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Quem é o deputado Delegado da Cunha, acusado de agressão por namorada

Polícia Civil de São Paulo já pediu duas vezes a demissão do delegado, que, entre auxílios e salário, recebe da Câmara mais de 34 salários mínimos

Foto do author Isabella Alonso Panho
Por Isabella Alonso Panho

Carlos Alberto da Cunha, conhecido como Delegado da Cunha, é um deputado federal eleito em 2022 para o primeiro cargo eletivo pelo Progressistas (PP) de São Paulo. Ele faz parte de uma onda de candidatos policiais e delegados influencers que conquistaram o seu eleitorado em cima de uma abordagem conservadora sobre a pauta de segurança pública.

Na comemoração do aniversário de 46 anos dele, no último sábado, 14, Da Cunha teria agredido sua esposa, a nutricionista Betina Raísa Grusiecki Marques. De acordo com informações do boletim de ocorrência registrado por ela, o deputado a xingou, ameaçou matá-la, bateu sua cabeça na parede e tentou enforcá-la. A vítima diz que chegou a desmaiar por causa das agressões e pediu uma medida protetiva, para que Da Cunha não possa se aproximar ou fazer contato.

O Conselho da Polícia Civil de São Paulo já aprovou dois pedidos de demissão de Da Cunha Foto: Reprodução/YouTube/Delegado da Cunha

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A bandeira policialesca na qual se ancora a carreira política de Da Cunha fica clara pela forma como ele se porta nas redes sociais. A plataforma em que ele mais tem seguidores é o YouTube, na qual 3,6 milhões de perfis acompanham desde 2013 vídeos que mostram o dia-a-dia da Polícia Civil de São Paulo.

“Um canal de documentários retratando a Rotina da Polícia Civil de SP no combate ao crime organizado e às facções criminosas. O objetivo do canal é produzir conteúdo cultural para incentivar jovens a ingressar na honrosa carreira policial e se afastar do crime organizado”, diz a descrição do canal, que leva o nome do deputado.

Da Cunha tem 3,6 milhões de seguidores no seu canal do YouTube, no qual publica vídeos de operações policiais  Foto: Reprodução/YouTube/Delegado Da Cunha

Apesar de usar o título de delegado - que, diferente de juízes e promotores, não é vitalício - Da Cunha está afastado da Polícia Civil paulista desde junho de 2021. O Conselho da corporação finalizou dois processos administrativos pedindo a demissão dele. O primeiro, concluído em junho de 2022, aponta que o deputado forjou a prisão de um suposto líder do PCC e divulgou a diligência no seu canal do YouTube sem aval dos seus superiores. O material foi visto mais de 30 milhões de vezes e, no curso do processo administrativo, Da Cunha confessou a farsa.

O segundo pedido de demissão, de agosto do mesmo ano, teria como causa críticas públicas que Da Cunha fez a superiores hierárquicos. Como o cargo de delegado é público, depende de aprovação em concurso e nomeação pelo governador do Estado, a demissão precisa passar pelo mesmo rito. Tarcísio de Freitas (Republicanos) herdou o caso de Da Cunha e de outro delegado influencer que também foi para a política, o deputado federal Paulo Bilynskyj, filiado ao PL de Jair Bolsonaro.

Como mostrou o Estadão, Tarcísio tem segurado esses processos administrativos, sem dar a eles um desfecho. No começo do ano, ele esteve reunido com Da Cunha, que também foi recebido pelo secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite. Em julho deste ano, o delegado-geral de Polícia, Artur José Dian, decidiu devolver a arma e o distintivo de Da Cunha. O gesto não anula os pedidos de demissão, mas sinaliza acolhimento do deputado.

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Como delegado de polícia da 1ª classe, Da Cunha recebia R$ 17 mil. Ele é bacharel em direito pela Universidade Católica de Santos, graduação que é um dos requisitos do concurso. Hoje, como deputado federal, a remuneração dele é de R$ 41,6 mil brutos - duas vezes e meia a mais.

Além disso, de acordo com o que consta no site da Câmara dos Deputados, Da Cunha recebe R$ 4,2 mil de auxílio moradia. Somando todos os rendimentos, é como se o deputado recebesse todos os meses mais de 34 salários mínimos.

Da Cunha recebe, como deputado, duas vezes e meia o que ganhava como delegado. Entre auxílios e salário, seus rendimentos ultrapassam 34 salários mínimos  Foto: Billy Boss/Agência Câmara

A medida protetiva solicitada pela esposa do deputado não influencia a sua permanência no cargo. Isso porque, juridicamente, ela funciona como uma cautelar acessória da investigação criminal por violência doméstica, como se fosse um “penduricalho”. Da Cunha pode perder a cadeira na Câmara apenas se for condenado pelas agressões, depois que terminarem todas as possibilidades de recurso. Por enquanto, o caso ainda está em fase de inquérito. A reportagem tenta contato com o parlamentar. Ele tem negado as acusações.

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