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Ao lado de Cristina Kirchner, Dilma fala em "golpe no golpe"

Presidente cassada diz que integrantes do governo Temer subestimaram crises econômica e efeito desestabilizador da crise política

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Por André Ítalo Rocha
Atualização:
Dilma Rousseff participa de seminário promovido pela Fundação Perseu Abramo realizado na Casa de Portugal Foto: JF Diorio

SÃO PAULO - De passagem por São Paulo para participar de ato com a ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner, a ex-presidente Dilma Rousseff afirmou que os integrantes do governo de Michel Temer subestimaram as crises econômica e política e que, em razão desses dois fatores, o Brasil poderá ser vítima de "um golpe no golpe".

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"Eles subestimaram a crise econômica, acreditaram no que estavam dizendo, e muitos sabiam que era mentira, de que a crise econômica era responsabilidade exclusivamente minha", disse a petista em discurso. "E também subestimaram os efeitos da crise política como fator de instabilidade, de aprofundamento de qualquer crise, e isso fica claro nos momentos em quea crise política se transforma em crise institucional".

Dilma defendeu ainda que o governo não conseguirá operar um milagre na economia por meio de corte de gastos. "Tem de aumentar receita, tributar fortunas e tributar dividendos. O Brasil e a Estônia são os únicos países do mundo que não tributam dividendos. Mas aí alguém pergunta: então por que não foi feito antes? Porque no Congresso não passa", afirmou Dilma, a uma plateia formada predominantemente por simpatizantes do PT.

A ex-presidente criticou o alto número de partidos no Brasil e disse que isso é reflexo do fundo partidário e do tempo de televisão nas campanhas eleitorais. "Ninguém vai discordar de mim de que é muito difícil ter 33 programas ideológicos políticos consistentes no Brasil", afirmou Dilma. 

Seminário é promovido pela Fundação Perseu Abramo, na Casa de Portugal Foto: JF Diorio

Em seguida, ela disse que a negociação de cargos e de benesses no meio político produz "o mais negro fisiologismo". Percebendo a gafe, imediatamente pediu desculpas e afirmou que se trata "do mais branco" fisiologismo. "Que me desculpem os homens brancos, mas são predominantemente homens brancos, ricos e velhos", disse.

A petista também atacou as medidas propostas pelo presidente Michel Temer e disse que o programa "A ponte para o futuro", apresentado pelo PMDB antes mesmo do processo de impeachment como sugestão para a recuperação da economia, é baseado na PEC do teto dos gastos, em uma reforma "ultraconservadora" da Previdência e na flexibilização das leis trabalhistas.

A ex-presidente declarou ainda que o objetivo fundamental "do golpe" foi impedir o processo de distribuição de renda iniciado no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, citando como exemplo a política de valorização do salário mínimo e o programa Bolsa Família. Afirmou ainda que os integrantes do governo de Michel Temer não querem apenas "estancar a sangria" da Operação Lava Jato, mas também usá-la para "destruir lideranças que podem enfrentá-los".

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Dilma disse que a única solução possível para a situação "é uma solução por baixo, pelo voto". "Por isso eu defendo eleição direta e uma reforma política", ressaltou.

O evento, que se chama "A luta política na América Latina hoje" e faz parte do seminário "Nossa América Nuestra", é aberto ao público e ocorre na Casa de Portugal, no bairro Liberdade. Dilma e Cristina compõem uma mesa de debate e, à frente delas, uma faixa é exibida com os dizeres: "STF! Anule o golpe já!". Entre os presentes estão o presidente do PT, Rui Falcão, o ex-ministro Miguel Rossetto e o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto. 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu nesta tarde com Cristina Kirchner na sede do Instituto Lula, em São Paulo. Nesta sexta, o Ministério Público Federal (MPF) no Distrito Federal denunciou Lula, seu filho Luiz Cláudio e outras duas pessoas no âmbito da Operação Zelotes. As acusações envolvem crimes de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa nas negociações para compra de caças Gripen pelo governo brasileiro e para prorrogação de incentivos fiscais a montadoras.