O problema central do projeto de reeleição de Jair Bolsonaro reside nas dificuldades crescentes do governo gerar perspectivas futuras de poder para a elite política. As pesquisas de opinião pública mostram o movimento de perda de capital político do governo. Algo como seis em cada dez brasileiros desaprovam o desempenho da atual administração.
O próprio mandato do presidente é questionado pela maioria da sociedade, gerando risco de isolamento político no momento de intensificação das articulações eleitorais para 2022. O quadro econômico tampouco parece gerar dividendos eleitorais para a reeleição, especialmente diante da crescente preocupação com o quadro inflacionário, reforçando a vulnerabilidade social dos grupos de renda mais baixas.
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Sob esse cenário o presidente investe, uma vez mais, na comunicação política como estratégia para preservar popularidade à espera da aprovação de um pacote de bondades no bojo da discussão orçamentária para 2022.
O objetivo é razoavelmente trivial: recuperar o status político que sustentou sua chegada à presidência, a saber: o presidente deseja ser o contraponto à esquerda ou, em termos menos elegante: se tornar o “anti-Lula”.
Assim, o presidente mobiliza os símbolos do momento de aversão à esquerda e ao mainstream político. O cardápio é bastante recheado com as tradicionais menções à Cuba, Venezuela e Argentina, incluindo promessa de revisitar a “caixa preta” do BNDES, retomando um dos primeiros objetos do início do mandato, que foi abandonado pela falta de um “fato novo”. Até a compra de jatinhos mereceu espaço na comunicação presidencial.
A última live do presidente parece confirmar a opção por elevar a rejeição do ex-presidente Lula, especialmente diante do atual nível de rejeição. O cenário prospectivo, contudo, é pouco alvissareiro para o projeto de reeleição. A distribuição de benefícios esbarra na falta de espaço orçamentário, trazendo de volta o risco fiscal e seus efeitos inflacionários. O esgarçamento institucional em nome da preservação do mandato só reforça a tendência centrífuga da base aliada, diante desse cenário de risco.
A corrida presidencial é sinônimo de plebiscito do governo. O eleitor pune ou recompensa o trabalho do chefe de governo. A desconstrução de candidaturas alternativas não deve ser suficiente para o eleitorado premiar o presidente com mais um mandato.
*Rafael Cortez é sócio da Tendências Consultoria e Doutor em Ciência Política (USP)