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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

ESG em pauta: ações e perspectivas

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Por Redação

Nathália Araújo Vieira Bruni, Graduada em Administração Pública (FGV - EAESP)

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Desde 2004, o ESG vem ganhando alcance e espaço na realidade de organizações públicas e privadas. Mas, o que significa essa sigla e o que ela tem a ver com a nossa realidade e com o nosso futuro? ESG é a sigla de Environmental, Social and Corporate Governance, ou seja, meio ambiente, social e governança. Estes três elementos são pilares que dizem respeito à preocupação em relação a temas cada vez mais relevantes dentro de organizações.

Contudo, apesar do crescente uso da terminologia e da sua essencialidade dentro da agenda de empresas e organizações, públicas e privadas, de maior e menor porte, o termo ainda é desconhecido de boa parte das pessoas, inclusive no meio acadêmico e corporativo. A origem da sigla ESG tem a ver com uma publicação do Banco Mundial feita em parceria com o Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) e instituições financeiras de nove países, chamada Who Cares Wins (Ganha quem se importa)[1]. A publicação sintetizou ideias em torno de um novo cenário global pautado por princípios que buscam incluir indivíduos e em sintonia com atividades ambientalmente sustentáveis, além de direcionar melhor as organizações sobre como podem lidar com crises e externalidades.

Tal como apontado por Eliete Martins, sócia de consultoria em ESG da KPMG, "O tema tem ganhado bastante força e mudado o olhar com relação ao que é esperado pelo mercado. Você verifica quantos desses aspectos estão conectados com a governança corporativa das organizações e isso afeta o seu desempenho."[2] Na prática, o ESG está relacionado com a aceleração de melhorias na gestão e práticas adotadas por diferentes organizações, que passam a se basear em pilares que trazem maior direcionamento para seus processos e formas de interação no ambiente de trabalho e com o mundo externo. Vale dizer que esses processos e formas de interação contemplam uma visão de longo prazo.

No que tange o contexto ambiental, destaca-se que este se estende ao controle exercido por determinada organização sobre a prática e a região de atuação, buscando incentivar e desenvolver ações voltadas à melhorias e preservação da biodiversidade. Não à toa, o critério ambiental inclui exigências em campos como gestão de resíduos, políticas contra desmatamento, logística reversa de produtos, uso de fontes renováveis, dentre outros. Nesse sentido, cabe destacar, por exemplo, as ações desempenhadas por empresas como a AMBEV que, em 2020, a partir do que delimitou como base de seu plano de ação para ESG, deu continuidade aos investimentos em energias renováveis por meio da utilização de gás natural, que reduz o custo da compra de energia e garante confiabilidade à operação e para toda sociedade inserida nas regiões produtoras de seus produtos[3].

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Quanto à esfera social, os critérios sociais do ESG conferem um leque muito grande de questões a serem consideradas pelos atores envolvidos. O pilar social envolve fatores que caminham desde o bem-estar dos colaboradores de determinada organização até o modo pelo qual esta define uma política corporativa clara que incentiva a diversidade e a inclusão de forma explícita e que seja benéfica para a sociedade. A respeito, destaca-se, por exemplo, o Comitê ESG do Paraná, que avança e define temas para trabalho entre o setor público e privado focado no critério social e que tem buscado desenvolver práticas voltadas aos cidadãos e líderes de pequenas e médias empresas ao abranger fatores como o empreendedorismo, a educação e a gestão pública social.[4]

Além disso, quando pensamos no contexto de uma organização, o eixo social também diz respeito à relação de uma organização com seus fornecedores, ou seja, serve como um guia para esta avaliá-los do ponto de vista dos critérios em ESG, com relação a fatores como trabalho infantil, trabalho escravo, atuação em áreas desmatadas ou queimadas, entre outros, de modo a promover maior alinhamento e transparência na relação.

No que se refere à governança, foca em como uma organização é administrada pelo alto escalão. Nesse caso, o ESG busca entender se a gestão executiva e o conselho administrativo atendem aos interesses das várias partes interessadas da organização a partir de ações como accountability que, pode ser traduzido como controle, fiscalização, responsabilização, ou ainda prestação de contas para sociedade e outras partes envolvidas[5]. Nesse aspecto, contribui para o oferecimento de informações relevantes sobre a evolução do processo de adoção de critérios do ESG, com metas, diretrizes e planos estratégicos definidos para o curto, médio e longo prazo.

Em países da União Europeia e nos Estados Unidos, essas regulamentações baseadas no ESG estão avançando mais do que no contexto brasileiro. Mas, se o Brasil ainda tem carências desses processos, esse cenário deve mudar por aqui na medida que as ações ESG sejam implementadas pelas próprias organizações empresariais, o que ocorrerá cada vez mais por demanda do contexto internacional.

