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Opinião|Teatro Cultura Artística: reabertura em 2024 depois de um caso exemplar de tombamento e restauração

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Atualização:

O novo Teatro Cultura Artística, na região central de São Paulo, já tem data para ficar pronto: agosto de 2024. Com projeto arquitetônico de Rino Levi e mosaico de Emiliano Di Cavalcanti, o Teatro Cultura Artística (1950) difundiu a cultura na capital paulista por 58 anos. Em decorrência de um incêndio em 2008, o edifício sofreu perda estrutural, sem atingir sua fachada, o que motivou seu tombamento, restauração e reconstrução.

Teatro Cultura Artística ostenta painel de Di Cavalcanti Foto: Nelson Kohn/Itaú Cultural

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Após o incêndio, a Sociedade Cultura Artística - entidade criada por jornalistas, intelectuais e artistas em 1912, cujo termo de fundação foi escrito na redação de O Estado de S. Paulo - imediatamente demandou o processo de solicitação do tombamento histórico dos remanescentes do seu teatro.

Paralelamente às ações de tombamento, a Sociedade Cultura Artística tratou de restaurar e reconstruir seu patrimônio histórico então oficializado: o espaço vazio do teatro destruído, parte do foyer de entrada e o painel de Di Cavalcanti. Essa obra, intitulada Alegoria das Artes, que ocupa toda a fachada do teatro, teve uma restauração que demorou 18 meses, consumiu 1,2 milhão de pastilhas de vidro e recebeu um prêmio do Iphan de melhor obra de restauro de 2012.

Apesar de ter sido levantada a possibilidade de remodelação total do edifício, a nova versão do Teatro Cultura Artística preservará elementos estruturais do modernista Rino Levi no atual projeto contemporâneo do arquiteto Paulo Bruna.

Após minucioso trabalho de prospecção de cores e revestimentos originais, o foyer térreo está sendo restaurado conforme o projeto de 1950. Com as colunas do piso térreo recuperadas, esse pavimento terá espaços para livraria e café, com acesso tanto pelo foyer como pela rua, remetendo à ideia de funcionalidade da primeira versão do edifício.

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O Teatro Cultura Artística é um exemplo da época áurea da arquitetura moderna brasileira, representante da modernização urbana e da inovação estética da cidade de São Paulo, em meados do século XX.

No início do século XX, quando foi fundada a Sociedade Cultura Artística, a região central da cidade estava em franca expansão econômica, concentrando locais de comércio, negócios, casas bancárias, hotéis e grandes empresas. O município das ruas estreitas e das casas modestas do século XIX, típico da aristocracia da terra, passava de um cenário latifundiário a um centro urbano. Os paulistanos de então – muitos deles importantes fazendeiros de café – passaram a investir em edificações e serviços urbanos, contribuindo para a expansão da cidade.

Nessa época, São Paulo contava com alguns teatros na região central, mas não possuía salas de espetáculo com estrutura para receber produções de grande porte. Nesse contexto, foi criada a Sociedade Cultura Artística. Em 1919, os membros da Sociedade foram motivados a juntar suas economias para compra de um terreno para o futuro teatro. O projeto só prosperou, no entanto, na década de 1940. Em 1942, foi convidado o arquiteto Rino Levi, profissional no seu auge de criatividade, para elaborar o projeto no terreno da Rua Nestor Pestana. As obras, entretanto, só foram iniciadas ao fim da Segunda Grande Guerra.

No dia 8 de março de 1950, o Teatro Cultura Artística abriu suas portas. Esther Mesquita, então secretária-executiva da Sociedade Cultura Artística, fez questão de que o espetáculo de estreia fosse inteiramente brasileiro: compositores, temas, orquestras, cantores e regentes. Para concluir o círculo de integração das artes, o projeto de Rino Levi e o painel de Di Cavalcanti foram inaugurados ao som de Heitor Villa Lobos e Camargo Guarnieri, dois dos maiores maestros e compositores brasileiros, interpretados pela Orquestra Sinfônica de São Paulo.

O caso do tombamento e restauração do Teatro Cultura Artística, por toda essa história, expõe com clareza a importância da preservação dos espaços culturais numa cidade dinâmica como São Paulo. O patrimônio deve ser preservado, sem dúvida. E a sua memória só será mantida, se o bem for readequado, com usos que promovam circulação das pessoas, atrações culturais e enquadramento na atual estética da cidade.

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O novo Teatro Cultura Artística busca inserir-se na estética contemporânea por meio de suas propostas socioeducativas, ao mesmo tempo em que retoma seu escopo inicial: a música erudita. Mas não apenas isso. De acordo com os atuais gestores, o novo teatro será um espaço aberto à música de qualidade, não somente música clássica. Há espaço também para jazz, música popular, música eletrônica, espetáculos para a família (onde se pode levar crianças), além de atividades educativas. Quem ganha é São Paulo.

*Rosane Martins de Pietro, mestre em Estética e História da Arte pela USP, com a dissertação “Teatro Cultura Artística: a recuperação de um patrimônio”

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