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EUA não podem ignorar questão racial, diz Obama

Pré-candidato democrata à Casa Branca critica pastor por sermões 'ofensivos'.

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O senador Barack Obama, pré-candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, afirmou em discurso nesta terça-feira que a questão racial é um tema que o país "não pode se dar ao direito de ignorar neste momento". Obama fez a afirmação ao comentar declarações do pastor Jeremiah Wright, da igreja freqüentada pelo pré-candidato em Chicago, cidade onde vive. Durante sermões que foram parar na internet, Jeremiah Wright fez afirmações carregadas de temática racial que foram consideradas inflamatórias. Segundo Obama, as frases de Wright "ofenderam igualmente a brancos e negros", mas a questão racial não pode ser ignorada porque, dessa forma, os americanos "estariam cometendo o mesmo erro que o reverendo Wright cometeu em seus sermões ofensivos sobre os Estados Unidos: simplificar, estereotipar e ampliar o que é negativo até o ponto em que a realidade fica distorcida". Obama vinha procurando se distanciar da questão racial por avaliar que enfatizar o tema poderia estigmatizar a sua candidatura e causar mais danos do que benefícios. Mas, após os eventos das últimas semanas e da tensão gerada pelas observações de Jeremiah Wright, o próprio Obama tomou a iniciativa de abordar o tema. Lewinsky Em um dos comentários, Wright disse que foi a política externa americana que fez com que os ataques de 11 de setembro de 2001 fossem lançados contra o país. Em outro, o pastor afirmou que os negros deveriam cantar Deus Amaldiçoe a América, em vez de Deus Abençoe a América (título de uma música patriótica do início do século 20), devido aos preconceitos sofridos pelos afro-americanos. Wright também declarou que, ao contrário da rival de Obama na disputa da candidatura democrata, a senadora Hillary Clinton, Obama não é rico e privilegiado, daí as restrições que alguns expressam em relação à sua candidatura. O pastor também comentou que Bill Clinton não foi bom para os negros e que ele queria fazer com os afro-americanos o mesmo que fez com Monica Lewinsky. Segundo Obama, os comentários do pastor - que batizou suas filhas e que realizou o seu casamento - "expressaram uma visão profundamente distorcida deste país". Uma visão, acrescentou o senador, "que vê o racismo como sendo algo endêmico e que sobrepõe tudo o que há de errado em relação aos Estados Unidos contra tudo o que há de certo em relação aos Estados Unidos". Tema recorrente A questão racial tem se tornado um tema cada vez mais presente na disputa democrata. Na semana passada, a ex-candidata a vice-presidente pelo partido Geraldine Ferraro afirmou que Obama não estaria na atual posição se fosse branco. Os comentários obrigaram Ferraro a abandonar a campanha de Hillary Clinton, para a qual vinha angariando recursos. Ao fazer campanha para sua mulher, o ex-presidente Bill Clinton foi acusado de ter tentado explorar a questão racial durante as primárias do Estado da Carolina do Sul. Após a vitória de Obama no Estado, que conta com grande número de eleitores negros, Clinton tentou condicionar a vitória ao fato de o senador ser também um afro-americano. Clinton lembrou que o reverendo Jesse Jackson, um dos grandes lideres da comunidade negra, também havia vencido uma primária no Estado. Antes disso, a campanha de Obama acusou Hillary Clinton de tentar minimizar o papel de Martin Luther King. No início da disputa entre os dois candidatos, a senadora afirmou que foi preciso que um presidente eleito, o democrata Lyndon Johnson, implantasse a política de direitos civis defendida por King para que ela fosse adotada como lei. O fato, ainda que historicamente correto, foi refutado pelos correligionários de Obama, mas alguns democratas negros saíram em defesa da senadora. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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