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Labirintos da Política

Opinião|Retrato de ato de Lula pelo 8 de Janeiro não é nada animador para País partido ao meio

‘Democracia Inabalada’ revela mais pelos ausentes do que pelos presentes à solenidade

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Foto do author Monica  Gugliano
Atualização:

O retrato da solenidade deste 8 de janeiro revela muito mais por quem não estava na foto do que pela República que, em primeiro plano, compareceu em peso, ao Salão Negro do Congresso Nacional. E a imagem não é nada animadora para um País que, um ano depois da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), continua partido ao meio. Com a visão de que a solenidade era um “festejo petista”, liderado por Lula, não estiveram presentes a maioria dos governadores do Sul e Sudeste, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que se justificou alegando problemas de saúde na família e virou a ausência mais sentida.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), que chegou a ser afastado das suas funções após os ataques de 8 de janeiro pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, afirmou estar de férias. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Jair Bolsonaro, está na Europa. O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), e o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), não confirmaram presença. Já o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), enviou um ofício a Lula agradecendo pelo convite e afirmando que não poderia participar por conta de “compromissos previamente agendados”. Na região, apenas o governador do Rio Grande do Sul, o tucano Eduardo Leite foi uma exceção.

Evento em Brasília reuniu autoridades para lembrar dos atos de 8 de janeiro, mas contou com ausência de governadores Foto: Sergio Dutti/Estadão

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O “mico” do dia ficou por conta do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que, pela manhã, chegara a confirmar sua presença. Mas, à tarde, mesmo estando em Brasília, mudou de ideia. Segundo apurou a reportagem do Estadão, Zema foi pressionado por lideranças do Novo para não comparecer ao evento. Ele publicou um vídeo no Instagram para se justificar, alegando que pretendia participar de um “evento institucional”. Porém, disse ele, recebera informações de que se tratava de um “ato político” e afirmou: “Não irei mais”.

De fato, se considerarmos que a tentativa de golpe, por meio da destruição dos prédios públicos, instabilizando as instituições, foi liderada por seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro, não faria muito sentido a presença de políticos da oposição mais radical ao atual governo em um ato denominado “Democracia Inabalada” e liderado por Lula, os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso e do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco.

Este ano, é bom não esquecer, tem eleições municipais, e as pessoas que continuam alimentando as redes sociais com fake news ou invencionices de todo tipo podem não gostar de ver seus políticos próximos à oposição.

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Mas esse eleitorado radical que talvez esses políticos não tenham querido desgostar acabou se transformando em uma pequena ilha que hoje desapareceu das ruas e mantém seu enclave nas redes sociais, onde se retroalimenta. Caberia a esses governadores e outros decidir para que lado do eleitorado conservador eles querem acenar e com quem querem contar.

Pesquisa Quaest, divulgada neste fim de semana, mostra que 89% dos entrevistados em todo o País condenam os atos golpistas de 8 de Janeiro. Um percentual quase igual ao de fevereiro do ano passado quando a reprovação era de 94%. Outro levantamento, este feito pela Atlas, mostra que 74% discordam da ação dos manifestantes, 14,6% concordam e 11,2% não sabem. Se o objetivo desses políticos for, nas eleições municipais, arrebanhar votos nesses grupos de direita ou nessa minoria golpista, talvez, eles estejam criando dificuldades para suas próprias candidaturas.

Opinião por Monica Gugliano

É repórter de Política do Estadão. Escreve às terças-feiras

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