ENTREVISTA-Presidenciáveis carecem de comunicação efetiva com Classe C, diz Data Popular

Os principais candidatos à Presidência da República vêm tendo dificuldades para estabelecer uma comunicação efetiva com o eleitorado da Classe C, grupo que representa nada menos que 56 por cento das pessoas que podem ir às urnas, avalia Renato Meirelles, presidente do instituto de pesquisa Data Popular, especializado neste segmento. A presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, assumiu a liderança entre esse eleitorado nas últimas pesquisas, saindo de um empate com a rival do PSB, Marina Silva. Para Meirelles, porém, a razão para isso é a "gratidão" daqueles que ascenderam à classe média nos quase 12 anos de governo do PT. "Na minha avaliação nenhuma das candidaturas se comunica bem com a Classe C, nenhuma", disse Meirelles em entrevista por telefone. "A história dos 12 anos do Lula com Dilma são mais fortes hoje do que a capacidade de comunicação que a oposição está tendo. Não quer dizer que a Dilma consegue se comunicar efetivamente, não é isso. Essas pessoas entraram na classe média muito por conta da última década de governo do país." Segundo o Data Popular, a Classe C é o grupo de renda familiar entre 1.792 reais e 3.273 reais mensais. Levantamento do Datafolha divulgado no último dia 26 mostrou que entre o grupo com renda familiar de mais de dois a cinco salários mínimos --o que mais se enquadra na definição do Data Popular-- Dilma tem 37 por cento das intenções de voto, contra 30 por cento de Marina e 20 por cento de Aécio Neves (PSDB). Nessa faixa, segundo o Datafolha, a soma de brancos, nulos e indecisos é de 10 por cento. Na pesquisa anterior do instituto, Dilma e Marina estavam empatadas na preferência deste eleitorado, com 34 por cento cada. O distanciamento da petista em relação à candidata do PSB na simulação de segundo turno também coincide com a liderança de Dilma entre a Classe C. Para Meirelles, apesar da gratidão desse eleitorado emergente em relação ao governo petista, a oposição tem condições de capturar essa parcela de eleitores. Ele explica que o eleitorado mais jovem da Classe C não tem a lembrança do desemprego como o mais velho e, embora reconheça que o ambiente econômico na última década foi favorável, atribui a sua melhora de vida mais a seu esforço do que ao governo. "Essa Classe C tem uma vontade de mudar, de experimentar alguma coisa diferente, mas não está enxergando nas candidaturas de oposição uma alternativa segura de mudança", disse. "Boa parte do tempo da propaganda eleitoral tem sido para desqualificar o outro candidato... e isso só afasta a Classe C do universo político e faz com que ela tenha dúvidas sobre para que lado ir."

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Por EDUARDO SIMÕES
Atualização:

MITO E CANDIDATA

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Para o presidente do Data Popular, a Classe C está órfã de uma oratória mais propositiva por parte dos presidenciáveis. Também pesa a dificuldade que eles têm para traduzir para o cotidiano os temas que têm centralizado a disputa.

"As pessoas ficam discutindo índice de inflação em vez de discutir o impacto que isso tem na vida das pessoas. Se fala da corrupção e da questão da Petrobras, mas as pessoas não conseguem traduzir isso para uma questão cotidiana", disse.

"O eleitorado da Classe C está mais interessado em saber que diabos determinados assuntos têm a ver com a vida dele, com as propostas que elas (candidaturas) têm para o futuro do país", afirmou.

A falta de comunicação efetiva com a Classe C, porém, não significa que não haja lampejos. Um exemplo foi Aécio no debate na TV Record.

O tucano comparou os recursos que teriam sido desviados com a corrupção na Petrobras com o número de creches que poderiam ser construídas com esse dinheiro e com o número de crianças que poderiam ser atendidas.

Outro exemplo foi uma peça de propaganda da campanha petista, que mostrava supostos efeitos negativos sobre salários e empregos da proposta de autonomia legal do Banco Central, defendida por Marina.

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Na avaliação do presidente do Data Popular, o discurso de "nova política" adotado por Marina repercutiu bem junto a este eleitorado logo que ela assumiu a cabeça de chapa do PSB, em meados de agosto, mas as críticas de seus adversários desgastaram sua candidatura.

"A Marina como mito é mais forte do que a Marina como candidata", avaliou Meirelles. Para ele, a velocidade da perda de terreno da candidata do PSB e a capacidade de Aécio de "colar" em candidaturas bem-sucedidas em colégios eleitorais importantes determinarão quem enfrentará Dilma no segundo turno.

"Eu talvez seja um dos poucos analistas que afirmou que não é dado que a Marina estará no segundo turno", disse. "Não é o cenário mais provável, mas é um cenário que eu acho bem possível de acontecer. Não vai me surpreender se o Aécio for para o segundo turno", disse.

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