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Como a digitalização mudou a rotina de venda dos pequenos negócios no Brasil

Pesquisa aponta presença de 99% de celulares com internet nos empreendimentos; uso do Pix supera dinheiro físico

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Foto do author Shagaly Ferreira
Por Shagaly Ferreira
Atualização:

As tecnologias digitais como recurso para marketing e vendas no Brasil deixaram de ser realidade restrita às grandes companhias. O uso dessas ferramentas nas micro e pequenas empresas tem avançado a passos largos nos últimos cinco anos, tendo como protagonista o celular. No aparelho, a utilização majoritária do WhatsApp e do Pix complementam a transição em curso. A constatação é da pesquisa inédita Transformação Digital nos Pequenos Negócios, realizada pelo Sebrae, com base em dados de 2022.

Conforme o levantamento obtido pelo Estadão, os telefones móveis já estão presentes em 100% dos pequenos negócios, sendo que 99% deles têm acesso à Internet - um aumento de 17 pontos porcentuais desde a última sondagem, em 2018. Já os computadores perderam levemente o espaço, caindo para 70% de utilização diante dos 74% registrados cinco anos antes.

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Na pesquisa, foram ouvidos 6.345 empreendedores entre 25 de julho e 27 de setembro, em uma amostragem formada por microempreendedores individuais (MEI) e por gestores de microempresas (ME) e de empresas de pequeno porte (EPP) de todas as regiões do País. Os participantes consultados são dos setores de comércio, construção e serviços.

Segundo o analista de gestão estratégica do Sebrae, Marco Aurélio Bedê, a digitalização nos pequenos negócios está acompanhando um movimento natural de universalização do celular como principal meio de acesso à rede. “Identificamos o crescimento do uso da maior parte das ferramentas, com algumas exceções, como o tablet. Mas a base da economia digital, que é a Internet e os equipamentos mais rápidos de uso dela - como é o caso do celular - não só se popularizou como também se tornou universal”, explica.

A microempreendedora Aline Santos, de 33 anos, que adaptou seu negócio para acesso totalmente digital, inclusive para quem tem apenas smartphone, faz parte da tendência. Professora de Inglês há 13 anos, ela chegou a dar aulas presenciais, que resultavam em deslocamento entre longas distâncias e menos clientes. Com a pandemia de Covid-19, ela investiu na educação à distância e decidiu manter o formato remoto, que lhe permite ter até seis alunos por dia, de vários Estados brasileiros, sem sair de sua casa em São Paulo.

Além das aulas, Aline administra um perfil no Instagram com postagens educativas em língua inglesa. “Hoje em dia, eu não me vejo mais trabalhando presencialmente. Eu perderia alunos, se não fosse a aula online. Agora, eu posso ser uma nômade digital e trabalhar de qualquer lugar, desde que tenha um bom acesso à Internet”.

Pix em alta

Os canais digitais também são utilizados pelos empreendedores para vendas. O destaque, segundo a pesquisa, é o aplicativo Whatsapp, adotado por 74% dos entrevistados. As redes sociais aparecem em seguida, auxiliando 42% do público. Já o Pix, com apenas dois anos de operação, assumiu a liderança nas pequenas empresas, sendo incorporado por 84% delas. O dinheiro em espécie e o cartão aparecem nas segunda e terceira posições, respectivamente.

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A microempreendedora Aline Santos, que dá aulas particulares de inglês a distância Foto: Felipe Rau/Estadão

Bedê explica que o sucesso do Pix no setor se deve à simplicidade da ferramenta. “O Pix tem características que são bem-vindas para o empreendedor de pequeno negócio: a burocracia e o custo são zero, e o recurso entra automaticamente na conta, melhorando a liquidez. Para ele, o formato é uma grande revolução positiva”, avalia.

Antes adepta do recebimento em dinheiro das mensalidades, a professora Aline prefere hoje a praticidade do Pix. “Eu tinha aluno que só me pagava em espécie, e eu ficava morrendo de medo de sair na rua. Hoje, é 100% Pix. Me deu muita vantagem. Os estudantes pagam na hora e o dinheiro entra na hora, é muito mais prático”, diz a microempreendedora.

Desafios

Mas nem tudo é fácil nessa adesão. Comerciante há três décadas, Joyce Vieira, de 58 anos, é dona de uma loja de cortinas na Bahia. Mesmo acompanhando a evolução digital, já esbarrou nos desafios das tecnologias mais complexas. O empreendimento, antes somente físico, chegou a ter um site para vendas em 2020, mas precisou ser descontinuado no ano passado por dificuldades na manutenção.

Joyce Vieira, dona de uma loja de cortinas na Bahia Foto: Derik Reis

Hoje, ela optou pela publicação regular de conteúdos nas redes sociais e trocou o site pelo Whatsapp nas negociações. “O pequeno empreendedor tem uma jornada difícil. Há mais concorrência e a gente precisa estar se renovando a todo o momento. Então, a gente tem de estar em todos esses meios. Estou na loja física, no ateliê e também nos meios digitais”, conta.

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Apesar da crescente adesão à inovação nos pequenos negócios, a presença no ambiente online não significa necessariamente que as ferramentas têm sido eficazes para o empreendedor, pondera a especialista em gestão de pequenos negócios Flávia Paixão. Ela lembra que a pandemia contribuiu para acelerar a digitalização, mas encontrou um público ainda pouco preparado para essa mudança, resultando em perfis abandonados ou sites suspensos, como no caso de Joyce.

Para Flávia, diante da transformação digital, as pequenas empresas precisam investir no mínimo de suporte para, de fato, vivenciarem os benefícios da tecnologia. “Hoje, o digital possibilita chegar no cliente, fortalecer a marca, gerar uma conexão de uma forma mais acessível, só que as pessoas não estão tendo a formação que o empreendedor precisa. Para conseguir resultado dessas plataformas, é necessário saber como usá-las”, defende.

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