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Lira anuncia apoio a Motta em reunião com líderes partidários e Elmar tenta se aproximar de Lula

Presidente da Câmara dá aval a deputado do Republicanos para sua sucessão em acordo construído com Palácio do Planalto

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Foto do author Vera Rosa
Foto do author Iander Porcella
Atualização:

BRASÍLIA – O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), vai apoiar a candidatura do deputado Hugo Motta, líder do Republicanos, à sua sucessão. A entrada de Motta na disputa marca uma reviravolta no cenário político e provocou racha no Centrão.

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Pouco depois de Lira ter anunciado para líderes de partidos o apoio a Motta, nesta quarta-feira, 11, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com o deputado Elmar Nascimento (BA), no Palácio do Planalto. Líder do União Brasil na Câmara, Elmar era o favorito de Lira para ocupar sua cadeira, mas acabou sendo escanteado.

Na semana passada, o presidente da Câmara acertou com Lula o nome de Motta como sendo o “candidato da unidade”. Motta entrou no páreo após a desistência do presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP). Só que, ao contrário do previsto, os outros concorrentes não aceitaram retirar suas candidaturas.

Lira diz que Hugo Motta é candidato da unidade Foto: MARIO AGRA AGENCIA CAMARA

Elmar disse a Lula que se mantém na disputa e reafirmou sua disposição de diálogo com o governo. Sua campanha já conta assessoria e propaganda nas redes sociais. Em julho, ele fez uma festa de aniversário que reuniu 12 ministros e parlamentares de todos os partidos, além do vice Geraldo Alckmin. Ao som da banda Timbalada, alguns convidados o chamavam de “presidente”.

Acompanhado dos ministros Celso Sabino (Turismo) e Juscelino Filho (Comunicações), indicados para os cargos pelo União Brasil, Elmar chegou ao gabinete de Lula, no terceiro andar do Planalto, disposto a mostrar que não era um ‘longa manus’ de Lira.

“Reafirmei meu compromisso de promover um diálogo aberto e transparente, essencial para a construção de uma ampla coalizão que garanta a governabilidade do país”, escreveu o deputado, em mensagem postada na plataforma Threads. Mais tarde, ele reuniu integrantes da bancada, na sede do partido, e afirmou aos correligionários que a conversa com o presidente havia sido positiva. Além de Turismo e Comunicações, o União Brasil comanda o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, dirigido por Waldez Góes.

Preterido por Lira, Elmar fez um acordo com Antônio Brito, líder do PSD, que também não abriu mão de concorrer à presidência da Câmara. Na segunda-feira, 9, ele e Brito jantaram na casa do ministro do Turismo e fecharam uma aliança. “O que eles conversaram ali foi no sentido de os dois continuarem candidatos. E, lá na frente, aquele que estiver mais viável será apoiado pelo outro, ainda no primeiro turno”, afirmou Sabino.

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Foi também esse ponto que Elmar destacou para Lula, nesta quarta-feira. Como mostrou o Estadão, o presidente tem dito – e repetiu para o deputado – que não vai tomar partido na disputa do Congresso. “Recebi do presidente a garantia de que ele não interferirá nas eleições na Câmara, o que demonstra sua liderança republicana e de respeito pelas instituições”, assinalou Elmar. Na prática, porém, os movimentos de Lula indicam que ele atuou, nos bastidores, para desidratar a candidatura do União Brasil, o que provocou revolta no partido.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, negou que o governo tenha agido para derrubar Elmar. “O presidente Lula respeita o processo da Câmara e eu, como deputado que sou (licenciado), também”, disse Padilha ao Estadão. “Hugo Motta, assim como todos os outros candidatos, tem todas as qualidades para presidir a Câmara. E nós vamos torcer para que o escolhido represente a maior unidade possível, pois a nossa expectativa sempre será a de continuidade das votações para mantermos o ciclo de crescimento no País”, completou Padilha.

As eleições que vão renovar o comando da Câmara e do Senado estão marcadas para fevereiro de 2025, mas a disputa está cada vez mais acirrada. No Senado, o cenário é mais tranquilo porque a vitória de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), candidato do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), é considerada “pule de dez”.

Além disso, todas as atenções estão voltadas para a sucessão de Lira porque é o presidente da Câmara que tem o poder para autorizar ou engavetar pedidos de impeachment contra o chefe do Executivo.

A portas fechadas, Elmar não esconde que se sente traído por Lira, até então seu melhor amigo. Na tentativa de obter apoio do governo, o deputado fez um gesto na direção do Planalto ao orientar a bancada do União Brasil a barrar, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o avanço do projeto que prevê anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro do ano passado.

Para conquistar o aval do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, Lira fez o caminho inverso e pediu a deputados do PP que aprovassem a proposta. Mas, após muito bate-boca na sessão de terça-feira, 10, os aliados do governo conseguiram impedir a votação.

O apoio à anistia para os bolsonaristas virou moeda de troca na campanha dos candidatos à presidência da Câmara. O Planalto é contra o projeto, visto como questão de honra para o PL de Bolsonaro.

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Lira participou nesta quarta-feira, 11, do almoço de aniversário de Motta, que completou 35 anos, no restaurante Marie, em Brasília. A seu lado estavam líderes de sete partidos, entre os quais o PT de Lula.


“O presidente da Câmara, Arthur Lira, nos informou que apoia Hugo Motta para sua sucessão como um nome qualificado para a construção da unidade na Casa”, contou o líder do PT, Odair Cunha (MG).

Se por um lado o fator Motta dividiu o Centrão, por outro serviu para unir, de forma pragmática, as cúpulas do PT e do PL em torno de um mesmo candidato. Agora, todos negociam espaços na Mesa que dirige os trabalhos da Câmara e já mostram interesses por determinadas comissões.

“Eu, pessoalmente, acho que Motta reúne todas as condições para presidir a Câmara”, afirmou o deputado Altineu Côrtes (RJ), líder do PL, avisando que consultará a bancada após as eleições municipais.

Embora nem todos no PL queiram votar em Motta, a tendência é que Bolsonaro entre em campo para selar o acordo, em troca do apoio ao projeto de anistia aos condenados do 8 de janeiro de 2023.

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