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Após impasse e confusão, Senado adia votação para presidência da Casa

Grupo de Davi Alcolumbre, ligado a Onyx, consegue aprovar voto aberto para escolha do presidente da Casa; Renan acusa governo de orientar manobra

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BRASÍLIA - Depois de cinco horas de tensão, trocas de insultos e esbarrões, o plenário do Senado suspendeu na noite desta sexta-feira, 1, a eleição para o comando da Casa, que está prevista para recomeçar às 11 horas deste sábado. Foi uma vitória parcial do senador e candidato  Davi Alcolumbre (DEM-AP), que, na presidência da sessão e apoiado pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, conseguiu tornar a votação aberta, contrariando o grupo do veterano senador Renan Calheiros (MDB-AL).

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Alcolumbre, no mandato há quatro anos, conseguiu a proeza de garantir 50 votos dos senadores para que a eleição deixasse de ser sigilosa. Foram apenas dois contra. O grupo de Renan, senador há 24 anos, combinou de não participar da votação para não legitimá-la. Com a vitória dos governistas pela votação aberta, a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), aliada de Renan, surpreendeu os colegas ao tomar uma pasta de procedimentos de votação que estava na mesa e trocar pequenos esbarrões com Alcolumbre. 

O senador Major Olímpio (PSL-SP) sugeriu que a Polícia Legislativa fosse convocada para recuperar os documentos. O petista Paulo Rocha (PA) saiu em defesa do emedebista ao acusar o senador do DEM de “usurpar” o poder.

Depois de tentar emplacar a imagem de um “novo” Renan para se contrapor ao desgaste de 14 inquéritos no Supremo Tribunal Federal, o senador alagoano disse que era o “cavalo do cão”, referência a um tipo de vespa cuja picada é considerada uma das mais doloridas entre insetos. Ele apelou ainda para a memória de Tancredo Neves ao lembrar do episódio em que o então deputado chamou de “canalha” o colega Auro de Moura Andrade por ter declarado vaga a Presidência da República a 2 de abril de 1964, tirando João Goulart do poder. “Canalha! Canalha!”, disse Renan, em direção à mesa do Senado, presidida por Alcolumbre.

Ele acusou Alcolumbre de “espancar” o Senado e “rasgar” a Constituição em parceria com Onyx, que promoveu, no início de forma solitária dentro do governo, a candidatura do senador do Amapá. “Não sou Jean Wyllys para desistir do mandato”, gritou Renan. Em outro momento, Renan disse que Alcolumbre “sangrava” o Senado. O adversário respondeu que “imaginava” a “autoridade” de Renan de acusá-lo de denegrir a imagem da Casa.

Alcolumbre (sentado) discute com Renan Calheiros Foto: Dida Sampaio/Estadão

Alcolumbre é ligado ao ministro da Casa Civil, seu colega de partido, e a mulher de Onyx, Denise, está empregada no gabinete do senador. Onyx se licenciou do ministério e passou o dia no Congresso.

Sentado. Para garantir a votação aberta, Alcolumbre ocupou a cadeira da presidência do Senado desde a abertura dos trabalhos, às 15 horas, até o suspensão da sessão. Ficou mais de sete horas sentado na cadeira. “Vossa Excelência deve estar usando fraldão geriátrico”, ironizou o senador Jorge Kajuru (PSB-GO), num dos poucos momentos de descontração.

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O grupo de Renan questionou a presidência de Alcolumbre, que, por ser candidato, não poderia comandar a votação. Por sua vez, o grupo de Alcolumbre só aceitava passar a presidência da sessão para o senador José Maranhão (MDB-MA), mais velho da Casa, se ficasse garantido que seria respeitada a decisão de eleição aberta. Não houve acordo para o fim do impasse. “Não posso fazer milagre”, disse Maranhão, sem deixar claro se respeitaria a votação em aberto.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) discutiu com Renan a ponto de serem apartados pelos colegas para não chegar às vias de fato. Renan, porém, negou que fosse agredir o tucano. Na discussão, Tasso gritou que “Renan irá para a cadeia”.

Após o encerramento da sessão, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, disse que Alcolumbre tinha autoridade e a votação em aberto deveria ser mantida. Ele negou interferência do Planalto. 

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