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Lula se encontra hoje com os próximos comandantes das Forças Armadas

Com uma semana de atraso, expectativa é que o presidente eleito confirme a indicação dos oficiais-generais e manifeste ser prioridade encerrar os atos de viés antidemocrático no entorno do Quartel-General (QG) do Exército e unidades militares pelo País

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Por Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu nesta sexta-feira, dia 16, pela primeira vez, com os futuros comandantes das Forças Armadas. A expectativa é que o presidente confirme agora a indicação dos nomes dos oficiais-generais já escolhidos em conversa prévia com José Múcio Monteiro, próximo ministro da Defesa. Como o Estadão revelou, Lula também deve manifestar aos comandantes que entende ser urgente pôr fim aos atos de viés antidemocrático no entorno do Quartel-General (QG) do Exército e unidades militares pelo País.

O general de Exército Julio Cesar de Arruda, o almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen e o tenente-brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno participaram da primeira conversa cara a cara com Lula. A lista de comandantes indicados foi confirmada ao Estadão pelo futuro ministro da Defesa. E também foi comunicada extraoficialmente aos respectivos altos comandos.

Bolsonaristas acampados em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília Foto: André Borges/Estadão

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O encontro, adiado por uma semana, ocorreu no fim da manhã, em Brasília. Lula tem recebido seus colaboradores de governo e feito reuniões, de forma reservada, num hotel onde se hospeda e despacha, na capital federal. Os militares e o futuro ministro entraram e saíram do hotel sem falar com a imprensa. Estavam sem farda.

Sete dias atrás, Lula disse que pretendia discutir o “futuro do País” com os próximos comandantes. O presidente eleito afirmou ainda que as Forças Armadas não devem fazer política, mas se ater a seu papel constitucional de Defesa da soberania nacional e do povo brasileiro.

Antes disso, Lula confidenciou a deputados aliados do partido Avante a intenção de acabar o quanto antes com os atos que cobram intervenção militar. Eles são promovidos em frente ao QG, conhecido como Forte Apache, por bolsonaristas insatisfeitos com sua vitória nas urnas. Segundo relataram integrantes do partido, o presidente eleito disse que o acampamento pró-golpe é desrespeitoso com as próprias Forças Armadas.

A pressão política aumentou depois da destruição organizada por extremistas na noite de segunda-feira, dia 12, em Brasília. O governo do Distrito Federal disse ter identificado que bolsonatistas acampados em frente à sede do Exército promoveram os crimes. Eles permanecem em área militar - e haviam recebido o respaldo da atual cúpula do Exército, da Marinha e da Aeronáutica em carta conjunta assinada pelos comandantes do governo Jair Bolsonaro, desde que não houvesse “excessos”.

Naquela noite, um grupo violento incendiou ônibus e carros, espalhou botijões de gás perto das chamas, destruiu mobiliário urbano, montou barricadas e entrou em confronto com a polícia. Bolsonaristas tentaram empurrar um ônibus de cima de um viaduto e invadir a sede da Polícia Federal, após a prisão do cacique José Acácio Serere Xavante. Ninguém foi preso.

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Ontem, um general de alta patente disse que, assim como Lula, integrantes da cúpula também entendem que o acampamento bolsonarista no QG tem de acabar. Segundo esse oficial, que falou sob anonimato, o protesto já se estendeu demais e já ficou clara a inconformidade dos manifestantes com a eleição de Lula e o Judiciário. Ele também considerou que os atos criminosos de extremistas não irão se repetir - na visão de aliados de Lula, as práticas poderiam ser enquadrados como terrorismo.

Adiamento

O encontro entre Lula e os generais foi adiado por uma semana, segundo o futuro ministro da Casa Civil, Rui Costa, para que houvesse uma visita prévia do futuro ministro à sede da Defesa. Nesse intervalo, José Múcio fez sua primeira reunião formal com o atual ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e conheceu os demais integrantes da cúpula, o secretário-geral da Defesa, general Sérgio José Pereira, e o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, general Laerte de Souza Santos. O encontro foi considerado positivo por militares.

José Múcio operou para demover os atuais titulares dos comandos de Força, nomeados por Jair Bolsonaro, de deixarem seus cargos antes da posse presidencial, em 1º de janeiro. Ele argumentou que as passagens de comando deveriam seguir a praxe. A articulação deu certo. O comandante da Força Aérea, brigadeiro Baptista Júnior, que havia se antecipado e agendado a cerimônia para 23 de dezembro postergou a troca para 2 de janeiro.

Explicou que os futuros comandantes foram selecionados da maneira mais “tradicional” possível, com base em lista tríplice de antiguidade. Somente na Marinha o segundo mais experiente assumiu o comando-geral, porque o primeiro da fila, o almirante de Esquadra Renato Aguiar Freire, vai assessorar Múcio como chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Lula afirmou, na ocasião, ter confiança no trabalho de Múcio e certeza de que ele escolheria os “melhores comandantes”.

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