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PSDB sofre mais uma baixa com desfiliação de um de seus fundadores

Marcus Pestana, que estava no partido desde 1988, deixa fileiras tucanas após ser convidado por Pacheco para assumir comando da Instituição Fiscal Independente (IFI)

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Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa
Atualização:

BRASÍLIA – Em prolongada crise de identidade, o PSDB sofreu mais uma baixa. Trinta e oito dias depois de ter divulgado uma carta aberta dizendo que o centro democrático vinha sofrendo “grave esvaziamento” desde 2018, o ex-deputado federal Marcus Pestana (MG), um dos fundadores do partido, deixou a legenda. Pestana foi convidado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para assumir o cargo de diretor-executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI).

A resolução do Senado que criou a IFI, em 2016, proíbe o exercício de outra atividade profissional ou filiação político-partidária. Em ofício enviado ao governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que é presidente nacional do PSDB, Pestana comunicou sua decisão de sair, após 35 anos de filiação. A escolha para o comando da IFI ainda precisa passar por uma sabatina do indicado no Senado.

Carta assinada por Marcus Pestana, ex-secretário-geral do PSDB, com pedido de desfiliação do partido. Foto: Reprodução

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Conhecido como um dos formuladores do partido, Pestana havia proposto, no mês passado, que o PSDB e o Cidadania – legendas já unidas em federação – não apenas compusessem um bloco com o PSB, o PDT e o Solidariedade como caminhassem a passos largos para uma fusão. A ideia incomodou a ala majoritária do PSDB, que defende o casamento de papel passado com o MDB e o Podemos.

“Mas eu não saí por causa disso”, disse ao Estadão o ex-deputado, que foi secretário-geral do PSDB quando Geraldo Alckmin, então governador de São Paulo e hoje vice-presidente, comandava o partido.

Debandada

Alckmin deixou o PSDB em dezembro de 2021, na esteira de uma crise interna, após 33 anos na legenda, e migrou para o PSB. Dez meses depois, em outubro de 2022, o ex-governador João Doria também saiu do PSDB. Desafeto de Alckmin, Doria foi pressionado a retirar sua candidatura à Presidência, no ano passado, quando os tucanos decidiram apoiar Simone Tebet (MDB), hoje ministra do Planejamento.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, preside do PSDB e é visto como representante da nova geração no partido. Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini

“Decidi sair do PSDB porque recebi convite para uma função técnica e a resolução do Senado exige esse desligamento”, afirmou Pestana. “Porém, eu também sairia se o partido, que era de centro-esquerda, caminhasse de vez para a direita. O PSDB não sobreviverá com essa falta de nitidez, de presença e de excesso de ambiguidade”, emendou. Para ele, a “bola” tucana está agora nas mãos de Eduardo Leite e da governadora de Pernambuco, Raquel Lira, que representam a nova geração.

Como mostrou a Coluna do Estadão, a cúpula do PSDB calcula que perderá metade dos prefeitos de cidades paulistas, em 2024, se não conseguir estancar a debandada. O partido chegou a ter 245 prefeitos no Estado de São Paulo, mas 30 já se desfiliaram.

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Assédio

Aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) – que tanto pode concorrer à reeleição como disputar o Palácio do Planalto, em 2026 – já começou a atrair muitos prefeitos para o seu grupo político. O PSD de Gilberto Kassab, que ocupa a Secretaria de Governo e tem o vice-governador, Felício Ramuth, também vem assediando tucanos.

No ano passado, Pestana e o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) foram vencidos ao defender uma candidatura própria do PSDB ao Planalto. “Em 2022, poderíamos ter tido Doria ou Eduardo Leite como candidatos, mas o partido renunciou ao protagonismo quando definiu o apoio a Simone”, argumentou o ex-deputado, que concorreu ao governo de Minas. “Para time que não entra em campo a torcida não desfralda a bandeira.”

A maior derrota do PSDB, porém, foi na disputa pela sucessão no Bandeirantes. Depois de 28 anos ininterruptos no comando do governo de São Paulo, o partido perdeu a “joia da coroa” para Tarcísio, um carioca que estreou nas urnas naquela eleição e instalou um polo bolsonarista no Estado.

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