com a tecnologia, sentem hoje em dia. São cada vez mais raros os momentos que você pode parar, sem interrupções, seja para uma conversa, ler um livro ou visitar um lugar. As longas viagens de avião ainda permitem isso, mas, assim que ele pousa, todos correm para ligar seus aparelhos. Em terra, você tem de se esforçar para não ser tragado pela vontade de responder e enviar e-mails, ou de olhar as atualizações de pessoas no Facebook com as quais poucas vezes teve tempo de conversar de verdade.

Curiosamente, agora a Apple tem um tablet ainda menor, que é ainda mais portátil, pronto para encher a vida de mais pessoas com distrações do tipo. Mas já há sinais de que a própria tecnologia esteja se adaptando à necessidade de se desconectar. O iOS 6 - a versão mais recente do sistema da Apple para celulares e tablets - tem uma função chamada "Não perturbe". Ela é o equivalente ao "modo silencioso", mas para os smartphones conectados, exatamente para que você não seja distraído por um alerta do Song Pop ou até por uma chamada telefônica enquanto lê um artigo de uma revista (se a mesma pessoa ligar outra vez em seguida, aí o celular toca).

Talvez a mesma a cultura do Vale do Silício (que não está restrita à região) possa trazer algo novo também para as gerações que vão, sim, querer ter uma conexão ubíqua, mas que também poderão escolher melhor quando checar a última foto do Instagram ou prestar atenção na conversa com a pessoa ao lado, para que o "inferno" relatado por Kaplan não seja um duto sem saída.

App Date. Participo amanhã da 10ª edição do A pp Date em São Paulo (Av. Das Nações Unidas, 12.399, às 20h), do qual o Link faz o apoio editorial. Vou mediar uma conversa com Alexandre Gomes, diretor do PagZoop, que desenvolve uma máquina de cartão crédito e débito adaptada a smartphones.

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- o Coluna anterior15/10: A evolução da tecnologia virá das empresas menores

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