Rússia tem expectativa da visita de Lula ao Irã, diz diplomata

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Por FERNANDO EXMAN
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O governo russo tem grande expectativa em relação à viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Irã, afirmou nesta quarta-feira o embaixador do Brasil na Rússia, Carlos Antonio da Rocha Paranhos. Lula visitará Moscou entre quinta e sexta-feira, de onde segue para o Catar. Em seguida, vai a Teerã entre os dias 15 e 17. Lula tenta em sua visita ao Irã conquistar para o Brasil um maior espaço político na cena internacional, embora o movimento seja visto com ceticismo por outros países e setores da opinião pública doméstica. Lideradas pelos EUA, potências ocidentais acusam Teerã de buscar a fabricação de armas nucleares e defendem a aplicação de novas sanções contra o país persa pela Organização das Nações Unidas (ONU). O governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad nega ter tal intenção, alegando que seu programa nuclear tem fins pacíficos. As potências ocidentais alertam que o Irã está aproveitando a iniciativa do Brasil para ganhar tempo na disputa. "Tem muita expectativa (por parte do governo russo) na visita do presidente", disse o embaixador a jornalistas. "Acho que hoje não se pode dizer que a Rússia apoiaria automaticamente novas sanções." A Rússia, que tem poder veto no Conselho de Segurança da ONU, é um dos protagonistas nas negociações sobre o programa nuclear iraniano. O Brasil mantém um programa nuclear para fins pacíficos, sobretudo para gerar eletricidade, tem em sua Constituição um veto ao uso da tecnologia para a construção de armas nucleares e defende que o Irã tenha o mesmo direito. Segundo o diplomata brasileiro, a Rússia também tem argumentado que há ainda espaço para negociações com a República Islâmica e não apoiaria sanções que "paralisem a economia ou criem problemas sérios para a população". "A Rússia tem uma relação muito tradicional e intensa com o Irã, inclusive relações comerciais importantes", comentou Paranhos. "A Rússia tem também uma parceria nuclear (com o Irã)." Além de tratar da questão iraniana, Lula e o presidente russo, Dmitry Medvedev, assinarão na sexta-feira um plano de ação listando as principais áreas em que as relações bilaterais devem avançar nos próximos anos. Uma delas é a cooperação no setor de energia. Segundo o embaixador, os russos acreditam que podem aproveitar a exploração da camada pré-sal para fechar negócios na área de liquefação de gás natural e construção de meios para transportar o gás explorado em alto mar até o continente. A Grazprom, estatal russa do setor, prevê abrir um escritório no Rio de Janeiro. Os russos também têm o interesse em construir pequenas usinas nucleares para a geração de eletricidade no Brasil, disse Paranhos. Mas nenhum acordo específico no segmento será assinado durante a visita de Lula a Moscou. "Isso vai ter que ser objeto de entendimento entre empresas", explicou. Os dois presidentes anunciarão também que o acordo de isenção de vistos assinado em 2008 entrará em vigor em junho.

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