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Labirintos da Política

Opinião|Aliados sabiam que Bolsonaro temia a prisão, mas não até onde ele poderia ir para evitá-la

Pessoas próximas dizem que episódio da ida à Embaixada da Hungria após a perda do passaporte se deu porque o ex-presidente estaria preocupado com o avanço das investigações sobre Braga Netto

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Foto do author Monica  Gugliano
Atualização:

Dia após dia, fato novo atrás de fato novo, cada vez fica mais claro que o ex-presidente Jair Bolsonaro não está muito preocupado com as leis e regras do País que ele comandou. Não bastasse tramar um golpe de Estado com seus assessores mais próximos para não passar o governo ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, agora se descobre que o ex-presidente, mesmo sem passaporte, se abrigou durante dois dias na Embaixada da Hungria, conforme revelou reportagem do jornal The New York Times.

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Que Bolsonaro tem medo de ser preso – assim como os generais Braga Netto e Augusto Heleno – até as calçadas de Brasília já sabem. O que não se sabia até a Operação Tempus Veritatis, conduzida pela Polícia Federal, é até que ponto ele é capaz de desafiar as instituições e agir como melhor lhe convém, mesmo tendo medo da prisão. O pior são as explicações que ele dá para seus atos.

Quatro dias após a Polícia Federal confiscar seu passaporte, Bolsonaro se hospedou na residência oficial da Hungria, segundo ele mesmo disse, a convite para conversar com políticos sobre “os cenários políticos das duas Nações”. As “conversas” aconteceram entre os dias 12 e 14 e o Itamaraty, ainda nesta segunda-feira, 25, decidiu convocar o embaixador da Hungria no Brasil, Miklós Halmai.

Jair Bolsonaro terá 48 horas para explicar ida à Embaixada da Hungria em meio às investigações sobre tentativa de golpe de Estado Foto: TABA BENEDICTO/Estadão

Durante seu mandato, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, foi um dos poucos chefes de Estado e de Governo com quem Bolsonaro conseguiu ter uma relação durante seu mandato. Ministros e assessores costumavam viajar para a Hungria com quem construíram uma aliança contra o aborto, a descriminalização das drogas e a agenda de costumes.

Bolsonaro, segundo pessoas próximas, esteve na embaixada porque estaria preocupado com o avanço das investigações sobre Braga Netto. Soma-se a isso a nova prisão de seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid, ocorrida já depois da visita. De acordo com investigadores, já está mais do que claro que Braga Netto teve um papel central na mobilização e como influenciador no Exército. O general tinha também um papel político importante, inclusive nas redes sociais, conforme mostraram mensagens reveladas pelos celulares que atacavam o então comandante do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, e o da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Junior. Ambos se recusaram a participar da aventura golpista de Bolsonaro e sua turma. Por causa disso, passaram a ser atacados nas redes sociais.

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O mesmo aconteceu com o comandante do Exército, general Tomás Paiva, o diretor do Departamento de Educação e Cultura do Exército, Richard Nunes, e o general Valerio Stumpf. Chamados de melancias, todos foram vítimas de ataques nas redes sociais, estimulados por Braga Netto, descontente por eles se negarem a aderir a proposta de golpe.

Bolsonaro, além de estar proibido de falar com Braga Netto, não mais pode contar com seu ex-companheiro de chapa na eleição para absolutamente nada. As mensagens descobertas em seu celular, criticando seus colegas, pegaram muito mal no Exército. Do mesmo jeito que a informação passada por seus advogados no domingo de que ele não teria nenhuma responsabilidade na escolha e nomeação do delegado Rivaldo Barbosa para chefiar a Polícia Civil durante a intervenção na segurança do Rio de Janeiro, em 2018.

Agora Braga Netto, mais uma vez aproveitou para tentar alvejar um dos seus desafetos, que não concordou com a proposta do golpe. Sem o menor constrangimento, passou a bola para o então secretário de Segurança, general Richard Nunes, alegando que a escolha fora de seu subordinado. Barbosa foi preso no domingo, 24, suspeito de planejar o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Sem polemizar, Nunes disse à coluna: “Fui eu que escolhi, sim, com as informações que eu tinha naquele momento”.

Opinião por Monica Gugliano

É repórter de Política do Estadão. Escreve às terças-feiras

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