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Opinião|Qual será a marca do governo Lula 3?

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Há alguns dias, um levantamento da Paraná Pesquisas mostrou que 73,4% dos brasileiros não sabem citar uma medida ou benefício à população realizado pelo atual governo. É claro que, quando falamos de pesquisa, tudo depende de como as perguntas são feitas, e também não conseguimos saber quanto seria essa porcentagem em outros governos, quando feitas as mesmas perguntas. Porém, esse dado preocupa.

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Para quem lidera um país como o Brasil, com tantos desafios, é importante entender que, além dos desafios de manter a democracia em pé, que foi um esforço conjunto com os outros Poderes durante o ano passado, agora é hora de ir em frente, e fazer realmente com que haja não só a percepção pela população, mas que aspectos fundamentais que ameaçam diariamente a vida dos brasileiros sejam realmente objeto de planejamento e de ação. Passado o carnaval do segundo ano de governo, com quase 30% do mandato cumprido, é importante que se tenha um caminho a ser percorrido.

Aponto aqui dois aspectos fundamentais para que se tenha a percepção de que o governo está trabalhando: a geração de empregos de qualidade, que garantam renda, e a segurança pública. São duas áreas que se entrelaçam e dependem de ação momentânea e de uma preocupação que ultrapasse os quatro (ou oito) anos de mandato de Lula, E isso inclui conversas com governadores, que têm funções importantes nessas áreas.

É claro que o governo já começou a falar sobre esses assuntos, quando apresentou o plano de inovação e reindustrialização capitaneado e comunicado pelo ministro e vice-presidente Geraldo Alckmin. Mas, além da intenção do governo, é crucial que se tenha um governo integrado nessa preocupação, que vai muito além de um ministério.

Por exemplo, quando olhamos para o nosso agronegócio, que tem um papel essencial no nosso PIB, a geração de empregos de qualidade é mínima. Afinal, em vez de agregarmos valor aos produtos, somos importantes players na venda de commodities. Dando um antigo exemplo, enquanto a Suíça vende cápsulas de café com alto valor agregado, nós continuamos vendendo sacas.

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Vender soja para alimentar gado na Europa faz com que esses países possam se orgulhar da produção nacional de carne, agregando valor até mesmo pelo fato de conseguir fazer isso em condições nem sempre favoráveis, como em lugares com invernos rigorosos. Não seria importante brigar ainda mais com a União Europeia para vender carne de qualidade para eles?

Enquanto isso, criamos condições para a importação de produtos industrializados que invadem o nosso dia a dia. Os investimentos de algumas indústrias atualmente no Brasil, comunicados com grandes conquistas, apenas tentam impedir que percamos ainda mais postos de trabalho com uma remuneração mais digna.

É só olhar para regiões como o Grande ABC, em São Paulo, para notarmos hoje que as antigas fábricas viraram hipermercados ou atacarejos, que geram empregos com menor remuneração do que as indústrias que lá estavam antes.

Além da área econômica, a educação é mais um dos aspectos (talvez o principal) para que essa tendência de conquista de empregos de qualidade apareça. Se qualquer plano de reindustrialização e de inovação não tiver conexão direta com a formação de mão de obra realmente necessária para as empresas, vamos criar ainda mais frustração com planos de educação superior que cria expectativa ao possibilitar que se tenha diplomas, mas leva essas pessoas para o trabalho informal dos carros por aplicativo e das entregas de comida e de produtos importados.

E, sim, todo esse cenário se conecta com a crise de segurança pública, que precisa ser encarada pelo novo Ministro da Justiça (e Segurança Pública), já que o anterior estava muito ocupado com a defesa do governo e a briga (que foi importante) com a atual oposição, que esteve no Planalto até o fim de 2022. Porém, sem ações concretas, que modifiquem a sensação que as pessoas têm todos os dias, não somente nas grandes cidades, não há possibilidade de que se possa fazer a diferença na vida dos cidadãos que precisam sair de casa sem a sensação de que podem não voltar.

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Encarar as milícias, a presença do estado paralelo que se instalou pelo país, as facções que controlam o tráfico de drogas, além de debelar o mercado de receptação de telefones celulares e outros eletrônicos, tanto o que ocorre dentro do país quanto o que vai para fora, devem ser ações imediatas.

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Justamente pelo fato de não haver empregos de qualidade, os grupos criminosos de todos os tipos encontram com facilidade mão de obra em todo o país, principalmente entre jovens que não conseguem encontrar as suas necessidades de consumo atendidas pelos empregos formais, quando conseguem ter, nem pelos informais que não estejam relacionados com atividades criminosas.

Sem encarar principalmente esses fatos, o atual governo não vai deixar nenhum legado, e vai contribuir para aprofundar a crise social que toma conta do país.

Já que o carnaval passou, que tal começar a encarar essas questões e criar alguma marca para o atual governo?

Este texto reflete única e exclusivamente a opinião do(a) autor(a) e não representa a visão do Instituto Não Aceito Corrupção (Inac). Esta série é uma parceria entre o Blog do Fausto Macedo e o Instituto Não Aceito Corrupção. Os artigos têm publicação periódica

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Kleber Carrilho
Cientista social pela USP, mestre e doutor em Comunicação Social. Professor convidado da ECA/USP, coordenador da pós-graduação em Marketing Político no IPAM Lisboa e pesquisador convidado na Universidade de Helsinque (Finlândia)
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