RIO - O presidente Jair Bolsonaro (PL) atribuiu a si mesmo nesta segunda-feira, 4, a responsabilidadepela denúncia de que uma licitação bilionária do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) prevê a compra de ônibus escolares com preços superfaturados em mais de R$ 700 milhões. O alerta, porém, foi publicado com exclusividade no último sábado, 2, pelo Estadão e partiu de instâncias de controle e da própria área técnica do fundo, gerando acusações de corrupção contra o governo. Em almoço com empresários organizado pelo Grupo Voto, de perfil conservador, o mandatário também atacou a imprensa que, disse, não fala a verdade.
“Estão agora me acusando de ter armado a corrupção com compra superfaturada de ônibus, mas nem a licitação foi feita ainda. E quem descobriu fomos nós. Temos gente trabalhando em cada ministério com lupa no contrato. Por isso, não tem corrupção”, afirmou o presidente no discurso aos empresários, sem se referir diretamente ao Estadão. “Não anunciem nos órgãos de imprensa que mentem o tempo todo.”
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O suposto fim da corrupção no governo é um dos temas que Bolsonaro quer usar na campanha eleitoral deste ano. Denúncias como a da compra superfaturada de ônibus pelo FNDE, órgão do Ministério da Educação sob controle político da Casa Civil, ou a da existência de um gabinete paralelo de pastores que intermediavam a liberação de verbas para prefeitura, porém, colocam essa versão em risco.
Como mostrou o Estadão, documentos do FNDE indicam que o governo aceitou pagar até R$ 567,6 mil por um ônibus de 59 lugares que, segundo a área técnica do fundo, deveria custar, no máximo, R$ 361,8 mil.O pregão permitirá a aquisição de até 3.850 veículos como parte do programa Caminho da Escola. O preço total, ao final da compra, pode pular de R$ 1,3 bilhão para R$ 2,045 bilhões, ou R$ 732 milhões a mais.
No ano passado, o FNDE viabilizou o repasse de recursos destinados à compra de 1.771 veículos rurais escolares no País. O programa é destinado à aquisição de ônibus para crianças e adolescentes que vivem na zona rural e, para chegar à escola, precisam caminhar quilômetros a pé. O programa Caminho da Escola foi criado em 2007 e atende alunos da educação básica com bicicletas e lanchas escolares, além dos ônibus.
Nesta segunda-feira, o subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado, do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, pediu à corte de contas que suspenda o pregão eletrônico do FNDE.