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Gilmar Mendes diz que Deltan Dallagnol ‘já pode fundar uma igreja’ após ‘chuva de Pix’

Durante um evento do grupo Prerrogativas neste sábado, 15, ministro do STF criticou ‘modelo Moro-Dallagnol’ da Operação Lava Jato e ironizou ex-procurador que perdeu mandato de deputado

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Por Isabella Alonso Panho
Atualização:

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes ironizou o ex-deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR), neste sábado, 15, ao afirmar que ele “já pode fundar uma igreja” por causa da “chuva de Pix” que Dallagnol disse ter recebido após ter o mandado cassado.

A declaração do ministro ocorreu durante um evento online do Prerrogativas, grupo de advogados criado para atuar contra decisões classificadas por eles como arbitrárias no âmbito da Operação Lava Jato. “É o novo contato com a espiritualidade, a espiritualidade do dinheiro”, disse Gilmar Mendes.

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Em nota enviada ao Estadão, o ex-deputado rebateu a fala do ministro, dizendo que ele “não vive o amor de Deus” e foi “intolerante” com as religiões. “E respondendo sua tosca provocação: eu prefiro fundar uma igreja do que fundar um clube de proteção aos mais corruptos e criminosos do Brasil”, escreveu Dallagnol.

No dia 12 de junho, Deltan Dallagnol publicou um vídeo nas suas redes sociais agradecendo as transferências via Pix que recebeu de seus apoiadores, chamando o gesto de “expressão de solidariedade” e os doadores de “agentes de Deus em sua vida”.

“Imaginei Deus respondendo o seguinte: quando foi que eu permiti que você e sua família fossem tocados? Quando você foi condenado a pagar mais de R$ 100 mil por conta do powerpoint, eu não fiz chover mais de 12 mil pix em menos de 36 horas na sua conta? Não foi mais de meio milhão de reais sem você abrir a boca para pedir? Quando você viu qualquer coisa parecida, homem de pequena fé? Não tema. Seja forte e corajoso”, disse o ex-procurador da Lava Jato na ocasião.

O evento era um tributo ao ministro do Supremo Sepúlveda Pertence, que faleceu no começo de julho. Ao lado do advogado e ex-ministro da Justiça de Dilma Rousseff (PT), Eugênio Aragão, e do procurador-geral da República aposentado Aristides Junqueira, Gilmar relembrou feitos do ministro e momentos marcantes da sua carreira, sobretudo na luta pelos valores democráticos.

Parte das falas do ministro, no entanto, foi dedicada a críticas do que chamou de “modelo Moro-Dallagnol”. Além da fala sobre o ex-procurador fundar uma igreja, ele citou a atuação da força-tarefa da Lava Jato como um modelo a ser evitado. “O que eu diria para as novas gerações? Mirem naquilo que não deu certo. O modelo Moro-Dallagnol deu errado. Vamos salvar o Judiciário desse grande escândalo. Não acreditem que são o quarto poder, porque não são.”

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O ministro também criticou as investigações em andamento sobre o fundo da Lava Jato - que reunia valores apreendidos nos casos que entraram na mira da força-tarefa. Gilmar disse que a 13ª Vara de Curitiba teria decidido sozinha o destino de R$ 5 bilhões. “Se alguém depositasse um dinheiro em uma vara, ou tivesse a conta do meu gabinete, eu diria ‘não é meu (o dinheiro), não posso destiná-lo’. No limite, isso tem que ir para o cofre do tesouro. Veja, a que ponto chegamos de degenerescência”, disse o ministro.

O que disse Deltan Dallagnol?

A reportagem entrou em contato com Deltan Dallagnol, que, através da sua assessoria, enviou a seguinte nota:

Gilmar Mendes ofende de uma só vez os cristãos, as igrejas e os brasileiros de bem que apoiam o combate à corrupção. É triste ver um ministro do Supremo chegar a um nível tão baixo a ponto de atacar a fé das pessoas, em um ato de intolerância religiosa tão desprezível.

Talvez, por não viver o amor de Deus, ele não consiga entender o que é uma demonstração de amor, fé e compaixão dos milhares de brasileiros que foram solidários naquela ocasião. E respondendo sua tosca provocação: eu prefiro fundar uma igreja do que fundar um clube de proteção aos mais corruptos e criminosos do Brasil.

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