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Opinião|Evasão no ensino superior

Brasil precisa de mais políticas abrangentes de permanência dos jovens no ensino superior

Nos últimos meses, dados alarmantes sobre o cenário do ensino superior no Brasil vieram à tona, principalmente no que se refere à evasão escolar. Segundo o Censo do Ensino Superior, aproximadamente 80% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos não estão matriculados na faculdade e 32,3% nem sequer concluíram o ensino médio. Os números revelam que, em 2022, havia quase 23 milhões de vagas disponíveis, porém apenas 4,7 milhões delas foram preenchidas. Nas instituições de ensino privadas, mais de 80% das vagas permanecem ociosas, enquanto nas instituições públicas a taxa de vagas ociosas chega a quase 40%.

Comparando o Brasil com os principais países do mundo, observamos uma forte correlação entre a permanência dos estudantes no ensino superior e políticas eficazes para isso. Em muitas nações, os jovens são incentivados a adiar sua entrada no mercado de trabalho em favor de uma educação mais qualificada, o que é benéfico para todas as partes envolvidas. Essa abordagem é vantajosa para os próprios jovens, para o país e contribui para o crescimento econômico.

No entanto, o Brasil parece seguir um caminho oposto. Muitos estudantes são obrigados a trabalhar, o que os impede de se dedicarem integralmente aos estudos. As barreiras socioeconômicas agravam o problema, tornando a evasão um desafio significativo. De acordo com o Mapa do Ensino Superior no Brasil, do Instituto Semesp, 80% das instituições de ensino superior são privadas, e a maioria dos estudantes que ingressa nessas instituições tem uma renda de até três salários mínimos – e 45% deles com renda de até 1,5 salário mínimo. Isso ressalta a importância de aprofundar nossa análise sobre as causas da evasão.

Os números revelam um desequilíbrio preocupante no investimento em educação e na falta de programas de permanência nas principais universidades brasileiras. É preciso buscar esse equilíbrio, já que há solução.

O Brasil precisa de mais políticas de permanência dos jovens no ensino superior. É evidente que a educação de qualidade é um investimento essencial para o desenvolvimento do País. Uma formação sólida nas principais universidades do Brasil prepara uma geração mais capacitada para enfrentar os desafios do mundo do trabalho, o que, por sua vez, contribui para o crescimento econômico. No entanto, os dados recentes demonstram que estamos na contramão dessa tendência.

Neste contexto, é fundamental que o Brasil desenvolva mais políticas abrangentes de permanência dos jovens no ensino superior, pois as que temos hoje são insuficientes. Essas políticas devem incluir apoio financeiro, moradia e acesso à alimentação, reconhecendo que a educação de qualidade é um investimento essencial para todos.

Considerando os benefícios econômicos e sociais dessa abordagem, é crucial que o País seja proativo na criação de políticas que incentivem a permanência dos jovens no ensino superior. É chegada a hora de promover uma transformação significativa no cenário educacional brasileiro e garantir que todos tenham igualdade de oportunidades no acesso à educação superior de qualidade.

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DIRETOR DO CURSINHO DA POLI, É PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO POLISABER

Opinião por Gilberto Alvarez