Opinião | Catástrofe no mercado de trabalho do Rio Grande do Sul

Evento climático extremo gerou catástrofe no mercado de trabalho gaúcho, com repercussões negativas em todos os segmentos econômicos

Por Pablo Lira

Passados dois meses de uma das maiores catástrofes climáticas do País, o Rio Grande do Sul segue dimensionando a magnitude e intensidade dos impactos sociais, ambientais e econômicos.

De acordo com a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, 182 pessoas morreram em decorrência das fortes chuvas e enchentes desde o último dia 29 de abril. O Estado computou 806 pessoas feridas e mais de 440 mil pessoas fora de casa. O citado evento climático extremo impactou 2,4 milhões de pessoas, com efeitos diretos em 478 dos 497 municípios gaúchos.

No final de junho, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgou os dados mais atualizados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que retratam o mercado de trabalho formal.

O Brasil contabilizou um crescimento de 0,28% no estoque de empregos formais em maio de 2024. Acre (+0,86%), Espírito Santo (+0,81%) e Roraima (+0,68%) foram os três Estados que computaram os maiores aumentos, conforme calculado pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN). Todas as Unidades da Federação (UFs) apresentaram variações positivas no mercado de trabalho (ver gráfico).

O Rio Grande do Sul foi o único Estado brasileiro que registrou redução no estoque de emprego formal em maio, queda forte de -0,78%. Nesse mês foram evidenciadas 94.129 admissões com carteira assinada no Estado. Porém, ao mesmo tempo foram contabilizados 116.309 desligamentos, o que impactou em um saldo negativo de -22.180 postos de trabalho. Esse foi o pior saldo de empregos para o mês de maio desde 2020, quando o Rio Grande do Sul sofreu os efeitos de um dos períodos mais graves da pandemia da covid-19 e chegou a um saldo de -38.154 postos.

Em maio de 2024, todos os segmentos econômicos apresentaram diminuições significativas no saldo de empregos formais no Rio Grande do Sul. A maior queda ocorreu na indústria (-6.586 vagas), com destaque para o saldo negativo da indústria de transformação (-6.533 postos de trabalho). Na sequência, o comércio amargou um saldo de -5.520 empregos. A agropecuária, serviços e construção também evidenciaram saldos de empregos negativos de -4.318, -4.226 e -1.530 postos de trabalho, respectivamente.

Tais evidências demonstram que o evento climático extremo que afetou o Rio Grande do Sul desdobrou uma verdadeira catástrofe no mercado de trabalho gaúcho, com repercussões negativas em todos os segmentos econômicos.

O Brasil está mobilizado apoiando a reconstrução do Rio Grande do Sul. Outras UFs e o governo federal vêm mobilizando e disponibilizando recursos operacionais e financeiros para ajudar a reerguer o Estado, que mesmo assim ainda vai levar alguns meses para voltar a apresentar recuperação no desempenho econômico e na geração de emprego e renda.

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DOUTOR EM GEOGRAFIA E MESTRE EM ARQUITETURA E URBANISMO (UFES), DIRETOR-PRESIDENTE DO INSTITUTO JONES DOS SANTOS NEVES (IJSN), É PROFESSOR DA UNIVERSIDADE VILA VELHA (UVV)

Opinião por Pablo Lira

Doutor em Geografia e mestre em Arquitetura e Urbanismo (Ufes), diretor-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), é professor da Universidade Vila Velha (UVV)

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