De fato, houve uma explosão nas buscas do termo no Brasil a partir de abril de 2021[6]. Como uma possível explicação para isso, Fábio Alperowitch, um dos fundadores da Fama Investimentos, pioneira na adoção de critérios ESG em seus investimentos, menciona duas causas: a falta de ações governamentais em determinados mandatos e a mentalidade da geração Z. Enquanto presidentes como Trump e Bolsonaro apresentam alguns desalinhamentos com relação à sigla e suas agendas de governo, carecendo de estratégias que visem maior inclusão e o foco em sustentabilidade, como uma possível consequência a sociedade formada pela geração Z, composta por pessoas entre 16 e 24 anos, está mais preocupada com tais iniciativas. Logo, questões como preservação ambiental, racismo, homofobia, entre outras, fazem parte dos valores dessa nova geração, o que significa que as empresas, quando querem oferecer e aperfeiçoar seus produtos e serviços prestados, devem estar mais atentas para desenvolvimento e implementação concreta desses conceitos dentro de suas realidades.

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Não obstante, dado que o ESG tem sido valorizado por todos os setores da sociedade, observa-se que a popularização da pauta também se fez presente nas parcerias entre empresas e organizações da sociedade civil, no caso destas que "se dedicam historicamente a essas temáticas e sabem quais são as oportunidades que existem para tratar dessas questões sendo importantes aliadas nas pautas ESG", tal como apontado por Jair Resende, superintendente socioeducativo da Fundação FEAC[7]. Desse modo, considerando a trajetória do ESG e o modo pelo qual diferentes atores e organizações têm se debruçado sobre a pauta, é essencial ter em mente que - bem como defendido por Leila Loria, membra do conselho da JBS e presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC): "Só cumprir a lei e uma agenda para o tema não é diferencial, é o mínimo."

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Ou seja, as iniciativas ligadas às questões ambientais, sociais e de governança devem ter credibilidade e consistência, isto é, não podem servir apenas como estratégias de campanhas pontuais ou de marketing uma vez que devem visar a promoção de mudanças significativas e atuarem como um efeito multiplicador. Ademais, é importante que as ações desempenhadas nas três esferas - ESG - interajam e tenham relação entre si. Como dito por Joanita Karoleski, presidente do Fundo JBS pela Amazônia, não adianta desenvolver pautas, como o desmatamento em determinadas comunidades, se não forem consideradas formas de se oferecer uma condição de vida adequada para as pessoas que habitam ali. Mesmo porque, quando pensamos em ações de sustentabilidade, sem integração e consistência dificilmente teremos organizações e iniciativas realmente transformadoras e ao mesmo tempo perenes.

Por fim, se não é de hoje que as questões socioambientais são reconhecidas como relevantes e necessárias, a pandemia tornou ainda mais urgente a implementação de boas práticas. A atual situação vivida globalmente nos mostrou como as organizações estão diretamente conectadas com a sociedade e como os riscos ESG podem impactar muito rapidamente todo o sistema econômico mundial uma vez que a crise afeta quase todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estipulados pela Organização das Nações Unidas (ONU), além de atingir diretamente a saúde da população e a disponibilidade dos serviços.

Sendo assim, o tema deve ser tratado e valorizado na ordem do dia. Um ambiente mais colaborativo e consciente, seja ele público ou privado, está florescendo e é pautado por propósitos de geração de valor benéficos a todos os envolvidos. Em um mundo em que as expectativas da sociedade são crescentes, a incorporação dos aspectos ESG ganha notoriedade e vantagem competitiva, explicitando ainda a essencialidade de sustentar uma cultura de maior empatia e comprometimento com os aspectos socioambientais, considerados crônicos no mundo. Em suma, o ESG precisa ser encarado pelos gestores privados e públicos como uma realidade e como um caminho sem volta.

Notas

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[1] EXAME. De onde surgiu o ESG? Disponível em: https://invest.exame.com/esg/de-onde-surgiu-o-esg > Acesso em 26 de novembro de 2021.

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[6] ESG e Sociedade Civil. Disponível em: https://feac.org.br/tematica-esg-pode-fortalecer-parcerias-entre-empresas-e-sociedade-civil/ > Acesso em 12 de dezembro de 2021.

[7] Temática ESG e Sociedade Civil. FEAC. Disponível em: https://feac.org.br/tematica-esg-pode-fortalecer-parcerias-entre-empresas-e-sociedade-civil/ > Acesso em 12 de dezembro de 2021.

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