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Opinião|Bom pra cachorro

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convidado
Por Fernando Goldsztein*

Eu gosto muito dos Estados Unidos. Entretanto, não tiro a razão de quem prefere a diversidade social e cultural europeia à monocromia americana. Mas, sempre é bom lembrar que os EUA não se limitam a Orlando, Miami ou Nova Iorque, as queridinhas dos turistas brasileiros. Existem outras cidades também muito especiais como Boston, por exemplo.

Na cidade de Fort Smith, o Chihuahua Santana se prepara para a festa de Halloween Foto: Kaia Larsen/AP

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A charmosa cidade de Boston é sinônimo de glamour e nobreza. Foi em Boston que iniciou-se a revolução que culminou na independência americana em 1776. A cidade, que é berço de clãs políticos historicamente muito influentes, como os Kennedy, se destaca também no plano acadêmico. Lá estão localizadas Harvard e MIT, duas das universidades mais renomadas do mundo e que, juntas, já produziram o incrível número de 258 prêmios Nobel. Para completar, Boston é a casa do Red Sox e do Patriots, dois ícones dos esportes no país. Talvez, por isso tudo, Boston acabou tendo a reputação de ser um reduto de “gente esnobe”.

Foi numa destas visitas à Boston que me ocorreu algo insólito. Estava eu numa loja de cosméticos quando cruzei com uma elegante senhora e seu distinto poodle puxado pela coleira. Embora não seja a minha raça favorita, fiz um breve cafuné no simpático cãozinho. Foi quando a dona do cachorro, num rompante, virou-se pra mim e vociferou: “Você gostaria que alguém ficasse passando a mão na sua cabeça?” Diante da inusitada interpelação, confesso que fiquei sem reação. Minutos depois, recuperado do choque, me ocorreram várias coisas que eu poderia ter dito para aquela excêntrica senhora mas, já era tarde.

Lembrei desta história ao ler uma recente matéria no WSJ sobre festa de aniversário para cachorros nos Estados Unidos. Sim, acredite ou não, existem empresas especializadas no tema. Toda a cachorrada da vizinhança é convidada para a festa que pode contar com decoração temática (no caso o tema eram ossos), até um delicioso bolo de carne com velinhas e tudo. Algumas citações dos pais, ou melhor, dos donos dos cachorros, são surpreendentes: “Estou convencida que meu cachorro entende que estamos comemorando o aniversário dele”; “Queremos proporcionar um dia perfeito pra ele, com tudo que ele gosta”. Fiquei estarrecido com o que li. Tanta miséria no mundo e o pessoal fazendo festa pra cachorro? Onde será que vamos parar?

Realmente o mundo está de pernas para o ar. Mudanças climáticas gerando enchentes e ondas de calor nunca vistas; surgimento dos aplicativos de IA com suas oportunidades e ameaças; atos terroristas sendo ovacionados em universidades; polarização ensandecida entre conservadores e progressistas e por aí vai. Isso sem falar no exagero do politicamente correto e de algumas de suas nefastas consequências como a proibição de palavras; a censura de obras literárias de época; a obsessão com pronomes e a desaprovação do humor.

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Pensando bem, dentro deste contexto, parece até ser razoável a atitude da madame que me interpelou em Boston. Afinal, nos dias de hoje, onde já se viu fazer cafuné em cachorro alheio?

*Fernando Goldsztein, fundador do The Medulloblastoma Initiative e conselheiro da Childrens National Hospital Foundation

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