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Labirintos da Política

Opinião|Maduro impõe novo constrangimento a Lula ao criar província na região de Essequibo, na Guiana

Venezuelano gerou desgaste para o brasileiro ao deixar de cumprir o que prometeu, assim como fez no episódio da disputa eleitoral naquele país

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Foto do author Monica  Gugliano
Atualização:

Até agora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva só tem entrado em furada sempre que acredita na conversa do seu colega venezuelano Nicolás Maduro. Literalmente, o que Maduro fala não se escreve, como diz o ditado popular. E as promessas feitas por ele, sempre que o brasileiro – um dos poucos interlocutores que ainda restam ao sucessor de Hugo Chaves – tenta mediar alguma crise, caem por terra.

Desta vez, Maduro voltou com a questão do Essequibo, 70% do território da Guiana que ele quer anexar. Ontem, o presidente venezuelano promulgou a lei que cria uma província do seu país na região, alegando que os Estados Unidos estão instalando bases na região. O governo da Guiana reagiu imediatamente dizendo que Maduro ignora “os princípios mais fundamentais do direito internacional” e contradiz o acordo bilateral de tratar o assunto sem “provocações ou interferências de terceiros”.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tem criado constrangimentos para o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República/Divulgação

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Sobrou para o Brasil, que empatou sua diplomacia tentando um acordo . O compromisso fora assumido por Maduro e o presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, em um encontro nas ilhas de São Vicente e Granadinas em dezembro, mediado pelo Brasil e pelos países caribenhos. Maduro, mais uma vez, afirmou algo que não cumpriria: manter o diálogo diplomático.

A primeira menção de Lula sobre o caso foi feita no começo de dezembro passado, após a Venezuela realizar um referendo para anexar o território rico em petróleo. O presidente brasileiro disse à época esperar “bom senso” do lado da Venezuela e da Guiana sobre a tentativa de anexação. Segundo Lula, nem o mundo nem a América do Sul “estão precisando agora de confusão”

Na cúpula do Mercosul, realizada no Rio de Janeiro no dia 7 de dezembro passado, o presidente afirmou que o bloco “não pode ficar alheio a essa situação (de Essequibo)” e que não queria “que esse tema contamine a integração regional ou ameace a paz e a estabilidade”. O assunto foi tratado ainda com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, que telefonou ao chanceler Mauro Vieira para agradecer a liderança do Brasil na busca de uma solução pacífica.

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Foi assim também com as eleições venezuelanas, um imbróglio que já fez Lula perder a paciência. No dia 1º de março, Maduro disse ao presidente brasileiro que as eleições venezuelanas seriam marcadas para o segundo semestre deste ano e, depois de um “amplo acordo com a oposição”, o pleito teria observadores internacionais e seria feita uma auditoria nos resultados. A data escolhida foi o 28 de julho, dia do aniversário de Chaves, e a promessa foi feita para tentar diminuir o mal-estar com o cancelamento da candidatura da opositora Maria Corina Machado, em janeiro.

Impedida de concorrer, Maria Corina ainda levou um sabão de Lula que, comparando-se a ele mesmo, sugeriu à candidata que parasse de reclamar e achasse um substituto. Pois foi o que ela fez. Mas sua substituta, Corina Yoris, que concorre pela Plataforma Democrática Unitária, tampouco conseguiu registrar sua candidatura. O governo brasileiro não deixou passar e divulgou uma nota, na terça-feira passada, manifestando preocupação com o andamento das eleições marcadas para julho. O tom foi considerado bastante forte, pois Lula não costuma adotar gestos mais duros com o vizinho.

Mas, por enquanto, não passou disso. Resta esperar para ver como Lula vai reagir a mais nova provocação de Maduro.

Opinião por Monica Gugliano

É repórter de Política do Estadão. Escreve às terças-feiras

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