Uma nota da comissão executiva do diretório municipal do Partido dos Trabalhadores (PT) em Guarulhos liberou a militância petista para escolher seu voto no segundo turno das eleições municipais deste ano. Em nota oficial, obtida pela Coluna do Estadão, a legenda manifesta sua oposição ao candidato bolsonarista Lucas Sanches, do PL, mas não menciona nominalmente Elói Pietá (Solidariedade), ex-prefeito da cidade e antiga liderança do PT que deixou o partido após desavenças internas. Nos bastidores, o teor do texto, que fala até em “traição”, é lido como rancor dos petistas em relação ao ex-correligionário.
Em conversa com a Coluna, Elói diz ter ficado “surpreso” com o texto que menciona uma “traição”. Apesar de a cúpula do PT ter rejeitado sua candidatura, um dos motivos que o levou a trocar de sigla, Elói diz que petistas ligados a sindicatos continuam ao seu lado e poderão participar de um eventual governo. “Mas só quem sempre esteve ao meu lado, integrantes da cúpula do PT não têm espaço”, afirmou.
No começo deste ano, a Coluna do Estadão mostrou que o ex-prefeito de Guarulhos havia pedido a desfiliação do PT após reclamar da falta de democracia na legenda. “O partido Republicano dos Estados Unidos está mais democrático do que o PT em Guarulhos, porque lá filiados e simpatizantes votam entre vários candidatos e aqui os filiados foram proibidos de votar”, afirmou. “Ajudei a criar o PT na cidade há 46 anos. Fui secretário geral nacional. Eu não mudei o que sou e o que penso.”
Após ficar fora do segundo turno e constatar que errou ao apostar na candidatura do deputado federal Alencar Santana à prefeitura de Guarulhos este ano, o PT reclamou e transferiu a culpa do fracasso a Pietá, mesmo sem mencioná-lo diretamente. “Enfrentamos o desafio interno, com a crise política que culminou na traição e transferência de uma, até então, liderança do nosso partido”, afirma a nota do partido. “Aquele que um dia esteve em nossas fileiras, se filiou ao Solidariedade, partido declaradamente de oposição ao governo Lula, hoje está no segundo turno, aderindo a um projeto de centro-direita”, aponta a nota do PT-Guarulhos, em referência a Elói Pietá.
Apesar da decisão da executiva municipal, outros líderes do PT ainda não manifestaram apoio formal a essa decisão.
Kiko Celeguim (PT-SP), presidente do diretório estadual da sigla em São Paulo, elogiou Elói, reconhecendo-o como “um grande prefeito” e avalia que outros integrantes do partido seguirão a orientação de Guarulhos. “Eu não conheço nenhum membro do PT que defenda o contrário disso. Particularmente, apoio o Elói Pietá. É uma liderança progressista e está ali enfrentando aquilo que há de pior em Guarulhos: um movimento político de extrema direita baseado numa liderança que se construiu sem formulação política”, disse à Coluna.
Diretório rejeita orientação de sua comissão executiva e declara apoio formal a Elói Pietá em Guarulhos
Após a publicação da reportagem, o presidente do diretório municipal do PT de Guarulhos, Marks Oliveira, e o ex-candidato Alencar Santana procuraram a Coluna e ressaltaram suas declarações de voto em Elói. Eles informaram que, um dia depois da nota da comissão executiva, o diretório municipal tomou decisão formal com outro tom.
O texto diz que o PT, com sua força e tamanho, não pode se esquivar de posicionamento para o segundo turno, e declara voto em Elói Pietá. “O Partido dos Trabalhadores sempre teve lado, o lado do Brasil e do povo e nunca se omitiu na defesa da democracia. E, diante de tal cenário, nos posicionamos contra o Partido Liberal de Lucas Sanches e orientamos o voto na candidatura do ex-prefeito Elói Pietá”.
“Declarei meu voto e vários dos nossos companheiros e candidatos. Não dá para vacilar mediante a disputa com o PL 22″, avaliou Marks.
“Antes mesmo da nota do PT, publicamente declarei voto no Elói e publiquei vídeo na minha rede”, reforçou Alencar.

Leia abaixo a íntegra da nota da executiva municipal do PT de Guarulhos sobre o segundo turno das eleições municipais:
O Partido dos Trabalhadores de Guarulhos reúne-se após o resultado do primeiro turno das eleições municipais em 2024 com intuito de realizar um balanço dessa campanha e apontar o rumo que deveremos tomar a partir da atual conjuntura.
Primeiramente, deve-se falar que estamos, nacionalmente, vivendo o início da recuperação eleitoral do PT nos municípios. Em números, recuperamos mais de 30% do executivos municipais em relação à 2020 (183 para 248 prefeitos e prefeitas).
Tendo em vista esse cenário, na nossa cidade, não foi diferente. Enfrentamos o desafio interno, com a crise política que culminou na traição e transferência de uma, até então, liderança do nosso partido. E, como se não bastasse o conflito, ainda lidamos com a máquina aparelhada à direita estadual de Tarcísio de Freitas e o bolsonarismo, dividido entre o Xerife do Consumidor e o PL, de Lucas Sanches. Mesmo diante dessas dificuldades nós conseguimos compor uma chapa forte e aguerrida, com votação expressiva elegendo três vereadores pelo Partido dos Trabalhadores e mais um pela federação.
Fizemos a nossa campanha pautados no melhor que poderíamos entregar pra cidade. Defendemos o projeto do Presidente Lula e a democracia, sonhamos grande, alto e largo, demos o tom político que apenas o maior partido de esquerda da América Latina consegue. Apresentamos um projeto real, com propostas reais e sólidas, mas a conjuntura não nos favoreceu e a cidade, de forma legítima, escolheu para o segundo turno projetos opostos ao nosso.
Em que pese seja duro para todos, após o revés que sofremos, precisamos encarar a realidade de frente. Aquele que um dia esteve em nossas fileiras, se filiou ao Solidariedade, partido declaradamente de oposição ao governo Lula, hoje está no segundo turno, aderindo à um projeto de centro direita e, do outro lado, também disputando a vaga que vai nos governar pelos próximos quatro anos, a direita do bolsonarismo.
Assim, acreditando na força da nossa militância, do nosso projeto e do nosso tamanho, não podemos nos esquivar do posicionamento para o segundo turno das eleições. O PT sempre teve lado, o lado do Brasil e do povo, e nunca se omitiu na defesa da democracia. E diante de tal cenário, nos posicionamos contra o Partido Liberal de Lucas Sanches e ao lado da decisão individual de cada militante.
A reconstrução leva tempo, nos custa trabalho, debate, disputa de corações e mentes, mas não há, nesse país, um partido que cause o efeito que o Partido dos Trabalhadores consegue. Caminharemos lado à lado, até a retomada do nosso projeto em sua totalidade.