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Menos de 15% das escolas públicas tinham plataformas online antes da pandemia, diz pesquisa

Estudo feito pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação no segundo semestre do ano passado mostrou como os alunos acessam a internet em escolas privadas e públicas

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Foto do author Bruna Arimathea
No período analisado pela pesquisa, 39% dos alunos de escola pública não possuíam tablets, notebooks ou desktops Foto: Governo de São Paulo

Apenas 14% das escolas públicas brasileiras possuíam plataforma online de ensino em 2019. Foi o que mostrou a pesquisa TIC Educação, ligado ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), que reúne dados sobre o acesso à computadores e internet por alunos escolas públicas e privadas. A pesquisa foi feita de agosto a dezembro de 2019, antes da pandemia de coronavírus, mas, de acordo com Daniela Costa, coordenadora da pesquisa, traz dados importantes para entender como o ensino remoto em todo o Brasil está sendo feito durante a quarentena.

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Entre os recursos de comunicação que estavam disponíveis nas escolas no período, 64% das escolas particulares da zona urbana já trabalhavam com algum ambiente ou plataforma virtual de aprendizagem, enquanto apenas 14% das escolas públicas possuíam o recurso. 

“Todos nós fomos pegos de surpresa. Claro que as escolas estavam, antes da pandemia, em um processo de desenvolvimento tecnológico e de integração das práticas tecnológicas no currículo. Não houve um planejamento pra fazer essa migração da noite para o dia. As escolas particulares já tinham essa plataforma baseada em ensino a distância, essas já estavam melhor condições. Mas o mesmo certamente não é válido para as escolas públicas”, afirma Alexandre Barbosa, gerente do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). 

A diferença entre as escolas particulares e públicas está presente também em outros quesitos. Sem plataformas específicas para o ensino, muitos alunos das escolas públicas recorreram à outros canais para estudar e fazer seus trabalhos. No estudo, 65% deles afirmaram fazer trabalhos pela internet e 56% utilizavam o celular para realizar tarefas escolares.

“Esses dados já revelam alguma desigualdade no Brasil. Isso tem a ver com o acesso à internet, não só na escola, mas também em seus domicílios. Outro aspecto importante é em relação aos aparelhos que estão sendo utilizado, principalmente aqueles alunos que utilizam o celular como forma de acesso à internet. As desigualdades no Brasil se tornaram ainda mais evidente nesses últimos três meses”, explica Barbosa. 

A conectividade de internet também é parte importante analisada pela pesquisa, uma vez que a banda larga de internet ainda não chega em todas as partes do País. No total de alunos de escolas urbanas, entre escolas públicas e particulares, 88% dos estudantes do Sudeste tem acesso a internet, enquanto na região Norte e Nordeste, a porcentagem fica entre 73% e 78%. 

Quando analisado o número de alunos que acessam a internet em casa, o número sobe para 94%. Entretanto, Daniela explica que, apesar da estimativa, os dados não significam que esses estudantes tenham um ponto de internet em casa ou mesmo computadores. Entre alunos de escolas públicas, por exemplo, 39% não possuíam tablets, notebooks ou desktops. Nesse recorte, 18% desses alunos urbanos acessam a internet exclusivamente pelo celular.

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No contexto das escolas rurais, os dados mostram ainda a dificuldade em termos de tecnologia. No total, apenas 40% das escolas rurais possuíam ao menos um computador e 9% delas acessavam a internet por outros dispositivos.

“Quanto mais os professores estão prontos nessa mediação entre os alunos via internet melhor”, diz Daniela. Para fazer o uso de tecnologia nas escolas com os alunos, os professores de escolas urbanas reportaram problemas de infraestrutura e dificuldade de acesso à internet, que dificultava muito esse tipo de trabalho com o estudantes. 

No acesso à internet dentro das escolas, menos de 50% dos alunos disseram utilizar o recurso. Segundo Daniela, esse dado aponta para as restrições das escolas, de não compartilhar a internet com os alunos por motivos de capacidade, ou por priorizar o acesso apenas para laboratórios de informática, por exemplo, não utilizando o recurso nas salas de aula na maioria das vezes. 

Os professores reportaram também que faltam cursos de especialização do uso de tecnologia em sala de aula com os alunos. Segundo a pesquisa, os professores costumam aprender como fazer uso desses recursos com tutoriais na internet, outros professores e até mesmo com familiares. 

“Se antes era difícil 30 alunos numa sala de aula todos em uma faixa de aprendizagem, agora será muito mais, porque cada um deles vivenciou uma forma diferente no ensino durante esse período. O que temos nesse momento é um ensino remoto. A educação à distância precisa de uma série de aspectos para que aconteça. Esse é um momento emergencial, está sendo feito o que é possível e escolas e alunos estão buscando maneiras de fazer isso acontecer”, afirma Daniela.

* é estagiária sob supervisão do editor Bruno Capelas 

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