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Apps de delivery alternativos cobram menos taxas e prometem comida até 30% mais barata

Aplicativo busca remuneração maior para restaurantes e entregadores, enquanto empresa desenvolve sistemas de entrega própria para estabelecimentos; desafio é superar líder iFood

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Por João Scheller
Atualização:

Negócios novos de entrega de comida propõem cobrar taxas até 60% menores de restaurantes e com até 30% de desconto para o consumidor final.

A dificuldade é que eles são pouco conhecidos e não conseguem chegar aos clientes, em um mercado dominado por plataformas como iFood e Rappi.

Aplicativo cobra menos de restaurante

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O AppJusto, por exemplo, é uma plataforma de delivery de alimentos que surgiu a partir das demandas dos entregadores de comida, na esteira dos protestos realizados pela categoria durante os primeiros meses da pandemia. O aplicativo funciona no formato marketplace, onde os restaurantes se cadastram e oferecem seus produtos junto de outros estabelecimentos, no mesmo modelo de concorrentes como Rappi e iFood.

A empresa opera na cidade de São Paulo e cobra taxas de 5% dos restaurantes, com acréscimo de 1% a 2,4% pelo uso da infraestrutura de pagamentos via aplicativo. Para os entregadores, paga R$ 10 em deslocamentos de até 5 km.

O iFood, cobra taxa de cerca de 20% dos restaurantes para utilização da plataforma e sistema de entrega, com acréscimo de 3% para pagamentos via app. Para os motoboys, a tarifa paga pela rota mínima, que na maioria das cidades é de 5km, é de R$ 6,50.

“Pensávamos que, se conseguíssemos ter uma operação enxuta e cobrar uma comissão bem mais baixa, seria possível conversar com o restaurante para eles baixarem o valor dos produtos. Isso faria com que o entregador recebesse mais pela entrega e o consumidor final pagasse igual ou menos do que pagaria em outras plataformas”, afirma Pedro Saulo, cofundador do AppJusto.

Pedro Saulo (primeiro à direita), co-fundador do AppJusto, junto de donos de restaurantes e entregadores que atuam na plataforma  Foto: Felipe Rau/Estadão

Sistema próprio de app para cada restaurante

Enquanto alguns apostam em plataformas alternativas, outros buscam no contato direto com os restaurantes a chance de diminuir custos e oferecer descontos. É caso dos clientes da Wabiz, que desenvolve sistemas de entrega e controle de pedidos para restaurantes.

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Por meio da empresa, os estabelecimentos podem ter o próprio aplicativo, além de sistema de pedidos via WhatsApp ou Instagram. “Na época, queríamos automatizar, agilizar os pedidos”, explica Wildes Lima, sócio da empresa. “Com os marketplaces cobrando taxas cada vez mais altas, crescemos. Hoje temos mais de 2 mil clientes”, afirma.

Eles estimam que seja possível economizar de 30% a 70% a partir da operação pela Wabiz, com custos referentes à instalação e pagamento de uma taxa mensal de R$ 250 a R$ 346 por unidade atendida.

Wildes Lima (E) e Anderson Zanardi (D), fundadores da Wabiz Foto: Wabiz

O programa gerencia a rede de entregadores do restaurante e também fornece dados para que os estabelecimentos trabalhem com programas de desconto e outras formas de fidelização.

A Wabiz dobrou sua base de clientes durante a pandemia e aposta agora na internacionalização, com operações já estabelecidas no Paraguai e em Portugal.

Gargalo é chegar até o consumidor

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Apesar da possibilidade de descontos e uma relação mais direta com o restaurante, os aplicativos próprios sofrem com a dificuldade de chegar a um público já acostumado a fazer pedidos por meio de plataformas de entrega bem estabelecidas.

“As taxas são altas, mas o valor percebido [pelos restaurantes] também é grande, por isso o iFood cresce com consistência”, afirma Rubens Massa, professor do Centro de Empreendedorismo e novos negócios da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP). “Este é o cenário por enquanto. Pode existir um momento em que isso se inverta”, diz.

iFood diz que gera vendas para comerciantes

Para Diego Barreto, vice-presidente de Finanças e Estratégia do iFood, é esse movimento que justifica as taxas cobradas pela plataforma.

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Ele disse que não adianta ter uma taxa menor se não gera tráfego de clientes. Barreto afirma que os valores cobrados pelo iFood são usados para a manutenção da plataforma e o marketing da plataforma.

“Eu gero tráfego, estou nas grandes mídias, estou enviando cupons de desconto, estou nos canais digitais, estou tentando atrair consumidores”, declara.

Segundo ele, os valores cobrados dos restaurantes variam, com uma média de 9% para aqueles que não utilizam entregadores da plataforma, a 19% para aqueles que utilizam a infraestrutura de motoboys do app.

Mercado concentrado é anomalia, diz analista

Para Massa, da FGV, a situação atual, com grande parte do mercado concentrado no iFood, é uma anomalia do mercado brasileiro.

“São pouquíssimos países onde isso acontece. É um fenômenos de hiperconcentração, que gera um resultado”, diz, citando a saída de plataformas concorrentes do mercado nacional, como a Uber Eats, que encerrou suas operações no País em 2022.

Para Barreto, a grande participação de mercado do iFood no setor de delivery de comida é uma consequência dos bons serviços prestados pela empresa.

“Em todas as movimentações do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica, órgão do governo que regula competividade), essa concentração de mercado, algo negativo na cadeia, não foi comprovada, não foi indicada, não foi sentenciada”, afirma.

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Em fevereiro deste ano, iFood e Cade assinaram um acordo para estimular a competição no setor, após investigações do órgão apontarem indícios de que a plataforma estaria “abusando de sua posição dominante” no mercado de marketplaces de delivery de comida.

Essa dificuldade de chegar a mais estabelecimentos tem sido um gargalo para o AppJusto. Aportes de investidores e programas de crowdfunding (financiamento coletivo) têm permitido que o aplicativo continue operando, custeando os gastos com a manutenção da infraestrutura e suporte para os usuários.

“A questão é avaliar o quanto essas plataformas são sustentáveis e confiáveis. O quanto elas têm poder de investimento para conseguir acompanhar o desenvolvimento tecnológico em termos de segurança, de facilidade de uso e de estímulos de demanda”, diz Rubens Massa, da FGV.

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