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Curiosidades do mundo da Política

Copacabana, local de ato de Bolsonaro, é berço de eventos que vão de revolta militar a Parada LGBT+

Antes de ascensão de Jair Bolsonaro, outras manifestações políticas já ocorriam na Praia de Copacabana

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Por Zeca Ferreira

Em meio às investigações sobre uma tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) convocou uma manifestação para este domingo, 21, na Praia de Copacabana, na zona sul do Rio. O ato segue a fórmula de evento anterior em São Paulo, no dia 25 de fevereiro, no qual milhares de pessoas se reuniram em defesa do ex-mandatário na Avenida Paulista.

Não será a primeira vez que Copacabana sediará um evento do ex-presidente. Antes da ascensão de Bolsonaro, no entanto, outras manifestações políticas e sociais, como a Parada do Orgulho LGBT+, já ocorriam no local. E bem antes disso, eram as modestas procissões em homenagem a Nossa Senhora de Copacabana que se desenrolavam ao longo da orla de uma das praias mais famosas do País.

Em meio às investigações sobre uma tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) convocou uma manifestação para este domingo, 21, na Praia de Copacabana, na zona sul do Rio Foto: Fabio Motta/Estadão

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Segundo registros da Biblioteca Nacional (BN), comerciantes de prata bolivianos e peruanos trouxeram uma réplica da imagem de Nossa Senhora de Copacabana para o bairro carioca homônimo no século 17. Naquela época, porém, a região era chamada de Sacopenapã, que, em tupi, significa “o barulho e o bater de asas dos socós”, uma ave aquática que existia em abundância no território.

Em meados de 1746, comerciantes andinos construíram uma pequena igreja dedicada à santa. Depois de alguns anos, a capela de Copacabana deu nome não apenas à praia como também ao bairro carioca. Até o final do século 19, a região era de difícil acesso, com alguns pescadores, chácaras, sítios e a igreja. Em 1914, a construção religiosa foi demolida, dando lugar ao Forte de Copacabana.

Em meados de 1746, comerciantes andinos construíram uma pequena igreja dedicada a Nossa Senhora de Copacabana, no Rio Foto: Reprodução/Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil

Existem algumas versões sobre a origem do nome Copacabana. Uma vem do quíchua, língua dos Incas, significando “lugar luminoso” ou “praia azul”. Outra possibilidade vem do aimará, língua da Bolívia, significando “vista do lago”.

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Foi alguns anos antes da demolição da Igreja de Nossa Senhora de Copacabana que o bairro começou a ser integrado com o restante da cidade a partir da inauguração de túnel no Morro de Vila Rica, o Túnel Velho, em 1892. Com a expansão das linhas de bonde, o bairro começou a se desenvolver com novas ruas e casas, e, em 1906, foi criada a Avenida Atlântica ao longo da orla.

Na década de 1970, foram realizadas obras para duplicar a Avenida Atlântica e melhorar o fluxo de tráfego. O Copacabana Palace, um ícone do bairro, foi inaugurado em 1923, dando fama internacional ao bairro por sua aparição no filme “Flying Down to Rio”, de 1933. Alguns anos antes, porém, a região já havia alcançado as páginas dos principais jornais do País em decorrência da Revolta dos 18 do Forte.

Em 5 de julho de 1922, teve lugar o levante dos tenentes no Rio, um evento conhecido como a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, marcando o primeiro levante armado do movimento tenentista. O governo respondeu com uma repressão severa, resultando no massacre dos rebeldes. No entanto, longe de extinguir o tenentismo, essa derrota desencadeou uma série de outras revoltas.

Embora o Rio conte com outros locais para a realização de manifestações, como a Praça da Candelária e a Cinelândia, a orla de Copacabana tem sido o palco de atos políticos ao longo das últimas décadas. Em 25 de junho de 1995, a 17ª Conferência da Associação Internacional de Gays e Lésbicas (ILGA), foi encerrada com a realização da Marcha pela Cidadania, em Copacabana, considerada a primeira Parada LGBT+ do Brasil.

Primeira Parada do Orgulho LGBT+ do Brasil ocorreu em Copacabana, no Rio, em 1995  Foto: Tasso Marcelo/AE

Professor da Universidade de Brasília (UnB), Daniel Abreu de Azevedo pesquisa a relação entre espaço político e democracia. Em artigo na revista científica Geografares, ele explica que o espaço político é o lugar onde ocorrem as interações entre Estado e sociedade. “Nele, atos políti­cos tomam corpo, ganham visi­bilidade e podem influenciar a agenda política do poder insti­tuído”, escreveu.

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Azevedo conta ainda que essa relação está baseada nas regras de um sistema democrático, limitando a ação individual à noção de li­berdade democrática. Ele esclarece que um edifício pode adquirir caráter político ao abrigar uma Assembleia Legislativa, mas também existem situações menos evidentes. Por exemplo, uma manifestação pode converter uma avenida ou praça pública em espaço político.

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Segundo o pesquisador, Copacabana passou de um espaço público para um espaço político devido às suas características distintivas. A seleção da praia como local para manifestações leva em consideração as condições materiais de visibilidade e acessibilidade que esse espaço oferece, juntamente com a forte carga simbólica historicamente associada a uma das praias mais célebres do País.

“Se a intenção era incluir uma pauta na agenda política, a escolha do espaço para a mani­festação não pode ser feita ale­atoriamente, isto é, estratégias espaciais são necessárias para que a ação intencionada atinja seus objetivos”, escreveu Azevedo sobre uma manifestação realizadas na Praia de Copacabana por estudantes da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).

Em outras palavras, os organizadores de manifestações procuram não só lugares convenientes para o público, mas também espaços com um grande impacto na mídia, para garantir que a mensagem da manifestação alcance o máximo de pessoas possível.

Já Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), ressalta as características espaciais de Copacabana, frequentemente palco de megaeventos, como o show dos Rolling Stones em 2006, a apresentação da cantora Madonna agendada para 4 de maio, além das festividades de Réveillon.

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“Vale dizer que há um recorte de classe e raça em Copacabana, visto que é um bairro majoritariamente habitado por pessoas brancas de classe média e média alta. Esse contexto propicia o surgimento de manifestações de direita e conservadoras na região, dadas as características socioeconômicas do local”, destaca Ramirez.

Embora a Parada LGBT+ aconteça em Copacabana, o professor observa que a maioria das manifestações de esquerda ou progressistas tende a se concentrar mais no centro da cidade, na região da Candelária. Por exemplo, as manifestações estudantis contra a ditadura ocorriam principalmente no centro do Rio.

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