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Opinião|A franquia social poderia mudar o Brasil - de dentro do Brasil

Com a multiplicação do trabalho em forma de ONG autossustentável, a franquia social pode ser usada em lugares carentes para melhorar a vida dos moradores pelos próprios moradores

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Por Redação
Atualização:

Cá estou em um voo para Chapecó (SC), depois de uma semana em outros voos, que me levaram a descobrir, ainda mais, quem eu já conhecia ou pensava conhecer tão bem; a ser apresentada a um encantador idealista ou ideologista (se é que existe esta palavra) prático radical, por quem me encantei. E agora me vejo sentada ao lado de um senhor pedreiro, do Piauí, que constrói arranha-céus ou prédios corporativos, cria gado em um sítio e quer diversificar seus investimentos, assim diz ele.

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Um outro empresário, cliente e amigo, a quem dei parte do suporte para a organização da estrutura para uma de suas ações sociais, cuja marca é Amor a Mais, esteve comigo dia desses. Por todos estes rostos, diálogos e propósitos tão similares, ao longo de uma semana de tantas idas e vindas Brasil afora, me sinto abençoada e privilegiada.

Como acredito que nada é por acaso, o tema deste artigo me veio como opção hoje, ao conhecer este senhor do Piauí, um empreendedor nato, que, em função de muitas dificuldades surgidas na região em que habita, busca oportunidades na vida por este Brasilzão. Vive apenas uma semana, a cada 60 dias, em sua casa com esposa e filhos. O resto do tempo está ora em São Paulo, ora em outros Estados (ES, BA, SC, PR, MS).

Se a gente pensar que este povo poderia ter oportunidade perto de seus lares, de seus pais e filhos, a partir de ONGs estruturadas para gerar emprego e renda para estas famílias, não pediríamos recursos às empresas privadas nem às prefeituras ou governos. E não daríamos chance às propinas ou dinheiro sem origem, se as boas práticas de governança corporativa fossem implementadas, por meio dos conjuntos de processos, costumes e leis que viessem a nortear a forma como cada uma das organizações fosse administrada.

Empresários e investidores teriam a transparência que precisam, para escolher em que ONG investir, suportar como projeto até que elas se tornassem autossustentáveis. A estrutura de multiplicação da missão de ONGs autossustentáveis é a franquia social em sua essência.

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Viajando pelo Brasil - nem sempre tão distante, a gente se depara com tanta diferença! Em qualquer interior próximo a uma das capitais brasileiras, já muda a cor do ar, do céu e das roupas para um tom terroso. Os sorrisos passam a ter menos dentes, as mãos passam a ser calejadas e, quanto às roupas, pode ser que a gente encontre uma peça que já foi nossa em um corpo que não é de quem doou aquela peça.

Comunidade no interior de Alagoas. Foto: Wilton Junior/Estadão

Nas conversas em volta de uma mesa em que muitos de nossa elite já se sentaram, me peguei surpresa com o engajamento daquele idealista prático em podermos dar a todos o que é de todos: saúde, medicamentos, educação, comida, conforto. O poder que ele tem, devido à sua cultura e à sua visão de vida, suas histórias e a diferença que ele faz por onde passa, o faz querido e as portas se abrem, já que ele é "o cara", parafraseando Roberto Carlos.

Fiquei maluca por ele, pensando nos projetos de franquias sociais que já realizei, quanto o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) já aportou em alguns deles, quanto me realizaram pelo tanto de pessoas que passaram a ser atendidas por eles. E, na última viagem de ida desta semana, senta-se ao meu lado o adorável nordestino, de fala fácil - tirando algumas muitas palavras, ou frases, impossíveis de compreender, simpatia típica do nordestino, que torna esta "madrugada" a trabalho deliciosa.

Ele pensa em investir numa loja para a esposa poder ter "seus próprios dinheiros". E começamos a conversar sobre negócios, marcas, o que faço de trabalho como consultora de negócios e investimentos, como fazer para escolher no que investir. Fiquei de enviar a nossa série de artigos para empreender para ele. Quer estudar com a esposa, lá no interior do Piauí como diversificar a entrada de rendimento.

O que muda com a franquia social

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A franquia social entra nas vidas de pessoas como o sr. Pedreiro como geração de renda, como trabalho na terra em que nasceu e foi criado. Ele, que tem saúde e uma situação estável, poderia trabalhar para os maiores necessitados em sua região. Sem precisar sair de Sergipe rumo ao Sul para ganhar o seu sustento e de sua família.

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Assim como os doentes, carentes ou necessitados, pois seriam atendidos gratuitamente pelas ONGs, cada uma com sua especialidade, que atuariam embasadas por outras que as ensinariam a atuar de forma profissionalizada, estruturada, recebendo de quem pode pagar - inclusive pacientes, estudantes privados, e de programas de incentivo às universidades e empresas que quisessem apoiar projetos de ONGs.

Uma ONG profissional com estrutura e conhecimento para atender determinado público vende seu conhecimento a outra menor, que reproduzirá, da melhor forma, tudo o que aprender com a ONG mãe. E assim vão se multiplicando e causando impacto social virtuoso por onde forem instaladas. E todos vão querer colaborar, financeira ou presencialmente. E o Brasil poderia efetivamente mudar, diminuir as diferenças, gerar empregos, receitas e pessoas cuidadas. E nós teríamos muito mais orgulho e, talvez, não precisaríamos mais trancar as portas nem ligar os alarmes.

Eu e meu novo amigo do bem (o da ideologia, lembra?) estaríamos realizados pelos resultados que se traduziriam em sorrisos de bocas completas de dentes, barrigas sem vermes, adultos alfabetizados e não pelos palcos que promovem mais egos do que pessoas. Continuaríamos na discrição, apenas pelos palcos da vida.

P.S. Os nomes das pessoas não foram expostos, porque sim...

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* Ana Vecchi é consultora de empresas, CEO na Ana Vecchi Business Consulting, professora universitária e de MBAs, pós-graduada em marketing e com MBA em varejo e franquias. Atua no franchising há 28 anos em inteligência na criação e na expansão de negócios em rede.

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