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Opinião|Quem sabe ler?

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convidado
Por José Renato Nalini

O IBGE divulgou que 11,4 milhões de brasileiros não sabem ler ou escrever. Comemora-se que são “apenas” 7% da população com quinze anos ou mais. Um índice considerável. Mas a tendência é de queda do analfabetismo. Os dados do censo mostram que em 1940, eram 44% os alfabetizados e 56% os analfabetos. A cada dez anos, esse índice de analfabetismo foi caindo para 50%, depois 40%, 34%, 25%, 20%, 14%, 10% e, finalmente, 7%.

Segundo o IBGE, 11,4 milhões de brasileiros não sabem ler ou escrever Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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Irrecusável que houve investimento em educação. São Paulo, por exemplo, investe 30% de seu orçamento nessa missão de formar cidadãos letrados, partícipes da sociedade e qualificados para o trabalho. O resultado nem sempre coincide com o dinheiro aplicado na causa. Por inúmeras razões. Uma delas, é a inadequação da escola à modernidade. Prioriza-se a capacidade de memorização, o que representa um “adestramento” da criança a armazenar informações nem sempre importantes. Enquanto isso, negligencia-se o setor das capacidades socioemocionais. Não interessa que o aluno ache a aula desinteressante, chata, aborrecida. É isso o que se lhe oferece e pronto.

O governo não percebeu ainda, ou não interessa perceber, que educar é formar seres humanos completos, cidadãos aptos ao exercício da democracia participativa e profissionais felizes, porque capacitados a exercer o trabalho que escolheram. Aulas prelecionais repetitivas, proferidas por professores desalentados, desprestigiados, desrespeitados e mal pagos, não atraem a mocidade digital que já nasceu com chip e é manipulada pelos algoritmos.

Por isso a evasão no ensino médio, quando eles já têm discernimento. E isso também explica o “analfabetismo funcional”. Quem de fato saber ler e escrever? Quem é que consegue se abstrair de uma ocupação física, permanecer atento e concentrado para extrair da leitura algo que utilize depois?

É urgente que essa mesma juventude que cria tik-tok, que invade as redes sociais, os Instagram e análogos, invente opções para alfabetizar os estritamente analfabetos e para ensinar a verdadeiramente ler aqueles que sabem desenhar o nome e fazer uma leitura tatibitate, convertendo-os em seres com letramento e capacidade de pensar.

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Se o Brasil conseguisse inserir na cadeia de leitores os milhões de analfabetos em sentido estrito, mas também os milhões de analfabetos funcionais, então o país seria outro. Poderia pensar no aprendizado de outro idioma, de preferência o inglês, que se tornou o verdadeiro “sânscrito” contemporâneo. É o idioma universal, que permite a qualquer pessoa, de qualquer parte do globo, se entender com todas as outras.

E então se poderia pensar numa alfabetização digital, para que as redes sociais, os aplicativos, a Inteligência Artificial façam do Brasil uma nação de irmãos, como quis o constituinte de 1988, o corajoso elaborador da Constituição da República Federativa do Brasil, que teve a audácia de incluir a fraternidade como categoria jurídica. Aquilo que é o mandamento cristão – “Amai-vos uns aos outros” – e que é a “regra de ouro” dos judeus e dos agnósticos, para o Brasileiro é um dever jurídico. Respeitar o semelhante. Preocupar-se com a sorte dos desamparados.

O “Sul Maravilha”, onde a taxa de alfabetização chega a 97% da população, tem o dever ético de auxiliar o Nordeste, onde ela está nos 86%. Sabe-se que há dificuldades históricas de acesso à educação, notadamente a básica, pública e gratuita. Outro setor necessitado de apoio mais efetivo é o dos pretos, pardos e indígenas.

A engenhosidade das startups é comprovadamente superior, no nosso Brasil de tanta complexidade, do que no restante do planeta. Por que os jovens idealistas não criam aplicativos de alfabetização? Agora que o MEC exige que ao menos 10% do currículo das Universidades se destine à extensão, por que não formar “equipes de alfabetização”, que não precisam partir apenas das Escolas de Pedagogia, de Educação ou de Ciências e Letras. Qualquer universitário poderia assumir o compromisso de alfabetizar alguém ainda desprovido dessa capacidade de se integrar ao mundo, que é o mundo da palavra, das letras, dos livros e das mensagens escritas.

Esses dados nos fazem pensar que a leitura é uma dádiva milagrosa, que devemos à nossa primeira professora, aquela normalista que sabia alfabetizar e que hoje, infelizmente, desapareceu, com a extinção do chamado “Curso Normal”. Foram elas que nos fizeram leitores. E a leitura nos transformou naquilo que somos.

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José Renato Nalini
Reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e secretário executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo. Foto: Felipe Rau/Estadão
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